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Presidente do América faz balanço de 2019 e revela planos para próxima temporada

Em entrevista ao Superesportes, Marcus Salum passou a limpo o ano do Coelho

postado em 25/12/2019 08:00 / atualizado em 24/12/2019 17:08

(Foto: Alexandre Guzanshe/EM)
A temporada de 2019 para o América foi de altos e baixos. No Campeonato Mineiro, a equipe foi eliminada na semifinal para o Cruzeiro, que viria a ser campeão. Na Copa do Brasil, o Coelho decepcionou e caiu diante do Juventude-RS, na segunda fase. Depois, uma Série B de extremos. De lanterna sob o comando Maurício Barbieri, o time cresceu de produção com a chegada de Felipe Conceição e brigou pelo acesso até a última rodada. Ao Superesportes, o presidente Marcus Salum fez um balanço do ano do Alviverde e revelou os planos para 2020.

No último compromisso pela Série B, bastava ao América a vitória diante do já rebaixado São Bento para voltar à primeira divisão. Mesmo com o Independência lotado, a equipe foi surpreendida pelo time do interior paulista e viu, dentro de casa, o sonho do acesso escapar. Apesar da derrota por 2 a 1 ter postergado o retorno à Série A, o balanço do ano americano foi positivo. Para o presidente Marcus Salum, o trabalho apresentado ao longo da temporada mostrou a capacidade de reação do grupo.

“Eu diria que, neste ano, o resultado final foi mais positivo do que negativo. Nós deixamos uma mensagem muito boa, uma mensagem otimista da nossa capacidade de reação e de um trabalho organizado”, ponderou, em entrevista ao Superesportes.

Apesar da frustração de não garantir a vaga na primeira divisão em 2020, Salum disse ter identificado os problemas que atrapalharam a campanha do América este ano. Mesmo que o resultado não tenha sido o esperado, o presidente considera ter tomado as atitudes corretas.

“Nós começamos (o ano) com o Givanildo, estávamos bem, mas o desempenho da Copa do Brasil nos incomodou. Nós não fomos bem, começamos mal o campeonato e aí nós optamos por fazer uma contratação de um treinador de ponta, novo e que fez um trabalho no Flamengo. Na nossa visão, estava preparado e no nosso entendimento essa modificação seria feita na mão dele. Infelizmente, no futebol nem sempre o certo dá certo e o errado dá errado. Depois daquela derrota para o São Bento, eu acredito em tudo. O Maurício Barbieri não foi bem, a situação estava crítica e nós tivemos uma atitude de coragem que era mandar ele embora e lançar o Felipe (Conceição). Nós demos a ele essa oportunidade, que ele aproveitou muito bem e fez um belo trabalho”, avaliou. 



Com objetivos já traçados para a próxima temporada, o planejamento do América começou antes mesmo de 2019 terminar. Em termos de mercado, o Coelho já anunciou as renovações de algumas de suas principais peças na arrancada histórica na Série B. Os novos vínculos dos goleiros Airton e Léo Lang, dos laterais Leandro Silva, Diego Ferreira e João Paulo, do zagueiro Lucas Kal, do meia Geovane e dos atacantes Vitão e Neto Berola demonstram que o clube quer manter a mesma base em 2020.

“O América teve muito sucesso defensivamente em termos de organização. Então, as renovações que nós anunciamos são as renovações da base do time. A mudança que nós vamos fazer, e o consequente aproveitamento da meninada, é do meio para frente especificamente. Se a gente começar a renovar e contratar jogadores mais caros, mais experientes, acaba tomando o espaço dos meninos que vão ser lançados. Eu não estou nem dizendo que nós vamos renovar ou não vamos renovar, isso daí cabe ao departamento de futebol, logicamente eu sei o que está sendo feito, porque é sob o meu comando, mas, basicamente, hoje, nós temos uma mexida que vai ser feita do meio para frente no América, que foi a parte que funcionou menos durante o ano”, explicou Salum.



Em contrapartida, alguns atletas ainda não tiveram seus contratos renovados, como é o caso do zagueiro e capitão Ricardo Silva e do atacante Júnior Viçosa. Porém, segundo o presidente, a postura do América no mercado será a mesma dos últimos anos: buscar jogadores emergentes.

“Nós liberamos muita gente. Temos um problema na zaga, que é a renovação do Ricardo (Silva) que ainda não aconteceu, então isso vai acontecer. O perfil não muda, o projeto técnico foi feito pelo treinador. O perfil para os jogadores a serem contratados é o tipo de jogador que ele quer. Normalmente, o América trabalha com jogadores emergentes, jogadores jovens, porque em todas as negociações nós temos percentual e isso também é um trabalho para a gente arrecadar. O nosso projeto é realmente trazer jogadores que não são muito badalados, pelo menos nessa primeira fase”, afirmou.

Contratações pontuais e aproveitamento da base

Mesmo com pouco poder de investimento, o América já se reforçou com dois jogadores que vão encorpar o time de Felipe Conceição. O primeiro deles foi o meia Alê, de 29 anos, ex-Cuiabá. Depois, o clube trouxe o volante Rickson, de 21. Emprestado pelo Botafogo até o fim do Estadual, o atleta é um pedido do treinador. Apesar dos reforços, a ideia da diretoria e da comissão técnica é dar mais chances aos jovens atletas das categorias de base americana.

“O que nós vamos fazer em 2020 é um Campeonato Mineiro com mais oportunidades aos jogadores da base, que é uma das grandes virtudes do treinador. Essa é uma virtude que custa caro, o clube precisa de um treinador que olha para a base e corre o risco de lançar o menino, porque às vezes não é a vontade nossa que prevalece. Você tem um treinador e ele tem o nome para zelar, tem que conseguir resultados. Tem que ter coragem, e o Felipe tem. Nós combinamos que iríamos remontar o plantel com muitos meninos da base, especialmente no primeiro semestre para a gente ver com quem podemos contar para o Campeonato Brasileiro”, afirmou Salum.
 
 

Segundo Marcus Salum, o Coelho fará apenas contratações pontuais para agregar valor ao elenco americano.
“O projeto técnico feito pelo treinador com a nossa comissão técnica e todos nossos diretores já mostra quantos jogadores por posição nós vamos ter que contratar, trazer de fora e aproveitar da base. Então, vou dar um exemplo sem compromisso: precisamos de três atacantes, como será o perfil deles? Uma aposta, um jogador da casa e um de fora. A partir daí você vai para o mercado e monta esse quebra-cabeça. Logicamente, tudo o que a gente fizer no primeiro semestre pode sofrer uma alteração no segundo”, completou.

Marcus Salum assumiu um cargo administrativo no América pela primeira vez em 1986. Três anos depois, o mandatário esteve na direção de futebol do clube - função na qual foi responsável até 1993. Em 1995, voltou ao Coelho, mas precisou se afastar por problemas particulares. Porém, no ano seguinte, candidatou-se à presidência e foi eleito. Seu mandato seguiu até dezembro de 1999. Salum também passou pelo Conselho Deliberativo de 2000 a 2002. Em 2009, quando o clube se encontrava em crise, o dirigente retornou ao Alviverde e continua à frente do clube até os dias de hoje.

À reportagem, Salum comentou outros temas relevantes, como o mercado do América, a participação do Cruzeiro na Série B de 2020, a possibilidade de parceria com investidores estrangeiros e a gestão da BWA no Independência.
(Foto: Alexandre Guzanshe/EM)

ENTREVISTA COM MARCUS SALUM

Qual o balanço que você faz da temporada do América? Internamente, o clube já identificou erros e trabalha para mudar essa situação em 2020?

“Foi um ano muito conturbado. Cair da Série A para a B da forma que nós caímos foi muito duro. Duro no aspecto emocional porque nós não fizemos um campeonato para cair, fizemos 40 pontos e estivemos na ponta da tabela dos clubes debaixo, em 11º, 12º até o oitavo e tivemos uma queda final, tivemos alguns problemas ao longo do campeonato, a perda do treinador, a perda de um jogador importante e ainda nós achávamos que não iríamos cair. 

Como nós caímos, a queda emocionalmente nos custou caro e financeiramente mais ainda. Porque a estrutura de um time e um orçamento de um time da (Série) A para a B muda muito, e o América vinha de um orçamento maior para um orçamento menor, tendo que desfazer de todos os jogadores do nível da Série A. O América não é uma equipe que tem torcida grande, que você possa reverter alguma coisa se você não tiver um trabalho programado. Então, nós passamos grande parte do ano nos reequilibrando pela queda. Eu falo que só para dispensar os jogadores, pagar novembro e dezembro, as coisas que ficaram para trás, nos custa quatro folhas do ano seguinte. Então, ao invés de pagar 12 folhas, nós pagamos 16, fora o 13º. Graças a Deus, com muito esforço, nós conseguimos nos equilibrar. 



Agora, vamos para o aspecto técnico. Nós acabamos o ano, nós começamos com o Givanildo, estávamos bem, mas o desempenho da Copa do Brasil nos incomodou. Apesar de que essa fórmula da Copa do Brasil nos joga nesse problema que você joga o segundo jogo com um time melhor, tendo que empatar para ir aos pênaltis. Esse ano não vai ser diferente. Se o América do ganhar do Santos, provavelmente vai enfrentar o Barbalha ou o Operário-PR jogando fora, se precisar dos empates vai para os pênaltis. Então, não é um negócio confortável. Nós não fomos bem, começamos mal o campeonato e aí nós optamos por fazer uma contratação de um treinador de ponta, novo e que fez um trabalho no Flamengo, na nossa visão estava preparado e no nosso entendimento essa modificação seria feito na mão dele. Infelizmente, no futebol nem sempre o certo dá certo e o errado dá errado. 

Depois daquela derrota para o São Bento, eu acredito em tudo. O Maurício Barbieri não foi bem, a situação estava crítica e nós tivemos uma atitude de coragem que era mandar ele embora e lançar o Felipe (Conceição). Nós demos a ele essa oportunidade, que ele aproveitou muito bem e fez um belo trabalho. Eu diria que o no ano, o resultado final foi melhor do que pior porque nós deixamos uma mensagem muito boa, uma mensagem otimista da nossa capacidade de reação, um trabalho organizado. Para mim que sou o presidente foi muito doloroso não ter alcançado a vitória”.

O América lançou alguns jogadores da base ao longo da temporada, como Flávio, Vitão, João Cubas e outros, e sempre foi referência em revelar novos atletas. Faz parte do planejamento para a próxima temporada continuar essa mescla entre juventude e experiência, casos de Juninho e João Paulo?

“O que nós vamos fazer em 2020 é fazer um Campeonato Mineiro dando mais oportunidade ainda aos jogadores da base, que essa é uma das grandes virtudes do treinador. Essa é uma virtude que custa caro, o clube precisa de um treinador que olha para a base e corre o risco de lançar o menino porque às vezes não é a vontade nossa que prevalece, você tem um treinador e ele tem o nome para zelar, tem que conseguir resultados. Tem que ter coragem e o Felipe tem. Nós combinamos que iríamos remontar o plantel com muitos meninos da base, especialmente no primeiro semestre para a gente ver quem a gente pode contar para o Campeonato Brasileiro”. 

O América já anunciou a renovação de alguns jogadores que se tornaram pilares para a equipe, como Lucas Kal, Airton, João Paulo, entre outros. Porém, outros ainda não foram renovados. Apuramos que a diretoria não havia entrado em contato com o Júnior Viçosa, artilheiro do time na temporada. O clube tem o desejo de ficar com o jogador? Ele faz parte dos planos para o próximo ano?

“O América teve muito sucesso defensivamente em termos de organização. Então, as renovações que nós anunciamos é a renovação da base do time. A mudança que nós vamos fazer e o consequente aproveitamento da meninada é do meio para frente especificamente. Se a gente começar a renovar e contratar jogadores mais caros, mais experientes, acaba tomando o espaço dos meninos que vão ser lançados. Eu não estou nem dizendo que nós vamos renovar ou não vamos renovar, isso daí cabe ao departamento de futebol, logicamente eu sei o que está sendo feito, porque é sob o meu comando, mas, basicamente, hoje, nós temos uma mexida que vai ser feita do meio para frente no América, que foi a parte que funcionou menos durante o ano”.

Excluindo as renovações, até o momento, o América anunciou apenas uma contratação, situação diferente em comparação com o ano passado. Qual é o critério para as contratações para a temporada 2020 e qual o perfil de jogador que o Coelho dá preferência nessa janela? 

“Logicamente terão contratações. Primeiro, porque nós liberamos muita gente. Nós temos um problema na zaga que é a renovação do Ricardo (Silva) que ainda não aconteceu, então isso vai acontecer. O perfil não muda, o projeto técnico foi feito pelo treinador. O perfil para os jogadores a serem contratados é o tipo de jogador que ele quer. Normalmente, o América trabalha com jogadores emergentes, jogadores jovens porque em todas as negociações nós temos percentual e isso também é um trabalho para a gente arrecadar. O nosso projeto é realmente trazer jogadores que não são muito badalados pelo menos nessa primeira fase. O caso do Alê era uma posição que nós tínhamos necessidade, era um jogador que já acompanhávamos há algum tempo, casou a oportunidade e ele veio”. 

Ainda nessa linha, o América trabalha com um número fechado de contratações para a próxima temporada? Tem um orçamento definido?

“O orçamento está definido. Nós vamos gastar no futebol deste ano, descontando as rescisões do ano passado que esse ano não tem, mais ou menos a mesma quantia que nós gastamos no ano passado. Não vou dizer números porque isso é um problema interno. O futebol tem que caber dentro do orçamento, por isso que o América é tão respeitado e que cumpre os compromissos com os atletas, se não a gente se perde. 



O projeto técnico feito pelo treinador com a nossa comissão técnica e todos nossos diretores já mostra quantos jogadores por posição nós vamos ter que contratar, trazer de fora e aproveitar da base. Então, vou dar um exemplo sem compromisso: precisamos de três atacantes, como será o perfil deles? Uma aposta, um jogador da casa e um de fora. A partir daí você vai para o mercado e monta esse quebra-cabeça. Logicamente, tudo o que a gente fizer no primeiro semestre pode sofrer uma alteração no segundo. Por exemplo, o Felipe Azevedo disputou o Campeonato Mineiro do ano passado, é um jogador experiente e ele vai disputar o Paulista. É muito melhor eu lançar um menino no lugar do Felipe Azevedo ou um jogador que eu vou testar porque eu já sei o potencial do Felipe Azevedo e o que me interessa é a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. O Mineiro eu tenho obrigação de ficar entre os quatro, mas eu tenho que ter foco na volta do América à primeira divisão”. 

Seguindo no assunto mercado, historicamente o América é um clube formador. Um atleta que está bastante valorizado é o Matheusinho. Jovem, é considerado umas das jóias do América. Você acredita que este é o melhor momento para que o atleta deixe o América tendo em vista que a negociação pode ajudar nas finanças do clube? 

“A regra no futebol é você formar jogador na casa e vender. O jogador tem um período de maturação a ser medido, inclusive, para compensar os investimentos que você faz na base. Se você não vende, você tem uma compensação técnica, mas precisa de uma compensação financeira também. Então, no caso do Matheusinho, ele passou por altos e baixos. Ele era um fenômeno na base, sentiu um pouco a transição para o profissional e ainda teve um grande azar, que foi a contusão. Quando ele voltou, ele não voltou tão bem como começou. Na mão do Felipe (Conceição), o Matheusinho deu um salto impressionante. Então, o Matheusinho é um jogador que está valorizado para o mercado. Eu só vou dar um recado para o mercado: eu não vou fazer barganha para valorizar jogador em outro time. Ele está aqui, quer comprar? Quer comprar um percentual por um preço razoável? Como diz o meu treinador, espera o Matheusinho até o meio do ano que ele vai ser valorizado em nível de Europa”.



A imprensa carioca noticia um suposto interesse do Vasco em contar com Matheusinho para a próxima temporada. Chegou alguma proposta ao América?

“Acabei de desmentir isso. Hoje fui entrevistado por alguém do Rio dizendo que o América está em negociação. Provavelmente, o Vasco procurou algum diretor nosso e fez essa proposta, mas essa decisão é muito mais minha do que de pessoas internas. Eu não vou trocar meu melhor jogador por outros jogadores, isso não está nos nossos planos. Se alguém quiser comprar percentual, levar para fora, nós estamos abertos para negociar. Ninguém é inegociável no América”. 



Outro nome especulado é o de Léo Passos, que pertence ao Palmeiras e estava no Londrina. O que o América pode falar sobre a negociação com o jogador?

“O nome do Léo Passos é um dos nomes daqueles jogadores que se encaixam no perfil do América. É um jogador jovem, que fez um bom campeonato pelo Londrina, que tende a se valorizar e pode estourar. Por isso, está no foco do América. Quando eu digo que ele está no foco do América, não significa que ele contratou ou descontratou, ele está no foco do América neste grupo de possibilidades".

A Série B de 2020 terá a presença de novos integrantes, inclusive do Cruzeiro. Você acredita que no ano que vem será mais difícil o campeonato? O nível será mais elevado?

“Se você for pegar quem cai e sobe, o time que tem mais desempenho é o América. Se pegar os últimos anos do América na Série B nós deixamos de subir duas vezes. Uma porque nós perdemos nos pontos e a outra por conta daquele desastre contra o São Bento. Fora isso, nós subimos todas das últimas disputadas. O Avaí é um grande time, assim como o Bragantino, o Sport, o Coritiba também. Então, a Série B tem o mesmo padrão sempre. São times altamentes competitivos, times que estão no limite da (Série) B com a A e são vários os que subiram, os que caíram, sempre são times com dificuldades orçamentárias para se sustentar na (Série) A. Dois dos que subiram do ano passado caíram e dois ficaram, não vai ser diferente esse ano, dos quatro, dois vão cair e dois vão subir. O que tem de fato novo? A participação do Cruzeiro. É um fato novo, totalmente diferente. Dificulta mais a Série B? Logicamente dificulta.

O Cruzeiro é um time em um padrão acima de Série B. Agora, está vivendo dificuldades, tem que passar por um aprendizado e, logicamente, vai ser muito gostoso disputar a Série B com times do porte do Cruzeiro, para nós é muito melhor. Nós temos que fazer o maior número de pontos para subir, não muda, a Série B não muda. Você faz lá seus 63 pontos que vai subir, não é porque o Cruzeiro está lá que vai impedir de fazer isso. O Bragantino investiu R$45 milhões na Série B e subiu. É fácil, você põe lá o cheque, sai contratando todo mundo, pagando em dia, pagando prêmio. É diferente. A Série B tem clubes com orçamento limitado, com muita experiência e camisa e que tem que ter competência ao longo do ano para subir. O Cruzeiro é um caso atípico, tem até que ver como eles vão se comportar”.

O Bragantino foi comprado pela Red Bull e tem maior poder de investimento que outros clubes no Brasil. Não à toa, foi campeão da Série B. Em entrevista, você revelou a possibilidade de investimento de chineses no América. O que você pensa sobre isso? Ainda existe a possibilidade de o América firmar parceria com os chineses ou qualquer outro investidor?

“O maior desafio de 2020 para nós é esse. Eu considero que o esforço dessa diretoria, o esforço técnico do América ele bate no limite quando ele sobe e faz um bom campeonato na série A. Se eu não partir como presidente do América a buscar um projeto semelhante a esse que nós tivemos perto de fechar e parece que não vai fechar aquele específico dos chineses, porque teve um recuo deles e não teve uma decisão, o América não vai mudar de patamar. Então, essa busca é a busca para 2020. O Brasil está caminhando para abrir esse mercado de investidor no futebol. Por que? Porque o futebol no Brasil é caro, competitivo, com visibilidade e com clubes passando dificuldades financeiras muito grandes. E eu to falando de 16 para cima clubes da série A com dificuldade, eu tiraria três ou quatro. Então, se você abre o mercado e tem investidor, você muda o patamar, cada um no espaço dele. 

Em um time grande de série A, vem um investidor e ele vai tentar disputar o título. No meu caso, eu mudo de patamar, eu passo a ser time de série A se eu tiver um investimento maior. Por enquanto eu sou um clube A-B, aquilo ali no meio e eu estou buscando uma parceria internacional, uma parceria de investidor e isso continua nessa luta porque eu acho que esse é o objetivo do América, é mudar de patamar. E com todo o esforço que a diretoria possa fazer, nós não vamos conseguir com as nossas receitas”.

Com relação à gestão de clubes, vemos, por exemplo, o Cruzeiro em situação muito difícil, principalmente com a queda à Série B. Não precisa comentar a situação do clube vizinho, mas falar especificamente do América. Como vocês têm se preocupado em fazer do Coelho um exemplo para os demais?

“Eu acho que falar de outro clube é sempre muito chato. Tocar o América já é muito difícil porque nosso nível de receita é muito apertado para o desempenho que nós queremos que o América tenha. Se eu me contentasse em ser um time um pouco mais barato, tecnicamente ali na média para baixo na Série B, eu levaria o América com mais tranquilidade, mas não é isso que a torcida quer. Eu sou o representante da torcida e tenho que agradar minha torcida. A torcida quer que o América vá para a Série A e quer que fique na Série A porque ir para Série A, eu mesmo como dirigente eu fui cinco vezes. Então, essa busca demanda responsabilidade e experiência. A maioria dos clubes do Brasil gastam para ter resultado para depois resolver o problema. A gente tenta alinhar essas duas coisas, arriscando um pouco, mantendo o clube na mão, e mesmo assim, passando por muitas dificuldades”.

A cessão do Independência em 2012 previa que o América recebesse parte da arrecadação do estádio por ser o antigo dono. Após a reforma, ficou acordado que o Coelho teria direito a um aluguel por ceder a administração da arena. Porém, o repasse não estava sendo feito. Procede que a BWA, ou LuArenas, tem dívida com o América? Se sim, qual seria o valor?

“Nós estamos com mais ou menos R$ 6 milhões para receber de repasse do Independência. Como o contrato é feito com o Governo do Estado e não com a Arena, porque a cessão foi feita pelo Estado, o Estado contratou a Arena por edital, a Arena tem que pagar o Estado e o Estado nos pagar. Como a Arena não está pagando o Estado, e existe um imbróglio jurídico disso, nós notificamos o Estado mais de uma vez, três vezes já, cobrando do Estado esse repasse, porque nós não temos como cobrar da Arena efetivamente. O Estado, agora, depois da última notificação, já nos enviou uma carta (informando) que está sendo feito um trabalho para resolver o assunto. Inclusive, com pessoas responsáveis por isso já definidas. Eles têm mantido por edital, isso aí está sendo informado. Nossa expectativa é que em 2020 nós possamos resolver isso, porque até pleiteamos a volta do estádio ao América”.

Atlético jogar no Mineirão, Cruzeiro pode jogar no Independência e Coimbra no Independência. De que forma isso impacta para o América?

“Não impacta de forma nenhuma. O América deveria estar recebendo e não está. Então, tudo que acontece no Independência hoje é de responsabilidade do operador e do Governo do Estado. Nós temos regras no contrato que sempre tem de ser cumpridas, e essas regras vêm sendo cumpridas ao longo do tempo com muito dificuldade. Aquele negócio de tampar escudo, aquela coisa que todo mundo sabe, que é uma luta grande. Tentaram fazer arquibancada sem a nossa autorização e tivemos que notificar. Tudo isso já aconteceu. Para nós, impacta pouco. A única coisa que nós não vamos deixar em 2020 é perdurar a dívida sem uma solução. O América já propôs que se isso acontecer abre mão do que ele tem direito para receber, mas quer o estádio de volta”.

Em relação às cotas de TV para a Série B do ano que vem, o valor gira em torno de R$ 7 milhões, sendo seis para o clube e dois de logística. Na sua avaliação, qual seria um valor ideal para os clubes terem uma margem maior para se estruturar ao longo do ano? Além disso, queria que você comentasse sobre a disparidade no valor das cotas que o Flamengo tem em relação aos outros clubes do Brasil. 

“Quando o América estava na Série B, em 2015, eu não era presidente do América. Fui chamado na CBF para fazer parte de uma comissão para renegociar o contrato. Esse valor da televisão estava na faixa de 1 ou 2 milhões de reais para a Série B. Nós conseguimos uma negociação, com adiantamento, com tudo, eu até liderei isso, o contrato aumentou muito. 

O contrato com a televisão, hoje, é perto de R$ 200 milhões na Série B. Infelizmente, nós temos muitos problemas nesse contrato. A CBF tem uma participação, que não deveria ter, a logística desconta dos clubes, no geral, cerca de R$ 34 milhões, que é um absurdo. Além da logística, justiça seja feita, paga a arbitragem, anti-doping, hospedagem, receptivos. Então, esse pacote está com uma gordura que nós não concordamos, e acaba sobrando para o clube seis milhões e pouco em dinheiro, fora toda essa parte. Esse contrato acaba em  2022, e nós já estamos em 2020. É hora de renegociar esse contrato e de discutir isso de uma forma melhor. 

Não é possível, descontando logística e tudo, que o dinheiro da Série B seja inferior a R$ 12 ou 15 milhões para os clubes, não é possível. Esse valor tem que ser reajustado, mas tudo depende do mercado. Quando nós renovamos o contrato em 2015, o mercado estava baixíssimo, uma crise muito grande e, naquela altura, foi um valor muito interessante, inclusive para adiantamento dos clubes.

A gente pretende organizar a Série B para fazermos um trabalho em conjunto em busca de patrocínio, venda de direitos, naming-rights. A Série B, nós temos um comando dela, um grupo de presidentes, para que a gente possa melhorar esses números”.

Como está hoje a estrutura do Lanna Drumond e qual a expectativa com relação ao Planeta América?

“Nós tivemos um problema sério no Planeta América. Primeiro porque tivemos aquele problema da saúde pública em que houve uma interdição por causa de um córrego e que morreram algumas pessoas. Depois, quando estávamos quase formatando tudo, nós tivemos problemas com alguns vizinhos que se achavam no direito de ocupar um espaço. Nós estamos resolvendo isso e já está solucionado. Nós vamos começar a obra em 2020 com tranquilidade. 

A nossa estrutura hoje está muito aquém do que precisamos, especialmente para as categorias de base. Nós temos alguma coisa nova, que vai ser feita em 2020, não vou antecipar porque não está aprovado. Provavelmente, vamos tirar boa parte do futebol de lá, ir para outro lugar, uma associação que nós estamos pensando, para já começar a obra efetivamente e ocupar todos os espaços que nós estamos usando hoje. Isso não é oficial ainda, nós estamos estudando, porque estamos com poucos campos, a nossa prioridade hoje é campo. Nós iríamos começar (a construir) quatro campos quando veio a interdição. Depois, quando estávamos marcando os terrenos, aconteceram alguns probleminhas que já estão solucionados. Agora, a prioridade em 2020 é já começar os campos”.

O empréstimo do Willian Maranhão com o América termina agora em dezembro. O Coelho já conversa com o Vasco para ter o jogador em 2020? A diretoria tem interesse em continuar com ele?

“O caso do (Willian) Maranhão é diferente. O Maranhão teve uma contusão gravíssima, que ele rompeu o adutor no final do ano. Efetivamente, ele tem que voltar para o América para acabar o tratamento. Como ele tem que voltar, a gente não sabe se ele quer continuar ou se ele quer jogar a Série A. Ele se adaptou muito bem, prestou um belo serviço e demonstra juras de amor ao América. Mas, vamos esperar ele voltar, fazer o tratamento. Ele efetivamente ainda não demonstrou interesse de renovar imediatamente. ‘Ah, estou de férias, vou voltar, quero continuar’. Isso a gente tem que ter um certo cuidado, porque quem quer renovar e nós queríamos, nós renovamos. O caso do Maranhão, como ele não é nosso jogador e está machucado, pode ser que o Vasco coloque ele em uma transação. Então, tem que esperar ele chegar, acabar o tratamento e, nesse intervalo, como não vamos poder utilizá-lo no começo do ano, nós vamos conversar com ele. É um jogador que nos interessa”. 

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