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NBA de tributo a Kobe Bryant, pandemia e protestos políticos chega à final

Na bolha da Disney, LeBron lidera Los Angeles Lakers contra Miami Heat com chance de homenagear Black Mamba com título da liga

postado em 30/09/2020 09:10 / atualizado em 30/09/2020 09:42

(Foto: Mike Ehrmann/AFP)
O famoso slogan da Walt Disney World “Where dreams come true” (onde os sonhos se tornam realidade) ganhou forma nas quadras da principal liga de basquete do mundo. O enredo começou com um drama. Em 26 de janeiro, o astro Kobe Bryant, a filha Gianna, de 13 anos, e mais sete pessoas morreram na queda de um helicóptero na costa oeste dos Estados Unidos.

Em uma edição da NBA marcada pelo luto por um ídolo, pela pandemia que matou mais de um milhão de pessoas no mundo e por protestos históricos contra o racismo, parece real o sonho do Los Angeles Lakers de homenagear, com um título, a estrela que fez os torcedores se orgulharem por 20 anos. A jornada de até sete jogos começa nesta quarta-feira (30/9), às 22h, contra o Miami Heat, em uma final inédita.

A pandemia da covid-19 atingiu em cheio os Estados Unidos, com mais de 7 milhões de infectados e 200 mil mortes, e paralisou todas as competições esportivas. Para retomar os playoffs da temporada, a NBA criou uma bolha no resort mais visitado do mundo, em Orlando, na Flórida. Concentrou 22 times na Walt Disney World, em uma logística que envolveu mais de 800 pessoas, contando apenas jogadores e comissão técnica, e custou aproximadamente R$ 1 bilhão.

Com protocolos sanitários rígidos, testes diários para covid-19, auxílio de muita tecnologia e engajamento dos atletas, a estrutura mostrou-se um exemplo de competência até o momento. Desde o primeiro dia de jogos, em 30 de julho, nenhum caso da doença foi registrado na competição.

O protagonista para comandar a tão sonhada homenagem à altura de Kobe Bryant veste a camisa dourada e roxa de número 23, tem 2,06m e atende por LeBron James. Na primeira partida após a tragédia, contra o Portland Trail Blazers, o líder dos Lakers emocionou os fãs do jogador que partiu aos 41 anos. No discurso, largou o texto que havia deixado pronto para falar “com o coração” sobre o amigo.

“Quero continuar com meus companheiros de clube o seu legado”, avisou. Dias depois, LeBron revelaria uma tatuagem de uma mamba negra – uma espécie de cobra que era também o apelido de Kobe, com os números 8 e 24, usados pelo ídolo na carreira inteiramente dedicada ao time de Los Angeles.

Kobe e Lebron


Adversários nas quadras e concorrentes diretos por quebra de recordes pessoais, LeBron e Kobe nunca se encontraram em finais da NBA. Os dois defenderam a mesma equipe apenas na seleção dos Estados Unidos. Juntos, foram bicampeões olímpicos nos Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012.

Quando Black Mamba estava aposentado e LeBron enfrentava a desconfiança de parte da torcida na chegada ao Los Angeles, Kobe o defendeu diante dos fãs: “Devemos abraçá-lo como um de nós”. Na despedida, LeBron compartilhou o carinho pelo amigo. “Kobe é um irmão para mim. Todas as batalhas que tivemos durante minha carreira, uma coisa que sempre compartilhamos foi a determinação de sempre querer vencer. E querer ser incrível.”

(Foto: Mike Ehrmann/AFP)
Inspirado pelo espírito de Kobe, LeBron James reencontra o Miami Heat, onde foi tão feliz. Em 2010, ele defendeu o time ao lado de Dwyane Wade e Chris Bosh. Em quatro anos, liderou a equipe a dois títulos da liga: 2012 e 2013. Então executivo do time, Pat Riley desempenhou papel importante na contratação de LeBron James, com o objetivo de compor o trio com Wade e Bosh, que ficou conhecido como o Big Three.

Agora, como presidente da franquia, Pat Riley, que colecionou títulos como técnico dos Lakers na década de 1980 – com o showtime comandado por Magic Johnson – reencontra King James do outro lado da quadra, na série de melhor de sete jogos da decisão. 

Atletas lideram manifestações


A temporada 2019/2020 da NBA entrou para a história também fora das quadras. Em meio à paralisação da competição por causa da pandemia da covid-19, estrelas da liga norte-americana de basquete foram às ruas e se juntaram às manifestações que explodiram nos Estados Unidos contra o racismo e a violência policial no país.

Nomes como Giannis Antetokounmpo, Russell Westbrook, Bradley Beal, John Wall fizeram coro ao grito de “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). LeBron James publicou uma foto com uma camiseta com a frase “I can't breathe” (eu não consigo respirar), que foram as últimas palavras de George Floyd, morto aos 46 anos, em Minnesota, por um policial que se ajoelhou sobre o pescoço dele. 

Na retomada dos jogos, os atletas estenderam os protestos à NBA, cobrando mais representatividade tanto na liga quanto nas franquias que a compõe. Uma nova ação violenta da polícia contra um cidadão negro provocou boicotes na primeira rodada dos playoffs da competição. O Milwaukee Bucks foi o primeiro a não entrar em quadra.

O time é do estado de Wisconsin, onde Jacob Blake, de 29 anos, levou sete tiros de um policial branco pelas costas enquanto entrava em um carro. O ataque ocorreu na frente dos filhos. A decisão de não jogar naquele dia foi acompanhada por outras equipes, forçando o adiamento de vários confrontos. 

Ídolos negros no basquete 


Os maiores ídolos do basquete são negros. Lebron James e Kobin Bryant despontam nessa lista, que tem Bill Russell como personalidade histórica. O ex-pivô do Boston Celtics foi pioneiro na liga ao bradar contra o racismo ainda na década de 1960. Nos últimos 50 anos, o prêmio de Jogador Mais Valioso (MVP) das finais da NBA se concentrou em 31 atletas – 23 negros e oito brancos.

“Como homens e mulheres indígenas, afrodescendentes e caribenhos entretendo o mundo, vamos continuar usando nossas vozes e plataformas por mudanças positivas e verdadeiras”, diz parte de um texto escrito por um coletivo de jogadores da NBA e da WNBA, liderado por Avery Bradley, dos Los Angeles Lakers, e Kyrie Irving, do Brooklyn Nets. 

Na publicação, os atletas ressaltam: “Estamos combatendo os principais problemas: não vamos aceitar que a injustiça racial continue sendo ignorada em nossa comunidade”. Em uma reunião entre as equipes, os Lakers e os Clippers, ambos de Los Angeles, votaram pelo boicote do restante da competição, mas foram votos vencidos. O protesto geral, porém, segue reverberando dentro e fora dos Estados Unidos.

Uma reivindicação que pode impactar as eleições presidenciais do país.  Candidato à reeleição, o presidente Donald Trump criticou as manifestações sociais dos jogadores e dos clubes da NBA. “Eles se tornaram uma organização política e isso não é bom”, disse. Sem dar bola para o mandatário, LeBron James faz campanha conclamando a população negra a comparecer às urnas em 3 de novembro e mudar os rumos dos EUA.