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'Atlético só perde o título do Brasileirão se rebolar', diz Dadá Maravilha

Ídolo do Galo concedeu entrevista exclusiva ao Estadão e falou sobre o momento da equipe e dos jogadores

postado em 23/09/2021 09:02 / atualizado em 23/09/2021 09:59

(Foto: Reprodução/YouTube)
A língua continua afiada como nos tempos de jogador. As frases feitas saem com a mesma naturalidade com que Dario, o Dadá Maravilha, pontuou a sua carreira em mais de 20 anos de futebol. Tricampeão do mundo em 1970, no México, e campeão brasileiro com o Internacional, em 1976, ele também está na história do Atlético. Foi dele o gol do título do nacional de 1971, no triunfo por 1 a 0 sobre o Botafogo.

Em entrevista exclusiva ao Estadão , o folclórico ex-atacante falou da fase iluminada do alvinegro de Minas Gerais, disse que o time joga pelo treinador e fez uma projeção ainda mais audaciosa: "O Galo tem time para ganhar também a Libertadores e a Copa do Brasil."

O Atlético lidera o Brasileirão e está na semifinal dos outros dois torneios. Na terça-feira, no Allianz Parque, empatou com o Palmeiras por 0 a 0 no jogo de ida pela semifinal da Libertadores. A partida de volta é na próxima terça-feira, às 21h30, no Mineirão.

Principal jogador da equipe, Hulk também foi pauta da conversa com Dario por telefone. Para o ex-atacante, ele é diferenciado e também um atleta de grupo. Na comparação entre ambos, porém, Dadá destacou uma diferença.

"O Hulk está mais para craque do que goleador, ao contrário de mim. Mas nesse Brasileiro, para ele se igualar ao Dadá de 1971, ele vai ter de ser campeão, artilheiro e fazer o gol do título. Convenhamos que não é fácil", disse.

Os matemáticos estão colocando o Atlético com 80% de chance de ser campeão. Como você vê essa vantagem do time mineiro?

O Atlético está no caminho certo. O Cuca está fazendo o time jogar bonito. Você tem um elenco em que os jogadores são solidários. Eles jogam pelos companheiros. Aliás, o que a gente percebe é que o time joga pelo treinador e isso é muito importante em um esporte coletivo. Um atleta depende do outro.

Uma vantagem de sete pontos para o segundo colocado dá para ser administrada até o final?

Tenho mais de 50 anos de futebol e ganhei muitos títulos importantes na maioria dos clubes que passei. O respeito entre os companheiros e o bom ambiente no grupo facilita muita coisa. Eu vejo o Atlético com uma educação desportiva muito grande.

O que seria essa educação desportiva?

É o companheirismo e o comportamento dentro de campo. No Flamengo, por exemplo, os jogadores discutem o tempo todo. Um xinga o outro. Chuta a bola para longe por qualquer coisa. Você percebe que tem uma turbulência. Isso tira a concentração do jogador. O adversário percebe, dá uma provocada, e a equipe pode perder o foco. O Atlético é um grupo unido, onde todo mundo sabe bem o que faz e porque está cumprindo determinada função.

E como você vê o Palmeiras nesse sentido?

O Palmeiras tem uma grande equipe, mas andou tropeçando demais e isso tira um pouco a confiança. Mas é um baita time e tem que ter respeito. O Cuca é atento a esses detalhes, como o Telê também era. Isso de 80% de chances, de favoritismo, fica para a torcida. Na minha época de Galo, o Telê dizia que se ouvisse de algum jogador que o nosso time já era campeão, ele até tirava o cara do time. O Cuca é assim também. E pensando dessa maneira, o Atlético só perde o Brasileiro se rebolar.

O Hulk é o principal jogador do Atlético e o artilheiro do time. Dá para compará-lo com o Dadá de 1971?

O Hulk é diferenciado. Tá mais para craque do que para goleador. Já o Dadá era um goleador nato. Costumo dizer que tem duas coisas na vida que não aprendi a fazer: jogar futebol e perder gols. Sempre fui muito ruim, mas treinava demais. Cem chutes de direita e de esquerda e mais cem cabeçadas. Na hora do jogo, não tinha como perder gols. São 926 bolas na rede que eu enderecei ao gol adversário durante a minha carreira. Não é pouca coisa.

O Hulk tem tudo para se igualar ao Dadá Maravilha na galeria de ídolos do Atlético?

Não só o Hulk, mas outros jogadores também. Temos um goleiro muito bom (Everson). O Arana tá arrebentando na lateral esquerda Tem o Diego Costa. É muita gente boa. E o Hulk é a estrela da companhia. Atencioso com os torcedores. Foi uma baita contratação e torço muito por ele. Agora, para se igualar ao Dadá é complicado. Ele tem que ser campeão como eu fui em 1971, terminar o campeonato como artilheiro, como eu também encerrei o torneio e ainda fazer o gol do título. É coisa para caramba.

Você fala com muito carinho da campanha do Brasileiro que o Atlético ganhou há 50 anos. Lembra da escalação?

Isso é mole para o Dadá. Renato no gol, Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair. No meio-campo, Vanderlei e Humberto Ramos. Na frente, Ronaldo, o primo do Tostão, Lola, eu e Tiãozinho, ou o Romeu. O Dadá era ruim de bola, mas facilitava muito a vida dos companheiros. Eu fazia cem metros em dez segundos. Tinha uma impulsão maravilhosa. Saltava 80 centímetros do chão. Então, ou era lançar, ou jogar na área.

E as grandes forças para ganhar os títulos neste segundo semestre são mesmo Atlético, Palmeiras e Flamengo?

Difícil algum outro time aparecer por fora e barras essas três equipes. Mas pelo que vejo, o Atlético tem elenco para ganhar não só o Brasileiro, mas também a Copa do Brasil e a Libertadores. O elenco é muito bom, a estrutura do clube oferece todas as condições e o time está embalado. Vem se dando bem contra o Flamengo nos últimos jogos, venceu o Palmeiras com autoridade no primeiro turno. É entrar em campo e jogar futebol O favoritismo fica com o torcedor, com os matemáticos, com a imprensa.

Se você jogasse futebol atualmente, acha que teria a mesma fama de artilheiro construída ao longo da carreira?

Eu sempre fui uma máquina de fazer gols. Isso porque eu não era craque, pelo contrário. Mas sempre fiz o que o torcedor gosta, que é gol. Se naquela época, que tinha grandes jogadores de defesa, era difícil parar o Dadá, imagina agora. Consegui conquistar títulos importantes por onde passei e fazendo gols em jogos decisivos. Mas sempre dividia as glórias por tudo que conquistei com os companheiros. Se eles não lançassem, não cruzassem na área, não existiria o Dadá. Mas graças a Deus eu construí uma história muito bonita no futebol.

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