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ENTREVISTA/CARLOS ALBERTO DIAS

"Vamos trabalhar para recolocar o Gama em seu devido lugar"

Novo técnico do Gama, herói do título carioca do Botafogo, em 1990, fala ao Correio da vontade de começar a trabalhar no Gama e dos tempos de gandula no Cave

postado em 22/10/2017 18:28 / atualizado em 22/10/2017 18:50

Douglas Oliveira/Gama
 

Aos 50 anos, Carlos Alberto Dias realizará um sonho em 2018. Nascido no Distrito Federal, o meia tricampeão carioca por Botafogo (1990), onde fez o gol do título, e Vasco (1992 e 1993), o ex-meia jamais disputou o Campeonato Candango como jogador. Só como gandula. Em entrevista ao Correio, o novo técnico do Gama lembra da infância no Cave, quando recolocava a bola em jogo e dizia para si mesmo que um dia vestiria a camisa alviverde. Acima da média, jamais defendeu um time da cidade. Além de brilhar no Botafogo, onde foi vice-campeão brasileiro em 1992, e no Vasco, passou por Flamengo, Fluminense, Grêmio, Coritiba, Paraná Clube, Ceará, entre outros clubes. Em 1992, chegou à Seleção Brasileira no amistoso contra a Finlândia. Sob o comando do xará Parreira, entrou em campo com a camisa 18 no lugar de Luis Henrique na vitória por 3 x 1, em Cuiabá. No bate-papo a seguir, o herói do titulo estadual de 1990 do Botafogo fala do desafio de resgatar o Gama.

 


A sua carreira de técnico é muito recente. Por que decidiu ser treinador tanto tempo depois de encerrar a carreira como técnico?

Eu vi muito ex-atletas que não se preparam para a função e não são felizes. Eu primeiro me preparei muito para essa função. Foram cursos, palestras, estágios buscando informações com treinadores de ponta. Ser técnico é totalmente diferente de ser atleta. Você passa a ser gestor de pessoas, de um grupo de jogadores. Você tem que ter sabedoria para passar conhecimento sobre futebol. Eles são os atletas, eu sou apenas o maestro que comanda a orquestra. Tenho que passar para eles um bom modelo e sistema de jogo, mas, ao mesmo tempo, ligado na formatação do modelo de jogo do adversário.

 


Quem são as suas inspirações?

Hoje, dessa nova geração de treinadores, Jair Ventura, Fábio Carille e Zé Ricardo. Fiz vários cursos e estágios com Marquinhos Santos, Marcelo Oliveira, Leomir, auxiIlar do Abel Braga, e outros. Já tenho um título de campeão na carreira com o Frei Paulistano na Série A2 do Campeonato Sergipano.

 


Você começou como técnico do Castanhal-PA, passou pelo Paragominas-PA e foi campeão da segunda divisão do Sergipano pelo Frei Paulistano. O que o motivou a assumir o Gama?

A vida é feita de oportunidades. O Gama é um clube que tem uma história linda no cenário local e nacional. Conto com a ajuda dos nossos torcedores , que são realmente apaixonados pelo clube, e vamos trabalhar muito para recolocar o clube no seu devido lugar. Tenho que procurar fazer o meu melhor.

 


Como foram essas experiências? Muito perrengue?

Serve sempre de aprendizado e te faz buscar cada vez mais qualificação e capacitação. Perrengue é normal, sempre tem, mas isso é tranquilo.

 


A cidade também pesou na escolha?

Além de trabalhar em um grande clube, vou estar ao lado dos meus familiares e amigos. Isso não tem dinheiro que pague. As minhas origens são de Brasília. A felicidade é imensa. Ainda estou em Curitiba, mas acredito que na semana que vem estarei de volta à terra.

 

 

“Eu vi muitos ex-atletas que não se preparam para a função e não são felizes. Eu primeiro me preparei. Foram cursos, palestras, estágios com treinadores de ponta”

 


E a ansiedade para começar a trabalhar?

Confesso que estou pingando azeite extravirgem grego para fazer um grande trabalho nesse clube que tenho um carinho especial. Agradeço ao presidente (Weber Magalhães) e sua diretoria que depositaram confiança no meu trabalho e abriram as portas.

 


Um carinho especial que começou como gandula...

Eu nasci em Brasília, mas não cheguei a disputar o Campeonato Candango. Saí muito cedo. Agora, gandulei bastante no estádio do Cave, no Guará, onde a minha família mora. Tenho uma história inesquecível, que me marcou. Quando a delegação do Gama chegava no Cave, eu falava comigo: 'Um dia vou jogar nesse clube'. Lembro de dois jogadores da época: o Zinha, zagueiro, e, se não me engano, Manoel Ferreira. Manoel jogava demais. Tinha também o massagista Raspinha. Não tive o privilégio de jogar nessa grande equipe, mas hoje tenho a honra de comandar esse gigante que é a Sociedade Esportiva do Gama.

 


Cuca, Caio Júnior e Estevam Soares são alguns técnicos que fizeram do Gama um trampolim na carreira. Essa também é a sua expectativa?

Perfeito, isso mesmo. Espero seguir o mesmo caminho.

 


No meio do caminho tem um Brasiliense. O maior rival do Gama entre na briga pelo título com Reinaldo, Souza, Nunes, Cicinho... Dá para desbancá-los?

São muito bons atletas, mas primeiro eu tenho que pensar no meu grupo. É um campeonato bastante competitivo e tenho que formatar bem o meu grupo, estudaremos os adversários na sequência.

 


Chegou a enfrentar algum desses jogadores quando era meia?

Desses que você citou, eu enfrentei o Souza. Ele no São Paulo e eu no Paraná Clube. Sei que o Baiano também está jogando aí. Sei de tudo o que se passa por aí, busco informações.

 


Você procura um medalhão como esses do Brasiliense ou ainda dá para você voltar a vestir camisa 8 ou a 10 e bater uma bola no Candangão?

Parei com isso. Não dá mais. Agradeço a Deus pelas oportunidades de jogar em grandes clubes do futebol brasileiro e oito anos no futebol japonês. Agora, sobre um camisa 10, todos os times buscam esse diferenciado. Estamos procurando!

 

 

“Ser técnico é totalmente diferente de ser atleta. Você passa a ser gestor de pessoas, de um grupo de jogadores”

  


Qual foi o gol mais importante da carreira?

Fiz alguns, o mais inesquecível foi na final (do Carioca de 1990) entre Botafogo e Vasco. Foi o gol do título do Botafogo. Foi confuso, mas conseguimos ser campeões. Marquei um gol também que foi o mais bonito da J-League, um chute de 55 metros de distância. Ganhei todos os prêmios. Fica na lembrança, passou, agora é outra realidade, comando técnico.

 

 

Você defendeu a Seleção naquela amistoso de 1992 contra a Finlândia. Qual é a lembrança do jogo?

De ter entrado ainda no primeiro tempo (com a camisa 18, no lugar de Luis Henrique), ter jogado muito bem e ter dado um passe para o Bebeto fazer o gol (o Brasil venceu por 3 x 1). Nos anos 1990, só de vestir essa camisa amarela já era gratificante. Havia muitos jogadores diferenciados.