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PERNAMBUCANO FEMININO

Talento escondido revelado pelo Flamengo, atacante Laís ganha oportunidade no Vitória

Aos 17 anos e em disputa pelo Pernambucano, avançada deixa o Flamengo de Arcoverde pelo Vitória de Santo Antão e teve sua despedida na última quarta

postado em 13/05/2017 19:30 / atualizado em 15/05/2017 09:26

Shilton Araújo/Esp. DP
O talento de Laís estava escondido em Sertânia, a 315 quilômetros do Recife. Desde os cinco anos, esteve sempre pelos campos e quadras da cidade. Em meio a um bocado de menino, estava ela, a única menina. Divertindo-se, jogando bola. O futebol foi uma herança do pai, um “doente” torcedor do Sport que garante ter sido um exímio jogador da várzea em Pesqueira. Foi também uma brincadeira compartilhada com três amigos de infância. A paixão foi evoluindo na medida em que Laís foi crescendo. Na escola, era o destaque. Quando foi para a várzea, idem. Jogava pelas seleções das cidades vizinhas. E foi assim que, aos 17 anos, surgiu a primeira oportunidade “profissional”. O convite para disputar o Campeonato Pernambucano pelo Flamengo de Arcoverde.

Era a oportunidade que Laís precisava. O talento reconhecido em Sertânia e adjacências agora poderia ser visto em outros campos. O time está longe do profissional. Tecnicamente, com meninas muito jovens, em sua primeira experiência no futebol, deixa a desejar. Contudo, bastou um jogo. A estreia. Pela frente, uma das equipes melhores estruturadas do Estadual, o Vitória. Em meio à goleada por 12 a 1, o único gol do Flamengo de Arcoverde pode parecer insignificante. Não para Laís. Para ela, pode ter sido o início de uma nova vida. A chance de dar mais um passo em busca do sonho. O lance em que driblou a goleira e tocou para o gol chamou atenção do técnico adversário. O convite veio logo depois da partida. “Ela (zagueira) foi tirar e espirrou a bola, que sobrou para mim. Eu tive mais velocidade, consegui tirar da goleira e finalizei. Era uma oportunidade que eu não poderia perder. E foi por esse gol que eu fui para o Vitória”, conta.

Para Diego de Deus, técnico do Vitória, Laís pode ser considerada um diamante bruto. Além do trato diferenciado com a bola, também chamou atenção o bom porte físico dela. “A gente viu que a Laís é uma menina jovem, com uma estrutura boa e porte físico bom. No futebol, a gente costuma falar que pode ser um diamante para ser lapidado. Estamos trazendo ela para trabalhar fundamento, posicionamento e ter uma base melhor, porque acredito que ela possa evoluir cada vez mais e tornar-se uma jogadora de futebol de verdade”, afirma o treinador.

Laís não deixou a chance passar. Aceitou o convite e depois falou com o pai. Em 2015, ela já havia passado 15 dias sendo observada pelo Vitória. Não ficou porque teve que voltar para Sertânia para fazer as provas da escola. Agora, terá uma nova oportunidade, com direito a uma bolsa de estudos numa faculdade e salário - no Flamengo, não recebia dinheiro. “Nesse time, agora, quero evoluir mais. Sei que tem muita coisa que preciso melhorar. Finalização, posicionamento, parte física”, diz ela. “É uma grande oportunidade. Um passo bem dado, que vou aproveitar para continuar a crescer e chegar num patamar maior.”

No mesmo jogo, despedida e chegada

Ainda houve tempo para uma despedida. O segundo e último compromisso de Laís com o Flamengo foi na última quarta-feira. Numa tarde chuvosa, em Chã Grande, ela chegou com a delegação do time arcoverdense. De novo para enfrentar o Vitória. A mala veio mais cheia que o normal. Ela não voltaria para casa. Veio preparada para seguir com o novo clube. Tão logo o árbitro encerrasse o jogo, ela teria um novo destino.

A diferença técnica entre as duas equipes é enorme, como o placar do último jogo já havia deixado bastante claro. Laís teve muita dificuldade, porque a bola mal chegava aos seus pés. Assim como na época de criança, quando os meninos não queriam deixá-la participar das peladas, porque ela era melhor que eles, sua habilidade lhe condena. Foi recuada para jogar no meio de campo, quando seu melhor rendimento é no ataque, próximo ao gol. Mas a instrução do treinador foi clara, na roda antes do jogo. “Vamos jogar todo mundo atrás do meio-campo. Hoje, não vamos levar de 12 não”, alertou. A tática “funcionou”. A partida terminou em 5 a 0.

Laís lutou, correu, fez falta dura na adversária (e futura companheira), levou cartão amarelo pelo lance, não conseguiu dar nenhum chute e saiu sem gol dessa vez. Foi substituída próximo ao fim do jogo. Encerrava a trajetória pelo Flamengo de Arcoverde e iniciava uma nova história, no Vitória. Não antes, porém, de uma conversa do pai, Antônio, com a direção do clube. Queria garantir que tudo sairia certo com a filha. “Já fui lá, Paulo Roberto (presidente do Vitória) me conhece, mas vamos ver como vai ficar isso aí”, disse ao Superesportes, enquanto acompanhava o jogo.

A saída

 

No fim das contas, tudo certo. Antônio acompanhou a filha do vestiário até o ônibus. Com um beijo na testa, despediu-se. Lá dentro, as jogadoras do Vitória recepcionaram a nova companheira. Sentada na primeira poltrona, Laís tinha ar tranquilo. Está indo em busca de um futuro naquilo que sempre sonhou. “Vou para o Vitória procurando evoluir sempre, porque, quando a chance aparecer, quero estar preparada. Quero chegar na seleção, na sub-20 primeiro, porque tenho 17 anos ainda. Quero continuar abrindo oportunidades”, conta ela, que, nesse momento, fez questão de lembrar da sua mãe, que ficou em Sertânia. “Quando saí de casa hoje (quarta-feira), minha mãe ficou triste por eu estar indo, mas feliz e orgulhosa porque ela sabe que é uma coisa que eu quero desde pequena.”