None

Tudo o que resta

postado em 25/11/2012 21:55 / atualizado em 07/01/2015 14:18

A queda do Palmeiras não foi repentina como um mal súbito. A queda se anunciava havia meses. Parentes e amigos tiveram oportunidade de se despedir do enfermo. Patologistas do desporto tiveram oportunidade de apresentar diagnósticos e considerações.

A demora do processo, no entanto, apenas torna o troço todo mais inacreditável. Como ninguém pôde fazer nada? Como um clube desse tamanho não conseguiu reunir forças nos dias, semanas, meses que teve para reagir?

Dentro de campo, parece não restarem dúvidas. O elenco era fraco e a conquista da Copa do Brasil tirou a rapaziada da seriedade com que um time precisa encarar o longo e extenuante Brasileiro. Até ser tarde demais.

Luiz Felipe Scolari, que não é bobo, já tinha sacado o problema do elenco. Quando tentou agir, acabou perdendo o ambiente ali dentro. E sua saída deixou exposta a diretoria em todo seu amadorismo e falta de planejamento.

A entrada de Gilson Kleina, há dois meses, já trazia o cheiro de desespero que dali em diante pairou sobre os cartolas e suas ações. Atingindo o ápice do ridículo e do francamente imoral na tentativa de anulação do jogo com o Internacional.

Não foi o primeiro erro da diretoria do Palmeiras. Não foi sequer o mais decisivo. Mas foi o mais emblemático do estado de nervos no Parque Antártica.

Antes disso, o clube já havia se distanciado de sua torcida ao insistir em ter os jogos em Barueri. Felipão, ao que parece, julgava o Pacaembu por demais corintiano para a estima palestrina. O novo endereço até teve serventia na Copa do Brasil. Mas...

Na hora em que a acomodada equipe caiu na rotina do Brasileiro, a tal distância só fez aumentar. E quando o time mais precisou dos torcedores, a resposta de alguns vândalos foi sitiar o clube, pichar o muro, quebrar a loja, aterrorizar os atletas e dirigentes.

Vândalos que terminaram por causar a perda do mando de campo justamente no momento mais agudo do certame. O exílio do time agora não era mais voluntário.

Obviamente os hooligans não representam a torcida do Palmeiras. Mas o fato de o tiro misericórdia ter sido dado por Vagner Love foi irônico demais para passar despercebido. Retumbante demais nessa recente e violenta rotina. Love, tu sabes, tinha sido posto para correr pelos desordeiros da Pompeia. E ele não foi o único.

Quem sabe agora, entre as ruínas fumegantes do fracasso, os espíritos enfim serenem. O Palmeiras fará suas eleições, e suas autofágicas correntes internas precisam se unir sob o consenso mínimo de tirar o clube de onde o meteram.

Os terroristas devem depor as armas. O discurso do ódio e da intimidação precisa ser largado para sempre. Que esses "torcedores" e aqueles dirigentes omissos são os maiores responsáveis pelo segundo rebaixamento do clube em dez anos.

A única solução possível, vista daqui de longe, é que cada palmeirense mantenha e renove seu amor pelo clube. Isto é tudo que o pacífico e sofrido torcedor tem neste momento para se confortar: o amor pelo futebol.

Eis a benção - e a miséria - de todos, todos nós.