O suspiro de orgulho de Fernando Scheffer ao receber a medalha de bronze e a bandeira do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio foi o desfecho perfeito de uma história que misturava momentos de tensão e muita dedicação. Durante os meses de pandemia, o nadador do Minas viveu períodos grandes de ansiedade em virtude do isolamento social e por não ter onde treinar, com o fechamento das piscinas.
Entretanto, coube ao professor Lincoln Dias Lanza, de 62 anos, improvisar e solucionar o problema, dando importante contribuição na conquista da medalha de Scheffer - assim como toda a estrutura cedida pelo clube, a ajuda dos treinadores e o próprio mérito do esportista.
Pai do também nadador Vinícius Lanza, que também representa o Brasil na Olimpíada, Lincoln simulou uma piscina em um açude que fica localizado em sua fazenda particular, na cidade de Coronel Xavier Chaves, no Campos das Vertentes, a 180 quilômetros de Belo Horizonte. Se antes parecia algo inusitado, a ideia contrbuiu para o efeito imediato nos resultados de Scheffer e dos demais atletas.
“Meu filho veio dos Estados Unidos para a seletiva, em 2020, mas não pôde voltar para casa, pois fecharam todas as piscinas a partir de março. Então, o Vinícius ficou muito desesperado, já que não poderia parar de treinar. Eu falei para que ele fosse para o sítio, pois tinha um açude de 90m de comprimento. Ele reclamou que não havia raias e não tinha jeito de nadar. Logo, comecei a resolver o problema”, conta Lincoln, em tom bem humorado.
O açude da fazenda é um poço fundo composto por água natural de uma das várias nascentes que compõem a região. Aos fins de semana, Lincoln e a esposa deixam Belo Horizonte e viajam para Coronel Xavier Chaves para descansar.
O professor explica que usou tudo que estava ao alcance para transformar o açude numa piscina olímpica: “Eu consegui uma prancha de compressado e cortei no meio para que ela compusesse a piscina. Cortei os eucaliptos e coloquei no açude, formando 80 metros de raia. Fiz tudo com o que eu tinha na mão. Usei linha de pesca e bandeja de isopor. Vinícius ficou treinando durante 15 dias e me falou que treinar sozinho era ruim. Eu mesmo sugeri para que ele viesse com os amigos”.
Logo, vieram para Coronel Xavier Chaves os nadadores Fernando Scheffer, Pedro Valente, Diogo Vilarinho, Isaque e a Gabriela Cordeiro, que é namorada de Scheffer. Durante 20 dias, eles fizeram do açude uma verdadeira arena de natação para os treinos.
“Todos estavam desesperados para treinar e foram para o sítio. Logo, não perderam o pique no treino. Eles não poderiam parar. Começaram a treinar à tarde e a fazer academia”, relata.
“Disse a eles que poderia nadar à vontade, mas que poderiam trombar com alguns peixes”, brinca.
A ideia surtiu muito efeito, já que Sheffer fez o tempo de 1min44seg66 nos 200 metros livres e repetiu o feito de Gustavo Borges, que em 1996 conquistou a prata. "É um orgulho muito grande saber que contribuí com isso", avisa Lincoln.
Na torcida
Lincoln vive a expectativa pela presença de Vinícius Lanza na prova dos 100 metros nado borboleta: “Ele fez um tempo que tinha três anos que não fazia. Ele está confiante, com a cabeça muito boa. Conversamos com ele e, pelas entrevistas que deu, a cabeça está boa. Um atleta precisa estar com a mente em ordem. Vamos torcer muito”, ressalta.
Lanza, no entanto, não conseguiu tempo suficiente na prova dos 200 metros medley nesta terça-feira (27/8). Competindo na raia 5, o brasileiro marcou o tempo de 1.58.92, sua melhor marca no ano e venceu sua série. O tempo, porém, não foi suficiente para o brasileiro avançar às semifinais. Na classificação geral, ele alcançou a 25ª posição.