As primeiras intervenções práticas de Alexandre Gallo após o vexame da Copa do Mundo mostram quais rumos tomará o futebol brasileiro nos próximos anos. Ontem, o coordenador das categorias de base da Seleção convocou a equipe olímpica, sub-23, pela primeira vez. Hoje, comanda a estreia da nova geração sub-20 no Torneio de Valência. Nesse primeiro momento, a força física vai se sobrepor ao talento. E, por isso, é improvável que o futuro da Seleção esteja sendo construído por Gallo.
Entre os 44 convocados para as duas categorias, é clara a prioridade para jogadores altos e fortes, especialmente entre zagueiros, volantes e atacantes. As poucas exceções são os laterais e alguns dos meias que atuam pelos lados do campo. O time que estreia hoje no Torneio de Valência, contra o Catar, tem altura média de 1,80m. Os prováveis titulares olímpicos têm, em média, 1,82m. O Brasil que entrou em campo contra a Alemanha, no humilhante 7 x 1 do Mineirão, tinha 1,81m.
Os números, hoje, são parecidos. Mas os rapazes da sub-20 ainda devem crescer e, principalmente, ganhar massa muscular. “Geralmente, os homens crescem até 18 ou 19 anos. O fato de ser esportista não faz a pessoa crescer por mais ou menos tempo”, aponta o ortopedista Julian Machado. Gallo é conhecido, nos clubes pelos quais passou, por priorizar jogadores fortes, em detrimento dos baixinhos. E só a escolha baseada em força é capaz de explicar o que Yuri Mamute, atacante do Botafogo, por exemplo, faz na geração que deveria representar o futuro do futebol brasileiro.
Brucutus Enquanto Alemanha, Argentina, Espanha e Itália trabalham volantes talentosos desde a base, capazes de dar passe e criar o jogo desde a defesa, o sub-20 brasileiro só tem o atleticano Eduardo Henrique para a função. No sub-23, o único com essas características é o cruzeirense Lucas Silva. Assim, praticamente toda a criatividade estará nos pés de Boschilla (sub-20, São Paulo) e Rafinha Alcântara (sub-23, Barcelona), jogadores com poucas partidas profissionais no currículo.
As opções de Gallo deixaram de fora jogadores talentosos, como os meias Fred, do Shakhtar Donetsk; Talisca, do Benfica; e Carlos, do Atlético-MG. No lugar deles, está Otávio, machucado desde maio, e que ainda faz trabalhos de recuperação física. A ausência do volante gremista Ramiro no time olímpico, em favor de Matheus Biteco, também é inexplicável. Na lateral esquerda, Abner, do Real Madrid, perdeu espaço para o limitado Douglas Santos. E, na zaga, Lucão e Igor Rabello tomam o espaço que deveria ser do santista Gustavo Henrique ou do flamenguista Samir.
Quando Dunga fizer sua primeira convocação, na próxima terça-feira, não vai chamar nenhum dos atletas lembrados para o time olímpico — uma maneira peculiar de renovar o Brasil, conforme prometido depois do colapso em Belo Horizonte. Mesmo assim, as escolhas do coordenador da base indicam os caminhos que o futebol daqui trilhou. Montar o futuro da Seleção certamente não é um deles.
Três amistosos marcados Os 22 atletas chamados por Alexandre Gallo vão jogar contra Egito, Catar e Líbano entre 1º e 10 de setembro. As datas exatas ainda não foram divulgadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A série de amistosos vai ocorrer no Catar, no mesmo período em que a Seleção principal viaja aos Estados Unidos para enfrentar Colômbia e Equador.
A convocação sub-20
Goleiros Georgemy (Cruzeiro) Marcos Felipe (Fluminense)