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TÊNIS EM CADEIRA DE RODAS

Tênis em cadeira de rodas: mineiros treinam em polo nacional de atletas paralímpicos

Daniel Rodrigues, 11º do mundo, e Gustavo Carneiro, 37º, se juntam a Ymanitu Silva, top 10 na categoria Quad, para treinamentos visando o retorno do circuito

postado em 22/07/2020 15:49 / atualizado em 22/07/2020 15:56

(Foto: Gallas Press/divulgação)
Os mineiros Daniel Rodrigues, número 11 do mundo da categoria Open, e Gustavo Carneiro, 37º do ranking, se juntam ao catarinense Ymanitu Silva, top 10 do ranking da categoria Quad, para treinamentos na ADK Tennis/Itamirim Clube de Campo, em Itajaí (SC), em parceria com a Confederação Brasileira de Tênis. O local se transformou em polo nacional do tênis em cadeira de rodas.

Ymanitu Silva já é atleta fixo da ADK Tennis/Itamirim Clube de Campo, e realizou nessa segunda-feira o primeiro treino ao lado de Daniel, mineiro de Belo Horizonte. Os dois estão garantidos nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, em 2021. Gustavo Carneiro tem boas chances de classificação e se junta aos treinamentos a partir da próxima semana. Tanto Daniel quanto Gustavo ficam até agosto.

"Estava em um tour nos Estados Unidos em março, em um torneio passando para as quartas de final e de repente tive que voltar correndo, trocar passagem no medo de fechar tudo. Depois que voltei em BH no período de 14 dias, fechado pela volta da viagem, o clube onde treino fechou, só fiquei cuidando da parte física em casa e quadra nada. Consegui bater bola umas três vezes em BH antes de vir pra cá", disse Rodrigues: "Pedi para a CBT porque estava classificado para Tóquio e parado literalmente e outros treinando, me senti prejudicado. Então solicitei para a CBT vendo que aqui tinham tenistas do tênis convencional aqui e eles me ajudaram para estar aqui".

É a primeira vez de Daniel na ADK Tennis/Itamirim Clube de Campo: "A estrutura é fantástica, espaço incrível. Já sabia pois tinha os melhores do Brasil treinavam aqui, acompanhava pelo instagram da ADK toda a estrutura aqui, então me deu mais motivação para poder vir aqui".

A amizade e entrosamento com Ymanitu serão determinantes nos treinos para a retomada no circuito: "Jogamos categorias diferentes, mas viajamos para os mesmos torneios, treinamos juntos, adequamos o ritmo que seja bom para mim e para ele. Temos uma amizade muito boa eu e o Many, muito bom treinar com ele. Em breve vem o Gustavo e será muito bom mais um jogador importante para estar conosco", destacou Rodrigues.
 
"A Federação Internacional de Tênis está segurando bastante o calendário. O US Open vai ter após uma pressão dos cadeirantes, é o único previsto, não entro ainda, só os oito melhores, só de ter um Slam é sinal que acontecerão outros torneios, é bom, temos que nos preocupar pois não sabemos até onde irá a pandemia. Adiaram a Olimpíada de Tóquio, se não cuidar pode cancelar em 2021, mas torcemos que volte, o tênis é mais tranquilo, fácil para voltar, se tomarmos os cuidados, o calendário volta esse ano para novembro mais ou menos".

Com 33 anos, Rodrigues é bastante experiente na modalidade. Em 2019, ele faturou título em Genebra, na Suíça, derrotando na final o ex-número 1 do mundo e atual quarto do mundo, o belga Joachim Gerard, fazendo final em Toronto, no Canadá, e Wroclaw, na Polônia. Os resultados dão confiança para buscar uma medalha em Tóquio, seu principal objetivo. Ele já disputou os Jogos do Rio em 2016 e Londres em 2012: "Em 2019 foi o melhor ano, primeiro brasileiro a vencer um torneio fora, na Suíça, isso me dá confiança para buscar uma medalha nos Jogos Olímpicos, é um dos objetivos e seguir subindo".

Daniel conseguiu a liberação do seu trabalho na área de vendas de uma madeireira, em BH, para treinar em Santa Catarina. "É importante eles me dão esse suporte quando vou competir e agora essas semanas que vim competir aqui em Itajaí para estar na melhor forma quando o circuito voltar".

Daniel tem a perna direita amputada. Ele tem má formação congênita. Nasceu com a perna com 20 centímetros e por anos realizou quatro cirurgias para diminuir a diferença, mas o resultado não foi o esperado.

"Foram quatro cirurgias dolorosas, a perspectiva era de ganho de até seis centímetros por ano após cada cirurgia, mas não deu resultado e no Hospital Sara Kubitscheck marcaram uma cirurgia para amputar minha perna como melhor solução. Encarei com tranquilidade. Contei para minha família para evitar qualquer aflição. Já jogava profissional e já em 2013 pouco tempo depois da amputação já tinha voltado a jogar com bons resultados".

Ymanitu Silva comemorou a chegada do amigo para os treinamentos em sua casa: "Daniel é meu parceiro, poder treinar com ele aqui e o Gustavo Carneiro em breve será fundamental nesse processo”.

A Confederação Brasileira de Tênis está viabilizando um circuito de torneios para os cadeirantes onde a premiação deve ser de R$ 30 mil: "A notícia da possibilidade dos torneios de cadeirantes da CBT é muito positiva para podermos competir, pegar o ritmo para o retorno do circuito, seria uma grande ajuda para nós", disse Ymanitu.

Gustavo Carneiro, de 47 anos e que joga profissionalmente desde 2018, destacou: "Para mim essa ida para a ADK/Itamirim Clube de Campo tem três pontos muito importantes. Primeiro é a questão emocional, voltar a desempenhar a nossa profissão. O segundo é que neste momento, treinar em equipe nos dá a sensação de estar treinando para algum objetivo. É meio louco, mas o atleta treina sempre com foco em alguma competição, treinar por treinar não faz sentido. E o terceiro ponto é ter disponível os treinos de quadra e musculação. Estou há quatro meses sem fazer academia e todos sabemos a importância que a musculação tem na prevenção de lesões e no nosso desempenho. Estou muito satisfeito e agradeço a ADK/Itamirim Clube de Campo e a CBT por essa oportunidade", disse o mineiro de Uberlândia, atleta que amputou a perna esquerda após o segundo liposarcoma, câncer pouco abaixo da batata da perna, em 2017.  Em fevereiro deste ano atingiu o melhor ranking, o 34º lugar com participações no Mundial em Israel e no ParaPan de Lima, no Peru.

"Jogo tênis desde os 9 anos. Três dias antes da cirurgia, consegui uma cadeira e fui tentar bater bola para já começar a ir atrás do meu objetivo: ser um dos melhores jogadores de tênis em cadeira de rodas do mundo. Depois de 28 dias comecei a treinar e em 2018 tive grandes resultados", apontou o jogador.

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