Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Vou ali dar uma suicidadazinha e já volto

"O Valdívia disse que tá devendo, eu também tô, principalmente o cheque especial. Fiquemos os dois de resguardo e será melhor pra todo mundo"

postado em 04/11/2017 12:00

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Quando o atleticano expressa o desejo de que a vida seja um eterno Atlético e Crüzëirö – com altos e altos em vez dos altos e baixos –, o tímido povo pensa que estamos apenas a exercer o bullying para o qual fomos treinados desde a primeira infância. A temporada'2017 vem provar que não se trata da nossa incomparável capacidade de encher o saco, mas da pura realidade dos fatos: quer moleza, joga com o Crüzëirö. O problema é que não se faz um campeonato com 1 Atlético e 19 Crüzëirös. Pior: tem sempre um Botafogo pra atravessar nosso caminho.

O que fizemos de tão grave ao Botafogo pra sermos vitimados dessa forma por macumba tão duradoura e eficiente? Tudo bem, ganhamos 1971 em pleno Maracanã, com o Dadá parado no ar e tudo. Mas isso é crime de tucano, já está prescrito! Agora veja a entediante previsibilidade das coisas: ganha do Crüzëirö fora (apesar de que o Mineirão é nosso, tem que respeitar), empata com o Botafogo em casa. Roubado, é verdade, porque houve um pênalti que o juiz descaradamente não deu. Não é possível: o Botafogo, além de ser esse encosto, tem um grande acordo nacional, com o Simon, com tudo. Agora fica delimitado onde está: eles na Libertadores, a gente de fora. Golpistas!

Desgraça de atleticano nunca é pouca, e depois do Botafogo enfrentamos, na tarde deste sábado, outra asa (alvi)negra: o Santos na Vila. Pqp, fui 200 vezes ver Santos e Atlético na Vila Belmiro! Ganhei uma (em 2009, os caras com o Neymar e a gente com o Celso Roth), perdi as outras 199. Saía de São Paulo e avisava minha mulher: “Vou ali dar uma perdidinha e já volto”. Mas fique tranquilo, porque continuo exilado do Brasil em Caraíva, de modo que teremos esse providencial reforço da minha ausência. Sem eu e sem o Valdívia (foto), espera-se. O Valdívia disse que tá devendo, eu também tô, principalmente o cheque especial. Fiquemos os dois de resguardo e será melhor pra todo mundo.

Vejo agora que, se vencermos o Santos (não é milagre, é Atlético Mineiro), teremos feito em 2017 nossa melhor campanha fora de casa em todas as edições do Brasileiro desde que o campeonato passou a ser disputado em pontos corridos. Ou seja, bastaria uma campanha minimamente decente dentro de casa e hoje brigaríamos pelo título. É mole? Não, se fosse mole era uma final contra o Crüzëirö.

É pra matar um, isso sim. Ainda que seja a gente mesmo, de tanto desgosto. É de cortar os pulsos quando lembramos que o Grêmio só tá na final da Libertadores porque ganhou do Galo uma decisão de Copa do Brasil que desistimos de disputar. Assim como desistimos da própria Libertadores e da Copa do Brasil deste ano. Imagina a gente nesta final contra o Lanús. O Lanús é igual o Crüzëirö, já superou a condição de freguês – derrotado nas finais da Copa Conmebol de 1997 (4 a 1 pra nós na Argentina no primeiro jogo!) e da Recopa Sul-Americana de 2014, virou cliente especial com milhas acumuladas no cartão de fidelidade.

É, mas em 2017, o Lanús tá na final da Libertadores e nós tamo nessa draga, comendo o tropeiro que o diabo amassou. E como desgraça de atleticano é sempre muita, estamos condenados, ainda, a torcer pelo Flamengo na Sul-Americana, de modo que se abram mais vagas para brasileiros na Libertadores do ano que vem. Nessas ocasiões eu tenho um amigo que sempre diz: “Vou ali dar uma suicidadazinha e já volto”. É o nosso caso.

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