None

Uma seleção qualquer

postado em 06/04/2013 19:29 / atualizado em 19/02/2014 16:38

Bernardo Scartezini
bernastones@hotmail.com

Enquanto o pau cantava em Minas Gerais e os jogadores do Arsenal de Sarandí vandalizavam os vestiários do Independência, a Liga dos Campeões da Europa oferecia, nesta semana, um punhado de belos espetáculos.

O Paris Saint-Germain, o novo rico da estação, fez frente ao grande Barcelona. Quase ganhou a partida, quando os visitantes se viram sem Lionel Messi. O empate saiu no ultimíssimo movimento, e as expectativas são enormes para a volta na Catalunha.

Não sei quanto a ti, me chamou a atenção o desempenho em alto nível de jogadores manjados por nós.

Daniel Alves está tão à vontade no time do Barcelona, seu passe para o gol de Messi foi tão natural... Ele parece ser outro jogador em relação àquele sujeito de maus bofes que aturamos na Seleção Brasileira. E isso não é de hoje. A gente sabe que não.

Daniel Alves vem sendo um dos jogadores mais importantes do Barcelona há cinco, seis temporadas. O que vemos, portanto, é o resultado de anos de trabalho diário e de entrosamento cotidiano. Intensidade que, inevitavelmente, falta à nossa Seleção, por conta de seus ocasionais e breves encontros pelos aeroportos do grand monde.

Mas, mesmo quando, ultimamente, tivemos a Seleção bastante tempo junta para a Copa do Mundo (abraço pro Dunga) ou para a Copa América (abraço pro Mano), o resultado foi desapontador.

Nossos maiores valores desbotam sob a camisa amarela. Assim como, até bem pouco tempo, o Messi da Seleção Argentina estava longe ser o Messi do Barça.

Enquanto isso, no Paris Saint-Germain, que ainda vem sendo montado pelo veterano Carlo Ancelotti, tanto o xerifão Thiago Silva quando o garoto Lucas já parecem à vontade entre os novos companheiros.

O que me leva à entrevista dada por Paulo Autuori ao jornal O Globo no último fim de semana. Com o espírito desarmado e seguindo uma linha de raciocínio coerente, virtudes incomuns entre seus pares, Autuori desconstruiu a soberba pentacampeã para, publicamente, admitir aquilo que nenhum colega seu tem coragem...

“Nosso treinadores ficaram para trás, acham que sabem tudo.”

O futebol brasileiro está atrasado, ele disse, na mesma medida em que seus treinadores estão atrasados. Na mesma medida, acrescento aqui, em que seus cartolas estão atrasados. Suas competições estão atrasadas, seus estádios estão atrasados, seu calendário está atrasado, seu profissionalismo está atrasado etc.

Por isso Lucas, Thiago Silva, Daniel Alves e tantos outros rendem nos seus clubes muito mais do que rendem em sua Seleção. Por isso, o sentimento geral de tempo perdido. Por isso, a fuga extemporânea a um passado de glórias chamado Felipão.

Por isso, a sensação de que Neymar está a desperdiçar os melhores anos de sua vida ao insistir em ficar no Brasil.

E por isso hoje, sábado, a Seleção Brasileira está na Bolívia para um amistoso diplomático arranjando às pressas após a famigerada Tragédia de Oruro...

Aliás, me desculpem, não é a Seleção Brasileira que está na Bolívia, não. É uma seleção brasileira. Apenas uma seleção brasileira qualquer.