Ítalo Ferreira foi dominante nos Jogos Olímpicos de Tóquio e conquistou o ouro (Foto: Yuki Iwamura/AFP)

O céu cinza da Tsurigasaki Surfing Beach instantaneamente sorriu e se pintou com as cores do arco-íris assim que Ítalo Ferreira saiu do mar. Na areia, ele, com os olhos marejados, olhou para cima e apontou, como se estivesse dedicando a histórica medalha de ouro olímpica para alguém. E estava. As homenagens eram para dona Mariquinha, falecida avó do surfista potiguar.




"Neste momento, muitas memórias vêm à minha cabeça. A minha família, a minha avó, que já se foi e que eu gostaria que estivesse aqui vendo tudo o que estou fazendo no esporte, crescendo como pessoa, ajudando aqueles que estão ao meu lado", emocionou-se, com a medalha de ouro no pescoço. Foi a primeira dourada que a delegação brasileira conquistou nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Aos 27 anos, Ítalo vive o auge da carreira, mas mantém um ritual que iniciou ainda jovem - pouco depois de substituir as tampas de caixas de isopor que usava para surfar em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, pelas pranchas. Sempre que ganhava um campeonato em outra cidade, o campeão olímpico chegava em casa e o mostrava para dona Mariquinha. E ele fará o mesmo com o ouro conquistado nesta terça-feira no Japão.

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"Minha avó foi a maior figura. A gente sempre brincava, zoava um ao outro. Ela sempre me dava forças. Quando eu voltava dos campeonatos, a primeira coisa que eu fazia era mostrar o troféu para ela. Quando eu fui campeão do mundo, levei o troféu ao quarto dela, mas ela não estava. Mas continuei o meu ritual. Vou levar a medalha (olímpica) lá no quarto dela de novo. A gente tem que aproveitar cada momento, aqueles que a gente ama. Eu realmente aproveitei ela e só tenho boas memórias. De lá de cima, ela está muito orgulhosa", disse.




O choro de Ítalo assim que derrotou o japonês Kanoa Igarashi na final olímpica foi de gratidão, não de tristeza. "Eu não consegui me despedir, estava no Havaí quando ela faleceu. É um momento que eu gostaria de ter vivido. Mas a gente está aqui de passagem e tem que aproveitar todo mundo, respeitar e amar", pregou.

Kanoa Igarashi, Ítalo Ferreira e Owen Wright subiram ao pódio em Tóquio (Foto: Olivier Morin/AFP)

Agora, Ítalo quer deixar a avó ainda mais orgulhosa. Depois de mostrar o ouro a ela, o surfista vai transformar a casa onde dona Mariquinha vivia num lar de caridade: "É no porto, exatamente onde a gente vai fazer o instituto para ajudar as crianças. Acho que ela vai se orgulhar".

Lá de cima, dona Mariquinha vai sorrir e pintar o céu com todas as coisas em cada vitória do neto querido.
 
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