Naomi Osaka acendeu a pira olímpica em Tóquio (Foto: Jewel SAMAD / AFP)



Naomi Osaka se acostumou a emocionar as pessoas sem dizer uma só palavra. No US Open, mandou duas mensagens potentes de uma só vez: usou máscaras contra a COVID-19 com homenagens a homens e mulheres negros assassinados nos Estados Unidos. Nas quadras, arranca suspiros com um talento incomum para tão pouca idade. E nesta sexta-feira, no Estádio Olímpico de Tóquio, levou tantos às lágrimas ao acender a pira olímpica.




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Fui um desses tantos. A tenista japonesa é um símbolo da luta antirracista e incorpora com perfeição de que esporte, política e sociedade não apenas andam juntos - mas, por vezes, são uma coisa só. Posicionar-se é necessário, sobretudo quando se pode transformar visibilidade, publicidade e talento em mudança social.

Mas não pude secar as lágrimas. Afinal, são Jogos Olímpicos históricos e, em meio aos temores causados pelo coronavírus, levar a mão - ou a toalha, camisa, guardanapo, enfim - ao olho não é exatamente o mais recomendável. E os reflexos da pandemia foram o ponto mais marcante do evento de três horas e 43 minutos.

Os 68 mil lugares do suntuoso estádio reformado para a Olimpíada estavam quase todos vazios. Eram raros os que podiam ocupar: jornalistas, oficiais, patrocinadores e chefes de estado. A falta de público gerou uma situação inusitada: era possível escutar os barulhos que vinham dos arredores.




Quem estava dentro se limitou a aplaudir os grandes momentos (desde a aparição de Osaka até o espetáculo tecnológico dos drones). O vasto protocolo elaborado pela organização alertava que gritos e cantos estão proibidos, já que, quanto mais alto se fala, mais longe vai o coronavírus, o que aumenta também o potencial de infecção.