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Maduros, Melo e Soares miram medalha inédita para o tênis: 'Grande sonho'

Leia entrevista com os mineiros, que estão no páreo por um lugar no pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio

16/07/2021 04:02
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Bruno Soares e Marcelo Melo durante treino em Belo Horizonte antes da viagem a Tóquio
foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Bruno Soares e Marcelo Melo durante treino em Belo Horizonte antes da viagem a Tóquio

Marcelo Melo, de 37 anos, e Bruno Soares, de 39, chegam a Tóquio no auge da maturidade e do entrosamento. O desempenho físico não é o mesmo de temporadas anteriores, é claro. Mas os tenistas de Belo Horizonte apostam na experiência em grandes torneios e nas trajetórias vencedoras para sobressaírem em solo nipônico.

Superesportes/Estado de Minas fez cinco perguntas para a dupla, que está na reta final de preparação para o torneio que pode coroar a carreira recheada de conquistas. Eliminados nas quartas de final em Londres (2012) e no Rio de Janeiro (2016), Marcelo e Bruno buscam os últimos ajustes nos treinamentos desta semana na capital mineira antes do embarque para Tóquio. Lá, o objetivo é um só: conquistar a tão sonhada primeira medalha olímpica do tênis brasileiro.

Superesportes/Estado de Minas: Você e o Marcelo vão para a terceira edição seguida dos Jogos Olímpicos. Queria que você fizesse uma autoanálise do seu jogo e da sua maturidade, por favor. Na sua opinião, o que mudou em relação ao atleta que você era nas Olimpíadas de Londres e do Rio?

Marcelo Melo: "Com certeza, vou estar muito mais maduro nesta Olimpíada do que nas outras. A gente vem jogando muito bem, está com mais experiência ainda. Vai ser a quarta Olimpíada para mim. Cada uma foi jogada diferente. Vai ser uma Olimpíada em que a nossa maturidade vai estar no máximo. Eu e Bruno fizemos mais jogos entre a última e esta. Então, acho que neste ponto a gente vai estar muito bem".

Bruno Soares: "O que muda em relação a 2012 e 2016 são os aspectos do tempo, como a experiência e a maturidade. Isso conta a nosso favor. No caso da idade, não pesa tanto no momento. Obviamente, com 30 e 34 anos, nosso corpo reage de um jeito. Agora, aos 39, já não é a mesma coisa. A gente já não reage do mesmo jeito. Mas eu acho que a experiência consegue compensar - e muito bem - isso aí.

Eu ainda me sinto muito bem fisicamente, sinto que ainda estou performando em alto nível e acho que a gente tem que usar a nosso favor nossa experiência e a maturidade que a gente tem no circuito e, principalmente, nos Jogos Olímpicos. Porque é uma competição completamente diferente do que a gente joga no dia a dia."

SE/EM: Qual sua análise sobre o momento da dupla com Marcelo? Você crê que atingiram a maturidade, o desempenho e o entrosamento ideais?

MM: "Acho que o meu momento é muito bom. Wimbledon mostrou que eu venho jogando muito bem. As duplas vêm muito competitivas. Você pode perder na primeira rodada hoje e ganhar um torneio amanhã. Segui treinando firme, e acabou que a gente (ele e Lukasz Kubot) perdeu nas quartas de final para a dupla número 1 do mundo (Mate Pavic e Nikola Mektic) jogando muito bem. Isso foi a coisa mais importante."

BS"Eu e o Marcelo estamos num momento interessante. Apesar de a gente não estar tendo a melhor das temporadas neste ano, acho que a gente vem jogando, nos últimos anos, o nosso melhor tênis, o mais alto nível. Foram vários títulos de Grand Slam, muita experiência em torneios grandes, coisas que fazem a diferença. Isso é super importante nesses jogos.

Nosso entrosamento é de velha data. A gente joga junto desde os sete anos de idade, a gente se conhece muito bem, convive no circuito, treina junto, tem o mesmo preparador físico... Tudo isso realmente tem um peso e uma importância muito grande dentro da competição. Acho que a gente está num momento legal e com uma maturidade muito boa."


SE/EM
: O calendário competitivo do tênis foi muito afetado por conta da pandemia. Como foi esse período todo para você? E como vocês adaptaram a preparação para Tóquio, com o adiamento dos Jogos para 2021?

MM"Esse período da pandemia para nós, tenistas, foi realmente complicado, porque a gente ficou sem torneios. Depois, a gente teve os torneios em sequência, aí tivemos que adequar os treinos. Depois, fiquei quase seis meses fora. Fizemos coisas atípicas. Foi um desafio para todo mundo, mas o importante foi ter ficado firme, treinando. Os torneios voltaram... 

Com o adiamento da Olimpíada em um ano, a gente teve ainda mais tempo para se preparar. A gente jogou mais jogos, teve mais experiências, mais resultados, mais maturidade. Para nós, acho que foi até bom."

BS"Não preciso nem falar da situação mundial, obviamente, mas o calendário esportivo ficou uma loucura e todo mundo teve que se adaptar. Eu usei o momento da pandemia para trabalhar várias coisas que o tenista não tem tempo de trabalhar: fazer vários blocos de treinos longos, melhorar meu corpo, recuperar de pequenas dores e pequenas lesões que eu tinha. Acho que a gente foi muito assertivo nisso, vide os resultados: terminar a temporada passada como campeão mundial e número 1 do mundo.

Quanto à preparação para os Jogos, não influenciou tanto, porque a gente não tinha começado a fazer essa preparação (em 2020). Como o circuito parou e os Jogos foram adiados muito tempo antes, a gente já sabia disso e já mentalizou para a Olimpíada em 2021. Agora, a gente está conseguindo colocar isso (a preparação) em prática." 

SE/EM: Como vai ser a preparação nestes últimos dias antes do início da competição? O que muda nesse período?

MM: "Nós estamos fazendo uma preparação muito boa em Belo Horizonte, eu e o Bruno com o Chris (Bastos, preparador físico), o Daniel (Melo, irmão e técnico de Marcelo) e o Hugo (Daibert), que é o treinador do Bruno, juntamente com o Daniel (Azevedo), fisioterapeuta, para recuperar, porque os treinos estão realmente muito puxados.

Nós estamos com foco total, organizando a dupla, treinando junto. Isso está sendo muito bom e muito importante nesse período agora. Nós ainda vamos ter um período lá no Japão. A gente está usando cada minuto, cada momento. O mais importante é o foco. A gente tem condições de ir bem. Mas, ao mesmo tempo, a gente tem que saber que é passo a passo. Tem muitas duplas que estão jogando muito bem também, mas eu e o Bruno sabemos que podemos jogar bem juntos e isso vai ser importante nesta competição."

BS: "A preparação nos últimos dias antes do início dos Jogos é de muito treino, pegando firme. A única coisa que muda neste período é que eu e o Marcelo começamos a fazer muitos pontos juntos, para voltar com esse entrosamento, trabalhar os nossos específicos, as nossas jogadas, as coisas que a gente gosta de fazer junto. A gente já vem treinando lado a lado esses dias todos. Agora, é sintonia fina. Afinar os detalhes da parceria e estar pronto para performar no mais alto nível."

SE/EM: O Brasil busca a primeira medalha olímpica no tênis na história. Essa é a meta de vocês para Tóquio? O que significaria esse pódio para você e para o tênis brasileiro em geral?

MM: "Com certeza. A gente tem esse objetivo desde o ano passado. A Olimpíada este ano é uma prioridade para nós. A gente está no caminho certo e vai fazer o possível e o impossível. É muito importante não só para as nossas carreiras, mas para o tênis brasileiro. Iria coroar a carreira que ambos tivemos com uma medalha inédita para o Brasil. Ficaríamos extremamente satisfeitos e orgulhosos por mais essa conquista para o tênis brasileiro. Espero conquistar para conseguir esse feito histórico."

BS"Com certeza essa é a nossa meta para Tóquio. No início do ano passado, a gente já falou isso. E repetimos este ano. A medalha olímpica é o nosso foco principal do ano, o nosso grande sonho. Acho que significaria muito para o tênis brasileiro de uma forma geral. Coroa a nossa carreira, a minha e a do Marcelo, mas especialmente o tênis, para a gente ter essa tão sonhada medalha. O esporte merece.

Seria uma grande honra para a gente conseguir esse feito. Já é uma grande honra para a gente poder representar o nosso país, levar a nossa bandeira aos Jogos Olímpicos, e conquistar essa medalha seria realmente coroar tudo o que a gente fez ao longo dos últimos 20, 21 anos da nossa carreira. A gente está num estágio final da nossa carreira. Não sei quanto tempo mais a gente vai jogar, então ganhar essa medalha seria realmente a realização de um grande sonho e coroaria tudo o que a gente conquistou."

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