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O banco de reservas

postado em 09/03/2013 15:28

Bernardo Scartezini
bernastones@hotmail.com

Alex Ferguson é treinador do Manchester United desde 1986. Tanto tempo, tantas glórias que ele virou Sir Alex Ferguson, Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.

O Manchester de Alex Ferguson foi eliminado da Liga dos Campeões, jogando dentro de casa, ao sofrer uma virada do Real Madrid num par de minutos. Wayne Rooney, maior ídolo e artilheiro do time, assistiu à virada sentadinho no banco. Só entrou pro jogo quando tarde demais.

Informes que chegam da Inglaterra, após a partida, dão conta de que Alex Ferguson anda bronqueado com Rooney. Está até disposto a passá-lo nos cobres. Ele acha que Rooney relaxou e estaria meio gordito... Será?

Oras. Penso que, daqui de longe, há duas maneiras de se enxergar essa história. Uma delas é ver Ferguson como um arrogante prepotente, um sujeito tão poderoso e tão incontestado que se esquece de que são os jogadores que fazem a diferença. Quis aparecer mais do que Rooney. E ainda custou a dar o braço a torcer.

Ferguson, nesse sentido, acabou por levar um baile do colega José Mourinho — opa — esse, sim, mundialmente consagrado como um arrogante prepotente (pergunte ao Kaká). Quando Nani foi expulso, e o Real se viu com um homem a mais, Mourinho agiu ligeiro ao meter Luka Modric — e dele viu saírem as jogadas dos dois gols.

Eis uma maneira de entender o que se passou. O grande Ferguson morreu pela prepotência. Me parece uma leitura válida — ainda que não esgote o episódio.

Um outro olhar sobre a questão leva em conta que esse tipo de clube — Manchester United, Real Madrid — vive uma realidade que é estranha aos nossos clubes, nossos treinadores, e, portanto, estranha a nós mesmos torcedores.

Aqui estamos acostumados com elencos que mal dão para o gasto. Raro o clube que tem 11 atletas em condições físicas & técnicas de irem a campo sem contestações. Penso no Fluminense, penso no Corinthians, talvez no novo Grêmio, quantos mais?

Por nossos clubes viverem da mão pra boca, agirem no improviso, não entendemos como Oswaldo de Oliveira, por exemplo, pôde deixar Seedorf no banco em algumas ocasiões no Brasileiro-2012. Oliveira, que ouve tantos desaforos com razão, teve de ouvir outros mais ao atender o pedido de vovô Seedorf para ser poupado.

Diante da fartura cotidiana de um clube como o Manchester United, Alex Ferguson deve achar natural deixar Rooney no banco desta vez e Van Persie da outra, usar Nani nas rodadas pares, nem sequer relacionar Chicharito Hernández nas rodadas ímpares etc. Nem que seja por uma simples e desnecessária demonstração de poder.

Mas a fartura pode induzir ao erro tanto quanto a escassez. Ainda que isso nos soe apenas como desvario de técnico sabichão. Pois, entre nós, temos que nos contentar com um Neymar aqui, um Fred ali, Gaúcho e Seedorf em fim de carreira — antes que eles vão embora ou se aposentem.

(Em tempo... Horas antes de a Confederação Sul-Americana aliviar a pena sobre o Corinthians, na última quinta-feira, vândalos palmeirenses tocavam o terror num aeroporto de Buenos Aires. Curioso, não?)