2

Com rebaixamento à Série B, Cruzeiro vê receitas despencarem em 2020; veja números

Cota da Série B é muito pequena e não pagaria sequer uma folha atual

08/12/2019 19:22 / atualizado em 08/12/2019 19:31
compartilhe
Zezé Perrella disse que comandará futebol em 2020 e terá trabalho para gerir finanças
foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press

Zezé Perrella disse que comandará futebol em 2020 e terá trabalho para gerir finanças

A difícil situação financeira vivida pelo Cruzeiro em 2019 tende a piorar com o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro. Para a temporada 2020, o clube perderá significativos ganhos em receitas de televisão e premiação, o que obrigará a diretoria a abrir mão de atletas com remunerações elevadas e enxugar a folha salarial do elenco.
 
Se tivesse permanecido na  elite nacional, o Cruzeiro fecharia o ano com R$ 64,5 milhões oriundos da TV Globo, sendo R$ 22 milhões de cota fixa, R$ 11 milhões pela posição na classificação (16º), R$ 12 milhões pela exibição de partidas na TV aberta e R$ 19,5 milhões em pay-per-view.
 
Contudo, os times que caíram para a Série B - Cruzeiro, CSA, Chapecoense e Avaí - não têm direito à premiação pela colocação este ano. E para 2020, terão de escolher entre a cota fixa da competição, de R$ 8 milhões - R$ 6 milhões líquidos e R$ 2 milhões em logística -, e o pay-per-view.
 
Para o Cruzeiro, optar pelo pay-per-view seria mais viável, visto que a receita varia de acordo com o número de assinaturas do serviço por parte dos torcedores celestes, que correspondem atualmente a 3% do ‘bolo’ de R$ 650 milhões. Assim, o prejuízo financeiro seria amenizado, porém permanecia elevado: R$ 45 milhões.

Para se ter uma ideia da gravidade do cenário, a receita de pay-per-view anual pagaria apenas uma folha do atual elenco.
 
Vale lembrar que o Cruzeiro comprometeu cerca de R$ 70 milhões em receita de TV com o Polo Clubes Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, empresa criada em 2012 pela Polo Capital com o objetivo de antecipar aos clubes brasileiros parte do que a Globo paga pela transmissão do campeonato nacional em TV aberta e fechada.
 
Em agosto, o Superesportes revelou que o Cruzeiro antecipou cotas de julho de 2019 a outubro de 2022 no valor de R$ 70 milhões. Para receber à vista, o clube precisou abrir mão de R$ 12 milhões  - 17% do total -, tendo adiantado, na prática, R$ 58 milhões.
 
Durante as negociações, o presidente Wagner Pires de Sá foi avisado por pessoas próximas que a antecipação de cotas relativas a 2022 – depois de seu mandato – poderia ferir exigências impostas pelo Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidades Fiscal do Futebol Brasileiro, o Profut (lei de agosto de 2015).
 
Em seu Artigo 4º, parágrafo IV, a lei diz que é 'proibido antecipação ou comprometimento de receitas referentes a períodos posteriores ao término da gestão ou do mandato'. Salvo em duas ocasiões: a) o percentual de até 30% (trinta por cento) das receitas referentes ao 1º (primeiro) ano do mandato subsequente; b) em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível de endividamento.
 
Diante disso, dois meses depois de fechar o acordo e preocupado com possíveis consequências, Wagner assinou documento oficial, mantido em sigilo e também obtido pela reportagem, justificando que o contrato assinado não fere o Profut, uma vez que, segundo ele, o dinheiro seria utilizado em “substituição a passivos onerosos do Cruzeiro EC, implicando na redução do seu nível de endividamento”. Não há detalhes, no entanto, sobre como o clube aplicou a receita.
 
Assim, desde julho de 2019, a Globo tem depositado na conta do fundo Polo Clubes, em vez de pagar ao Cruzeiro, parcelas mensais que variam de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões até outubro de 2022. De janeiro a dezembro de 2020, conforme o documento, a previsão é de pagamento de R$ 19,86 milhões, quantia quase equivalente à previsão de receita com pay-per-view do clube.
 
O Cruzeiro sentirá impacto financeiro relacionado a outras competições. Na Copa Libertadores, por exemplo, embolsou R$ 13 milhões em 2018 em R$ 16 milhões em 2019. Já na Copa do Brasil, acumulou R$ 61,9 milhões pelo título de 2018 e R$ 12,35 milhões na semifinal deste ano.
 
A queda para a segunda divisão não apenas impossibilita o time de participar de um torneio internacional em 2020 como dificulta a montagem de um grupo competitivo que possa brigar para vencer a Copa do Brasil. O fator também gera consequências nas bilheterias, já que na Série B, contra adversários de menor apelo, a diretoria terá de baixar os preços dos ingressos, caso queira contar com estádio cheio.
 
Algumas receitas futuras do Cruzeiro foram adiantadas para pagamento de salários. O clube antecipou cotas dos estaduais de 2020 e 2021, além da Copa do Brasil de 2020. A Adidas, fornecedora de material esportivo a partir do ano que vem, repassou R$ 2,5 milhões, enquanto o Supermercados BH, futuro patrocinador máster, contribuiu com R$ 8 milhões.
 
Houve ainda transferências de jogadores, como o zagueiro Murilo, para o Lokomotiv Moscou-RUS (R$ 10,8 milhões), o volante Lucas Romero, para o Independiente-ARG (R$ 8,8 milhões), e o atacante Raniel, para o São Paulo (R$ 12,9 milhões). Apesar dessas movimentações, as remunerações de outubro, novembro e 13º estão em atraso.
 
Na tentativa de ganhar tempo para diminuir sua dívida geral, de R$ 520 milhões de acordo com o balanço de 2018, o Cruzeiro conseguiu a aprovação por parte do Conselho Deliberativo da captação de empréstimo de R$ 300 milhões junto a um fundo internacional com juros anuais de 9%. Entretanto, as denúncias de casos de corrupção da diretoria inviabilizaram a operação.

Compartilhe