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Secretária de Perrella relata que esposa de Wagner Pires invadiu sala para pegar documentos e a demitiu do Cruzeiro com intimidação

Hellen Caroline Rocha fez boletim de ocorrência contra Fernanda São José

postado em 19/06/2019 23:00 / atualizado em 20/06/2019 03:03

(Foto: Igor Sales/Cruzeiro E.C)
A crise institucional pela qual passa o Cruzeiro ganhou mais um capítulo esta semana. Desta vez, a envolvida é a advogada Fernanda Moraes de São José, esposa do presidente Wagner Pires de Sá. O Superesportes teve acesso a um boletim de ocorrência feito por Hellen Caroline Carvalhais Rocha, secretária do presidente do Conselho Deliberativo, Zezé Perrella. Registrado nessa terça-feira (18/6) na 5ª Companhia do 1º Batalhão de Polícia Militar, em Belo Horizonte, o documento relata um incidente entre a mulher de Wagner e a funcionária subordinada a Perrella.

Conforme o boletim, Hellen Caroline teve o login no computador e o e-mail bloqueados ao chegar para trabalhar. Pouco depois, Fernanda São José entrou repentinamente na sala para extrair documentos do Conselho Deliberativo e perguntou insistentemente onde se encontrava o chefe da secretária. Ao tentar impedir a ação, Hellen acabou demitida do Cruzeiro pela própria esposa de Wagner, que, inclusive, chamou Cleonice Maria da Piedade, funcionária de recursos humanos do clube, e Guilherme Barros da Silva, segurança do prédio da sede administrativa, para retirar a funcionária do local. A acalorada discussão foi acompanhada de perto por Alexandre da Rocha Comoretto, conhecido como Gaúcho, um dos diretores da sede campestre do Cruzeiro.

Segundo Hellen Caroline, Fernanda São José abriu gavetas, vasculhou arquivos sem autorização e tentou lhe tomar o aparelho celular com o intuito de descobrir se havia algum tipo de gravação do episódio. Em seguida, recusou-se a assinar a carta de demissão da funcionária, porém assegurou que a dispensa havia sido motivada por “ordem da presidência do clube”

O Superesportes procurou Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro. Inicialmente, ele minimizou o episódio e o definiu como“discussão de trabalho sem a maior relevância”. Duas horas depois, entrou em contato com a reportagem e disse que se manifestaria oficialmente sobre o tema por meio de nota, após tomar ciência exata dos fatos. Ainda assim, adiantou que a secretária foi readmitida pelo presidente Wagner Pires meia hora depois da confusão.

“Ela foi demitida pela Fernanda, que não tem poder de demissão. O presidente Wagner, logo que chegou ao clube, quase em seguida, tomou conhecimento e a readmitiu. Ela não foi demitida, porque a pessoa que a demitiu não tinha poder para isso”, disse Perrella. De acordo com Zezé, o chefe de Hellen procurado por Fernanda São José no momento da discussão era, na verdade, Rogério Nunes, assessor da presidência do Conselho Deliberativo e superior imediato da secretária.

Apesar de ter obrigações exclusivas com o Conselho Deliberativo, órgão distinto da administração do Cruzeiro, Hellen Caroline é registrada como empregada da instituição, cujo vínculo laboral se iniciou em meados de 2018. Já Fernanda São José exerce a presidência do Instituto 5 Estrelas, fundado em 2017 como projeto de inclusão social para crianças e adolescentes. Oficialmente, ela não possui nenhum cargo na diretoria, mas goza de influência para tomada de decisões em vários departamentos do clube. O Superesportes não conseguiu localizá-la para comentar o assunto.

(Foto: Reprodução)

Denúncias

A diretoria do Cruzeiro é investigada pela Polícia Civil de Minas Gerais por suspeitas de crimes de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica, além de possíveis quebras de regra da Fifa, da Confederação Brasileira de Futebol e do Governo Federal. Os escândalos no clube vieram à tona após matéria exibida no programa Fantástico, da TV Globo, em 26 de maio. À época, foram divulgadas irregularidades em transações e valores superfaturados pagos a empresas prestadoras de serviço. A PCMG já havia ouvido 15 pessoas que mantinham alguma relação com o clube, entre elas funcionários, ex-empregados, dirigentes e agentes esportivos.

A denúncia mais grave era sobre um empréstimo de R$ 2 milhões contraído pelo Cruzeiro com o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, sócio de firmas que atuam na locação de veículos e de equipamentos de proteção. Como forma de quitação do débito, o clube, segundo inquérito da Polícia Civil, incluiu parte dos direitos de jogadores do profissional, como David (20%), Raniel (5%), Murilo (7%), Cacá (20%), e de outros que passaram pela base e foram negociados, casos de Gabriel Brazão (20%) e Vitinho (20%). O clube ainda inseriu participação em uma possível venda do promissor Estevão William, de apenas 12 anos, que, pelas leis trabalhistas, só poderá assinar vínculo laboral a partir dos 16.

Outras operações apuradas pela Polícia Civil são os aumentos substanciais nos salários de dirigentes, a contratação de conselheiros para prestação de serviços e o pagamento a torcidas organizadas. Vale lembrar que o clube aumentou a dívida geral de R$ 384 milhões para R$ 520 milhões de 2017 para 2018 e ainda não teve o balanço financeiro aprovado pelo Conselho Fiscal. Em 1º de julho haverá eleição para novos integrantes do órgão, já que os membros anteriores renunciaram em função do acesso restrito às informações das finanças do clube.

Nos últimos dias, o presidente Wagner Pires de Sá e o diretor jurídico Fabiano de Oliveira Costa foram intimados para prestar depoimento na sede da Polícia Federal em Belo Horizonte, no Bairro Gutierrez, Região Oeste do município. A ação fez parte da Operação Escobar, que investiga vazamento de documentos sigilosos da PF. Márcio Antônio Camillozzi Marra e Paulo de Oliveira Bessa, escrivães da corporação, foram presos no último dia 5 de junho, bem como os advogados Carlos Alberto Arges Júnior e Ildeu da Cunha Pereira.

Curiosamente, Márcio Antônio Camillozzi havia sido nomeado por Zezé Perrella para fazer parte da comissão de sindicância que averigua denúncias de corrupção da diretoria do Cruzeiro. Ildeu da Cunha Pereira, por sua vez, já ocupou cargo de superintendente jurídico do clube. Já Carlos Alberto Arges Júnior representou o vice-presidente de futebol Itair Machado em um processo contra o ex-dirigente Bruno Vicintin.

Convocação

O presidente Wagner Pires de Sá prometeu prestar esclarecimentos a conselheiros do clube em reunião extraordinária no dia 8 de julho, às 18h30, no Salão Nobre do parque esportivo do Barro Preto. Ele ignorou a negativa de Zezé Perrella, que desejava manter o encontro para 5 de agosto, marcado para discutir um possível afastamento da atual administração. Em nota oficial, Wagner prometeu “tornar público e ainda mais transparentes as circunstâncias e a documentação entregue à Comissão de Sindicância instaurada”.

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