Felipe Wagner Silveira morreu em 29 de julho, aos 36 anos, vítima de câncer, e sempre compartilhou seu amor pelo Atlético nas redes sociais (Foto: Twitter/Reprodução de Internet)

A conquista do Campeonato Brasileiro de 2021 pelo Atlético é tão importante que até quem não está mais entre nós vai comemorar. Pelos olhos de pais e outros familiares eles viram os gols e as vitórias alvinegras; por meio da garganta de entes queridos soltaram o grito de campeão; no coração de cada atleticano sentiram a emoção de quebrar o jejum de 50 anos.




Caso do auxiliar administrativo Felipe Wagner Silveira, que morreu em 29 de julho, aos 36 anos, vítima de câncer. Ele emocionou os atleticanos ao relatar, nas redes sociais, a luta contra a doença, que não o impediu de continuar torcendo para o Galo, inclusive enquanto esteve internado.



"Quando começou a temporada, o Felipe estava entusiasmado, principalmente depois do bom desempenho na primeira fase da Libertadores. Tinha muita expectativa de que o time seria campeão de algo grande. Por isso queria viver até este fim de ano para poder se emocionar. Desde que ele se foi, dedicamos as vitórias a ele. E o título também é uma homenagem a quem amava tanto o Galo", disse Wagner Lúcio Pinto da Silveira, de 62, pai de Felipe e que passou ao filho o amor pelo Atlético, mas sem nunca forçar a barra. "Foi um amor que cresceu naturalmente. E se tornou uma coisa impressionante."

Na luta pela vida, iniciada em 2018, Felipe jamais se abateu, segundo familiares e amigos. E a paixão pelo Atlético o ajudava a superar os momentos mais difíceis do tratamento, como as cirurgias no estômago e no esôfago.




A história chegou a outros torcedores, que passaram a apoiar o auxiliar-administrativo com mensagens e ações. No jogo contra o Remo, em junho, pela terceira fase da Copa do Brasil, uma organizada e o artista Thiago Scap homenagearam Felipe com um mosaico na arquibancada do Mineirão. Dias antes, ele havia informado, em postagem, que as medidas tentadas não deram resultado e que "só com milagre de Deus" iria conhecer a Arena MRV, prevista para ser inaugurada no fim do ano que vem.

Diretoria, comissão técnica e jogadores do Atlético também se sensibilizaram. O presidente Sérgio Coelho e o técnico Cuca visitaram o torcedor, assim como o atacante Hulk e o zagueiro Réver, entre outros, além do diretor de futebol Rodrigo Caetano.

Ele também chegou a visitar as obras da futura casa do Galo, onde foi recebido pelo ex-zagueiro Leonardo Silva, autor do gol do título da Copa Libertadores de 2013.

"Agradeço tudo que o Atlético fez por mim até hoje. Momentos pra se levar por toda eternidade. (...) Estarei em casa. Ainda verei jogos do Galo pra xingar, passar raiva, comemorar e sorrir. Por quanto tempo? Não sei, o tempo de Deus", escreveu Felipe, que ficou muito satisfeito em ver a hashtag #forçafelipe ser o assunto do momento no Twitter na ocasião.




Felipe e o pai, Wagner, estiveram juntos em várias jornadas com o Galo, no Independência e no Mineirão (Foto: Twitter/Reprodução de Internet)



"O Atlético foi importante demais nessa caminhada, tem coisas que nem posso falar, pois envolvem outras pessoas. Mas muitas coisas maravilhosas aconteceram e ajudaram todos nós a atravessarmos este momento. Por isso, tenho certeza que ele está muito feliz, lá onde ele está", disse Wagner.

Ele destaca que o filho sempre foi uma pessoa generosa, que sofria bastante pelo Atlético e por problemas de pessoas próximas. Segundo uma tia, tratava-se de uma pessoa "especial" justamente por se preocupar com os outros.

"O Felipe foi uma voz positiva no futebol, uma voz inclusiva, não excluía ninguém, o melhor amigo dele, que é um primo, é cruzeirense, por exemplo. Ele conseguiu que as pessoas se amassem mais, se tolerassem mais. Agora tenho certeza que meu filho era mesmo especial. Em nenhum momento ele questionou o motivo de ter ficado doente. Uma vez fui reclamar e ele falou para não fazer isso. 'Deus sabe o que está fazendo', me disse. E sabe mesmo. Agora, estará ainda mais na nossa memória, pois se foi no ano de uma conquista tão importante", disse o pai.






Futebol na veia


Wagner acompanha futebol há muitos anos. O pai dele foi técnico do Ferroviário, do Bairro São Geraldo, em BH, e desde os 5 anos o acompanhava no futebol amador da capital mineira.

Em 1971, a família de Wagner foi à Praça Sete comemorar o primeiro título do Brasileiro conquistado pelo Galo, em vitória sobre o Botafogo, no Rio. Agora, a comemoração foi novamente em família, com um misto de saudade e sensação de dever cumprido por manter a memória do filho viva.