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Pagamento de dívidas e sem medalhões: Milton Bivar faz balanço do ano e projeta 2020

Em entrevista ao Superesportes, presidente rubro-negro fala das dificuldades encontradas na atual temporada e diz que não concorrerá à reeleição

postado em 16/11/2019 08:15 / atualizado em 16/11/2019 13:50

(Foto: Anderson Stevens/Sport Club do Recife)
A temporada 2019 para o Sport entra na sua reta final com o título estadual conquistado em cima do Náutico, nos pênaltis, e com o retorno à Série A quase definido após apenas um ano na Série B. Hora então de fazer um balanço de tudo o que aconteceu dentro do gramado da Ilha do Retiro e, principalmente, nos bastidores do clube. Por conta disso, o Superesportes entrevistou com exclusividade o presidente Milton Bivar.
 
Entre os principais pontos destacados pelo mandatário rubro-negro, a atual situação financeira foi repetida mais de uma vez. Bivar, que já foi presidente no biênio 2007/2008, conquistando a Copa do Brasil, e ocupou cargos diversos no departamento de futebol, disse que nunca viu o clube tão endividado e sem dinheiro como em 2019. E isso influenciou diretamente no andar da temporada.
 
Citou uma dívida com a Globo - herdada de gestões passadas - como o momento mais difícil da temporada e disse que há uma briga de vaidades nos bastidores do clube. Além disso, garantiu que não tentará a reeleição.
 
Como principal acerto em sua gestão até agora, Bivar destacou as contratações de jogadores. E com o time com 99,99% de possibilidade de acesso, garantiu os pés no chão para a Série A e prometeu que não fará contratações midiáticas. Como principal meta para 2020 está o enfrentamento das dívidas. Haverá mais dinheiro, entretanto haverá também mais cobranças. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Que balanço o senhor faz de 2019?
Já fui presidente uma vez. Fui vice-presidente de futebol uma vez, fui diretor de futebol duas vezes e sempre estive junto da maioria das diretorias ajudando. E nunca vi o Sport com uma dificuldade tão grande como a deste ano. Pra mim, foi o maior desafio que já tive na minha carreira esportiva no Sport.

Então, a realidade foi mais complicada do que o senhor imaginava?
Além da complicação financeira, não dava para saber os números. Fomos sabendo aos pouquinhos. Era uma realidade muito difícil e que não está resolvida. Quero deixar bem claro para toda a torcida que vou fazer uma reunião com o Conselho Deliberativo, para não se precipitar. No ano de 2020 voltaremos para a Série A, tudo bem, mas vai ser um ano muito difícil. Até que a gente saia desse problema financeiro, isso vai levar quatro ou cinco anos.  

Se fosse escolher o momento mais difícil na temporada, qual seria?
Para mim, foi a surpresa em relação à cota de televisão. Porque apareceu uma carta assinada pelo presidente anterior, autorizando a Globo a descontar parte do que o Sport deve à ela, fruto de adiantamentos de gestões passadas, e que eu pensava que a Globo não iria descontar, mas ela descontou. Isso atrapalhou todo o nosso planejamento do ano.  

Qual o maior acerto da sua gestão?
Foi eu ter muita sorte nas contratações e na formulação do elenco. Eu não pensei que tinha tantos amigos no futebol e que me ajudaram a contratar uma série de jogadores sem ter muito dinheiro no bolso.

(Foto: Anderson Stevens/Sport Club do Recife)
O senhor acredita que politicamente o clube vive um momento de mais tranquilidade?
Eu só sei o seguinte: ‘Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão’. Então, o que realmente houve e que me chateou bastante, e digo de coração, é você sair de casa e deixar sua tranquilidade, vir trabalhar no clube sem ganhar um tostão, absolutamente nada, e ainda estar sofrendo ataques covardes de parte de algumas pessoas simplesmente por projeto pessoal de A, B ou C. É tanto que eu não fico mais de dois anos. Não há perigo. E eles são sabedores disso e, mesmo assim, atrapalham mesmo. Porque existe uma briga de vaidades muito grande dentro do Sport. E alguns querem ser os “Papas”, digamos assim. E aí quando vem uma pessoa simples, honesta como eu, e tem pé no chão, eles têm medo de acontecer o que está acontecendo, que é esse reconhecimento total.

O clube estará de volta à Copa do Nordeste no ano que vem. Foi a melhor escolha voltar à competição?
Eu não tenho dúvidas que a saída do Sport da Copa do Nordeste foi muito temerária e muito prejudicial para o ano inteiro, até para o calendário. Muitas pessoas perguntam: Por que o Bragantino ganhou (a Série B)? O Bragantino se preparou antes, participou do Campeonato Paulista, recebeu uma cotação para participar do Paulista maior do que a própria cota da Série B. Foi um time que quando entrou na competição já estava montado. E nós não. Só tivemos o Campeonato Pernambucano. Faltou rodagem para o elenco. A gente jogava e depois ficava 15 dias sem jogar. E isso foi ruim. Até porque eu não pude nem contratar. Como eu vou contratar se eu não tenho renda?

Apesar de falar que faltou rodagem ao elenco neste ano, há alguma possibilidade do Sport colocar um time mais alternativo no estadual?
Eu não tenho dúvida que esse é o caminho. E neste ano a gente procurou fazer. E inclusive ano que vem vamos fazer também. E não é colocar o Pernambucano em segundo plano. Em todas as competições o Sport entra para ganhar. Mas na forma que pretendemos fazer, é a utilização, a experiência e a oportunidade aos jogadores de base. O pessoal do sub-20 e sub-17 e sub-23 é quem vai iniciar a temporada. Inclusive, nessa semana vão entrar de férias. No dia 20 de dezembro, eles se apresentam, bem antes do pessoal do profissional.

Se confirmado o acesso, quais as principais metas para 2020?
As principais metas para o ano que vem é o enfrentamento das dívidas. Porque tem essa situação que eu não pude nem fazer neste ano, porque eu não tinha dinheiro nem para pagar a primeira parcela. E agora não adianta. Eu não vou pegar os problemas do Sport e colocar embaixo do tapete e formar um time com jogadores midiáticos e de níveis de Série A. Eu não vou fazer isso. Vai ter time modesto, brigador e decente. Porém, a prioridade do ano que vem é o pagamento das dívidas.

O retorno para a Série A faz com que a torcida acredite em reforços de “peso”. É possível trazer?
Não temos essa meta. É impossível fazer isso. Senão eu estaria estragando com os pés o que eu construí com as mãos. Foi um trabalho danado a gente voltar para a Série A de imediato. E a gente consegue isso e, ao mesmo tempo, a gente começa a cometer irresponsabilidades. Entende? É a mesma história do sujeito que ganha 5 e gasta 10. Aí ele passa a ganhar 10 e gastar 30.

Quais lições que se dá para tirar do último ano na Série A de 2018?
Eu já tenho há alguns anos uma filosofia de trabalho e que realmente não vou fazer e não faria, que é endividar o clube. Isso aí eu já estou fazendo. Eu prefiro ser taxado de incompetente do que deixar meu clube quebrado.