Os bilhetes mais baratos do torneio custam R$ 120. Em outras moedas sul-americanas é preciso muito dinheiro para entrar em uma partida. Na Venezuela, a população local necessita de 200 mil bolívares soberanos. Os argentinos gastam cerca de 1.354 pesos. No Paraguai, são necessários 192 mil guaranis (veja o quadro com o valor de cada país sul-americano).
Por causa dos preços elevados, a estreia da Seleção Brasileira teve renda de R$ 22.476.630,00. Dos jogos disputados até aqui, nenhum deles foi com o estádio lotado. O melhor público até agora foi registrado em Brasil 3 x 0 Bolívia (46.342), no Morumbi. A estreia da Copa América em Belo Horizonte levou apenas 13.611 pagantes ao Mineirão. Os outros dois maiores públicos foram em jogos da Argentina.
Até os próprios jogadores que disputam a competição entendem que os ingressos estão caros. “As pessoas tinham de ter um pouco de sensibilidade com os preços. Acho que estão exagerados”, disse o zagueiro Thiago Silva. Outro que concorda com esse ponto é o armador De Arrascaeta, da Seleção Uruguaia. “O ingresso está muito caro para o povo poder ir para o jogo. Acho que poderia ser um pouquinho mais acessível para todo mundo poder desfrutar dos jogadores e desta copa, que é tão prestigiosa”, frisou.
Quem foi ao Gigante da Pampulha para ver Uruguai x Equador reclamou dos preços. O estudante de engenharia aeroespacial Humberto Dutra, de 22 anos, se queixou dos valores praticados. “Realmente é um pouco abusivo, foge do que a gente está acostumado no Mineirão”. O estádio ficou longe de ter um clima de Copa do Mundo, como ocorreu em 2014. Pesa um desinteresse pelo torneio de grande parte dos belo-horizontinos. A cidade não está colorida com as cores do Brasil nem é possível ver a empolgação dos torcedores pelas ruas.
PREÇOS EM JOGOS DE CLUBES
Os preços para os jogos dos clubes na Copa Libertadores são mais baratos que os praticados na Copa América. Até final continental é mais em conta para os torcedores.
O Cruzeiro cobrou pela estreia em casa na Libertadores, no Mineirão, em jogo contra o Deportivo Lara, da Venezuela, de R$ 40 a R$ 120 para os torcedores não associados. Já o Atlético, no duelo contra o Cerro Porteño, o primeiro na fase de grupos, colocou os bilhetes a R$ 50 para sócios e R$ 100 para os torcedores na bilheteria.
Outros clubes do continente também praticam preços mais econômicos. Na Colômbia, no jogo entre Palmeiras e Júnior Barranquilla, no Estádio Metropolitano Roberto Meléndez, os ingressos variaram de 30 mil pesos colombianos (R$ 36) a 120 mil pesos (R$ 146). O torcedor do Verdão pagou 70 mil pesos colombianos na entrada (R$ 86 reais) e viu seu time vencer por 2 a 0.
No Equador, o torcedor celeste desembolsou um preço bem em conta no jogo contra o Emelec, no Estádio George Capwell, em Guayaquil. Os visitantes pagaram apenas 6 dólares (cerca de R$ 24). O Cruzeiro venceu por 1 a 0, gol de Rodriguinho.
Já no Uruguai, a vitória do Nacional sobre o Atlético por 1 a 0, no estádio Parque Central, no dia 12 de março, teve ingressos de 200 (R$ 22) a 1500 (R$ 166) pesos uruguaios. O atleticano teve que arcar com 1100 pesos uruguaios (cerca de R$ 120) na entrada.
Por sua vez, no Chile, o torcedor do Internacional pagou um preço razoável na vitória sobre o Palestino por 1 a 0, no dia 6 de março, pela primeira fase da Copa Libertadores. O valor da entrada foi comercializada a 10.000 pesos chilenos (cerca de R$ 57,50).
Os ingressos no Paraguai costumam sair bem mais baratos. Para o jogo entre Cerro Porteño e Deportivo Santani, no dia 11 de maio, pela 21ª rodada do Apertura, o bilhete mais barato saia a 10 mil guaranis (R$ 6), com os mais caros a 70 mil (R$ 44). Para um jogo decisivo, o preço cresce por causa da importância do confronto e pela procura. No duelo das oitavas de final da Copa Libertadores, o Cerro negocia o ingresso mais barato a 20.000 guaranis (R$ 12,60), com o mais caro a 130 mil guaranis (R$ 82).
FINAL CONTINENTAL MAIS BARATA
Na final da Recopa Sul-Americana, por exemplo, um sócio do River Plate pagou 800 pesos (R$ 71) para ver o time de Nuñez levantar o caneco contra o Athletico-PR, no jogo em Buenos Aires. Para não associados, o preço era de 1.500 pesos (R$ 133) o mais barato.
O sócio do San Lorenzo que acompanhou a vitória sobre o Palmeiras (1 a 0) pela Copa Libertadores, no dia 2 de abril, pagou 400 pesos (R$ 35) no ingresso mais barato. Não sócios são obrigados a comprar um carnê (150 pesos, cerca de R$ 13), com o ingresso mais barato a 700 pesos (R$ 62).
Na temporada passada, o torcedor cruzeirense que quis ir à Bombonera pagou R$ 200 no ingresso de visitante, em jogo das quartas de final da Copa Libertadores. O mesmo preço foi praticado na partida de estreia da Raposa nesta edição do torneio da Conmebol, contra o Huracán, no estádio El Palacio,em Buenos Aires.
CRISE ECONÔMICA
Argentina e Brasil, os dois principais países da América do Sul, vivem crises econômicas que comprometem a adesão dos torcedores. A situação da Argentina é mais delicada.
A crise no país vizinho começou em 2013, com estagnação econômica, aumento do desemprego e elevação dos gastos públicos. Desde 2015, o presidente eleito Mauricio Macri assumiu na tentativa de fazer um ajuste fiscal, reduzindo a dívida pública e ganhando a confiança do mercado. Não deu certo.
A situação argentina se agravou com a disparada da inflação por causa da fuga de capitais. Atualmente, a inflação no país está em 57%. O câmbio se desvalorizou rapidamente. Segundo a Bloomberg, o peso argentino foi a pior moeda emergente em comparação com o dólar em 2018: desvalorização de 52,4%. Para comprar um ingresso da Copa América, o argentino tem que desembolsar mais de mil pesos.
As consequências dessa crise são perversas. Em abril deste ano, o Indec - similar ao IBGE no Brasil -divulgou dados preocupantes: 32% da população argentina está abaixo da linha da pobreza, com 6,7% considerados indigentes.
O Brasil vive um situação menos preocupante em relação à Argentina. A economia patina, com crescimento do PIB de modestos 0,98% em 2017 e 1,1% em 2018. Entre 2011 e 2020, economia brasileira deve avançar em média 0,9% ao ano, projeta a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Outro dado preocupante é o desemprego, com taxa 12,4%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para reduzir o gasto público e colocar as contas em órdem, o governo quer aprovar reformas, em especial a da previdência.
De forma geral, a América Latina não passa por um momento positivo. A projeção de crescimento neste ano é de apenas 1,7%, segundo relatório da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), órgão vinculado à ONU. "Para o ano de 2019 se vislumbra um período em que longe de diminuir, as incertezas econômicas mundiais serão maiores e provenientes de distintas frentes. Isso repercutirá no crescimento das economias da América Latina e do Caribe, que, em média, se expandirão 1,7%", diz o documento da Cepal.
Com dificuldade de crescimento, a situação de grande parte da população da América Latina, de forma geral, praticamente inviabiliza gastos elevados com viagem ao Brasil, hospedagem, transporte e alimentação, além dos preços dos ingressos.
Venezuela
País rico em petróleo, a Venezuela, em seu momento dramático, é um capítulo à parte na América do Sul. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a inflação deva atingir 10.000.000% neste ano. De acordo com a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) das Nações Unidas, o país teve uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) de 15% no ano passado, com projeção de baixa de 8% neste ano. Por causa da crise, a população sofre com fome, violência e falta de atendimento na saúde. A opção para muitos é cruzar as fronteiras: cerca de 3,4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela desde que a crise se intensificou. Em janeiro, o presidente Nicolás Maduro, aumentou o salário mínimo de 5,22 para 20,9 dólares. Para comprar um ingresso da Copa América, um venezuelano teria que desembolsar cerca de 200 mil bolívares soberanos.