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Muito além de Felipão

postado em 23/03/2013 17:52

Verdade que foi um mero amistoso, mas Brasil e Itália fizeram um jogo digno de suas tradições. Uma pena que foi na Suíça, um país que não tem nada a ver com a rica história desses dois times, mas tem tudo a ver com os bacanas da Fifa.

O placar de empate, note que curioso, não mostra o desequilíbrio no estágio de preparação entre as duas equipes. O placar de empate, isso sim, mostra como o futebol pode tornar equivalentes duas forças díspares dentro daquele pequeno recorte de 90 minutinhos.

É nessa peculiaridade máxima do futebol, um esporte que pode surpreender os favoritos e desarmar as expectativas no tempo de uma única partida, que deve residir toda a esperança de um triunfo brasileiro na Copa de 2014. Só nisso.

Luiz Felipe Scolari me parece fazer questão de tornar tábula rasa o lento e árduo trabalho desenvolvido pelo seu antecessor. Ainda não saberia te dizer se Felipão faz isso movido por uma total convicção em suas ideias ou por uma mera vaidade. A ver.

Mas perceba que, ao chamarem Felipão para a Seleção, os dirigentes brasileiros estavam olhando apenas para o passado. Enquanto os dirigentes italianos, ao chamarem Cesare Prandelli para sua seleção, estavam olhando para o futuro.

Essa é a diferença hoje entre Brasil e Itália.

De resto, como reclamar de Felipão? Como se importar com uma Seleção que leva no peito o símbolo desta desmoralizada Confederação Brasileira de Futebol?

Saiu Ricardo Teixeira, entrou José Maria Marín. O dia em que esse senhor sair, entrará outro de semelhante gabarito. A lógica perversa da CBF ficou clara nas últimas semanas, quando seguidos escândalos ligados a Marín bateram na mídia.

O próprio Marín, para seu benefício, busca confundir a imagem da Seleção Brasileira com a imagem dele próprio. Dia desses, valeu-se da página da CBF na internet para se defender das acusações de que teria perseguido o jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura em 1975.

Marín era deputado estadual em São Paulo pela Arena. Em memória aos velhos tempos, ele deve ser chamado para depor na Comissão Nacional da Verdade.

No Congresso Nacional, o deputado federal Romário pediu esta semana a prisão de Marín. Romário subiu o tom de suas investidas contra o presidente e a cúpula da CBF por conta do vazamento de ligações telefônicas de Marín em que ele dá a entender que tem conhecimento de negociatas envolvendo os estádios para a Copa.

Com os prazos se aproximando, com os trabalhos se acelerando, com as obras de emergência se avolumando, a sensação geral de descalabro & impunidade deve subir mais alguns graus. Já circula pela internet um abaixo-assinado pedindo o afastamento de Marín.

Nada disso é surpreendente para quem acompanha o mundo do futebol brasileiro, para quem tem uma mínima noção do que acontece em seus bastidores, para quem viu o que foi revelado desde as CPIs de 2001.

Foi a esse tipo de gente que os políticos e os governantes brasileiros, eleitos por voto popular, aceitaram se aliar. Pense nisso.