No exercício de enxergar o copo cheio – o único exercício que faço desde que fugi do pilates pela porta dos fundos –, me veio à mente um senhor relativamente gordo, de óculos e cabelos brancos, um tipo gente boa que me remetia a Geppetto, o carpinteiro do Pinóquio. Só que mais careca e desprovido de bigode, com o carisma de uma porta maciça. Concentrei-me em sua figura: era ele! Gilvanzão da Massa.
Um mês depois que Gilvanzão da Massa chegou à presidência do Crüzëirö, eu podia apostar todo meu dinheiro (no caso, o limite do cheque especial) que ali estava o comandante a conduzir o Titanic na direção do iceberg. Que fase maravilhosa, meus senhores! Nossas melhores energias pareciam contribuir para o ocaso inevitável daquela barca furada, sobrecarregada de encostos e refugos. Ao deixar o clübë, Gilvan ganhara dois Brasileiros. Verdade que devia até as cuecas – mas deixara de ser o Gilvanzão da Massa.
Hoje, o melhor que pode acontecer ao Atlético é estarmos diante do nosso próprio Gilvanzão da Massa. Uma alegoria carnavalesca comumente encontrada nos blocos que homenageiam Belchior já surgiu estampada no rosto do nosso comandante Schettino: o bigodão. No caso do Belchior, espesso e curvilíneo, ultrapassando os limites da face (o cabeludo megafone que convidava à luta naqueles tempos sombrios: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro!”). Em Sette Câmara, esse bigode é grosso, branco e penteado para baixo – o bigodão do Ziza.
Os primeiros dias da nova gestão têm sido de espanto e suplício. O atleticano já tinha se desacostumado da sequência infinita de patacoadas. A última foi a procura por Carille, negada por uns, confirmada pelo próprio. Mas isso foi até o fechamento desta edição, sendo bastante provável que novas patacoadas tenham se dado nas últimas horas, tamanha a frequência com que acontecem – todo dia um novo Sette a um.
Assim como Gilvanzão da Massa, Sette Câmara dará a volta por cima. Teremos o grande prazer de fazer-lhe o bigode. Há de chegar a hora em que Léo Gomide não terá ressalvas e, assim como Noblat, perguntará ao presidente: “Como você conheceu Marcela?”. O problema é que, para aprumar sua barca, Gilvanzão tinha Alexandre Mattos no timinho (para não dizer timão). Sette Câmara, coitado, tem Gallo, aquele que não faz jus ao nome, o filho do Geppetto. Deus nos livre logo do Gallo, que tem causado mal-estar até nos almoços de família. A prosseguir, teremos de trocar nosso azeite por um Andorinha Extra Virgem.
Gallo não sabe o que quer, não seduz, não sentou na frente do Cuca pra falar olho no olho. Como bem lembrou PC Vasconcelos, procurar Cuca e depois Carille é como consultar um chef de cozinha especializado em massas e, não sendo possível contratá-lo, buscar um sushiman. “Não é o técnico quem determina o estilo do Atlético”, disse PVC. “É o Atlético quem deve jogar de acordo com sua história e escolher o técnico que se enquadre neste perfil.”
Tivemos a chance de inaugurar esse pensamento, implantado por Cruijff no Barcelona, quando Cuca saiu e vivíamos nossa mais recente época de ouro. Cuca jogava de acordo com a nossa história – a história de Reinaldo, Éder, Dario, o Trio Maldito. Então, veio Paulo Autuori, nada a ver com nada. Depois, por acaso absoluto, o escolhido foi Levir, que voltou às nossas origens e ao Galo Doido de Cuca. Foi mandado embora e sucedido pelo especialista em massas, depois pelo sushiman, depois fazedor de churrasco.
Que Thiago Larghi possa acertar o time para o clássico de domingo. Que a gente passe pelo bom time do Botafogo-PB na quarta-feira. Que o Thiago se torne o nosso Carille e que Sette Câmara termine seu mandato como um grande presidente. Mesmo que tudo isso aconteça, terá sido, sempre, obra do acaso. Até quando isso vai funcionar?
DA ARQUIBANCADA
Gilvanzão da Massa e a obra do acaso
Que o Thiago se torne o nosso Carille e que Sette Câmara termine seu mandato como um grande presidente. Mesmo que tudo isso aconteça, terá sido, sempre, obra do acaso
Fred Melo Paiva /Estado de Minas
postado em 17/02/2018 12:00 / atualizado em 17/02/2018 21:20
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