Conselheiros do Cruzeiro querem acesso ao projeto na íntegra (Foto: Igor Sales/Cruzeiro)



O Cruzeiro marcou reuniões com conselheiros nas últimas semanas para tentar esclarecer pontos ainda pouco claros do projeto clube-empresa, que ainda não foi enviado ao Conselho. Uma reclamação recorrente é que a diretoria não apresentou o estatuto do Conselho de Administração da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que será formada entre o clube e futuros investidores.



Em encontro nessa segunda-feira, na sede do WeWork, no Boulevard Shopping, o superintendente de marketing da Raposa, Edson Potsch, e um representante da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal fizeram uma apresentação e tiraram dúvidas de cerca de 30 conselheiros. A diretoria celeste promete entregar o projeto detalhado ainda nesta semana.

O conselheiro Giovanni Baroni, que perdeu a presidência do Conselho na última eleição, disse que não haverá tempo hábil para analisar as alterações para a Reunião Extraordinária na próxima terça-feira, dia 3 de agosto, quando as mudanças serão votadas.

"O Cruzeiro convoca a Reunião Extraordinária sem material pronto e coloca o assunto em pauta. Você pede o projeto detalhado e eles dizem que não está pronto. O Cruzeiro tem que fazer o material, mostrar o que vai alterar no estatuto, mostrar o estatuto da SAF e dar tempo suficiente para a gente analisar, sugerir mudanças para depois votar. O projeto de lei ainda nem foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. Um projeto importante para o Cruzeiro não pode ser feito com tanta pressa assim, não dá para colocar a faca no pescoço do Conselho dessa forma", argumenta Baroni.



O projeto de lei 5.516/2019, que cria a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e concede aos clubes novas possibilidades de obtenção de recurso, foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 14 deste mês. Foram 429 votos favoráveis e apenas 7 contrários ao tema. Como já havia sido aprovada pelo Senado Federal em 10 de junho, a pauta agora segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro.    

"Acredito que o projeto do Sérgio Rodrigues dá amplos poderes ao presidente fazer o que quiser, a gente viu como foi dar amplos poderes ao ex-presidente Wagner Pires de Sá. Eu sou contra a votação agora, pedi para adiá-la porque o projeto detalhado tem que ser entregue para a gente analisar, ouvir quem tem experiência na área, ponderar, propor mudanças", completou.

Uma das sugestões de Baronni é que o conselho de administração da SAF seja formado por sete membros, sendo cinco pessoas de reputação ilibada e sucesso profissional, o presidente do clube e o mandatário do Conselho.

O conselheiro Anísio Ciscotto aprovou a iniciativa do clube de promover encontros com os conselheiros, mas também entende que a diretoria precisa divulgar o projeto detalhado de formação do clube-empresa. "Iniciativa boa, o clube mostra transparência no processo. Edinho (Edson Potsch) tem uma didática boa, foi paciente, você nota que ele é entendido. Mas ainda existem muitas dúvidas. O material completo precisa ser enviado antes da Reunião Extraordinária, porque podemos ter uma Reunião muito alongada, com muitas dúvidas, porque ninguém ainda teve acesso ao projeto. Como vai ser a formação do Conselho Administrativo? Como vai ser feita a questão do investimento na SAF? Quem vai definir quantos por cento da SAF será vendida e por qual valor?", questionou.



Ciscotto explicou que o clube criará um novo estatuto para a SAF, que é independente do estatuto do Cruzeiro, mas isso ainda continua um mistério, pois não houve apresentação para os conselheiros. "Ficaram de mandar uma prévia do estatuto da SAF. Quando a SAF é constituída, 100% do capital fica com o clube. Neste estatuto da fundação, tem que ser explicitado que o Cruzeiro vai emitir ações e pode vender até 49% das ações, além de um arcabouço de normas que garantam seu pleno funcionamento", disse.

"Na hora que vierem os novos investidores, é feita a reforma do estatuto da SAF. Chegam os empresários e fazem um acordo de acionistas. Apesar de o Cruzeiro ser o acionista majoritário, os investidores podem pleitear a administração e a indicação do presidente do Conselho, esse é o momento no qual os acionistas se reúnem e definem como será a administração da SAF".

Em contato com a reportagem, o Cruzeiro ainda não se posicionou.

Informativo


Na semana passada, o Cruzeiro fez um informativo com perguntas e respostas para os conselheiros sobre o clube-empresa. Contudo, não houve grande aprofundamento das propostas, já que apenas três páginas foram produzidas.



Na primeira parte, o documento diz que o Cruzeiro não será vendido: "O clube irá constituir uma empresa para gerenciar as atividades do futebol. Essa empresa terá, obrigatoriamente, a associação Cruzeiro Esporte Clube como acionista majoritária e poderá vender até 49% de suas ações no mercado. O clube, portanto, seguirá como controlador de sua operação".

No documento, a diretoria do Cruzeiro afirma que não há propostas oficiais para comprar as futuras ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O clube destaca que pretende se tornar empresa, porque "as finanças se encontram em estado preocupante". "Precisamos rapidamente atrair recursos para dar fôlego ao nosso fluxo de caixa", diz o texto.

Caso o clube se transforme em SAF, as atividades de futebol profissional serão administradas pelo conselho de administração, responsável por nomear um CEO e uma diretoria. Assim, quase todo o dinheiro do Cruzeiro (direitos econômicos de atletas, direitos de transmissão, programa de sócio, publicidade e patrocínio) ficará sob gestão empresarial. Os imóveis e clubes de lazer continuarão como patrimônio do clube.



O valor das ações da SAF será definido com auxílio da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal. O Cruzeiro entende que, apesar das crises financeira e esportiva, a marca do clube é muito atrativa e pode gerar grande potencial de valorização.

De acordo com o Cruzeiro, os recursos arrecadados com a venda de participação na SAF serão destinados prioritariamente para o pagamento de dívidas mais onerosas do clube, além de investimento no elenco e na infraestrutura dos centros de treinamentos.

A proposta do Cruzeiro diz que 20% dos rendimentos da SAF serão destinados ao pagamento de dívidas do clube. O plano de amortização da dívida será feito em um acordo de acionistas. "Conforme previsto no Projeto de Lei, o time que constituir uma empresa para gerir o futebol poderá dissociar suas dívidas da associação. Desta forma, uma dívida do clube não irá interferir no futebol, como acontece atualmente", diz o texto.



O papel do Conselho Deliberativo (veja no quadro abaixo) ficará restrito a atividades do clube, com direito a votação na eleição do presidente do Cruzeiro, que integrará o Conselho de Administração da SAF. "Matérias sensíveis, como a destituição de membros do Conselho de Administração ou a dissolução da SAF, também serão votadas pelo Conselho Deliberativo da Associação".