Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Gilvanzão da Massa e a obra do acaso

Que o Thiago se torne o nosso Carille e que Sette Câmara termine seu mandato como um grande presidente. Mesmo que tudo isso aconteça, terá sido, sempre, obra do acaso

postado em 17/02/2018 12:00 / atualizado em 17/02/2018 21:20

Edésio Ferreira/EM/DA Press
No exercício de enxergar o copo cheio – o único exercício que faço desde que fugi do pilates pela porta dos fundos –, me veio à mente um senhor relativamente gordo, de óculos e cabelos brancos, um tipo gente boa que me remetia a Geppetto, o carpinteiro do Pinóquio. Só que mais careca e desprovido de bigode, com o carisma de uma porta maciça. Concentrei-me em sua figura: era ele! Gilvanzão da Massa.

Um mês depois que Gilvanzão da Massa chegou à presidência do Crüzëirö, eu podia apostar todo meu dinheiro (no caso, o limite do cheque especial) que ali estava o comandante a conduzir o Titanic na direção do iceberg. Que fase maravilhosa, meus senhores! Nossas melhores energias pareciam contribuir para o ocaso inevitável daquela barca furada, sobrecarregada de encostos e refugos. Ao deixar o clübë, Gilvan ganhara dois Brasileiros. Verdade que devia até as cuecas – mas deixara de ser o Gilvanzão da Massa.

Hoje, o melhor que pode acontecer ao Atlético é estarmos diante do nosso próprio Gilvanzão da Massa. Uma alegoria carnavalesca comumente encontrada nos blocos que homenageiam Belchior já surgiu estampada no rosto do nosso comandante Schettino: o bigodão. No caso do Belchior, espesso e curvilíneo, ultrapassando os limites da face (o cabeludo megafone que convidava à luta naqueles tempos sombrios: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro!”). Em Sette Câmara, esse bigode é grosso, branco e penteado para baixo – o bigodão do Ziza.

Os primeiros dias da nova gestão têm sido de espanto e suplício. O atleticano já tinha se desacostumado da sequência infinita de patacoadas. A última foi a procura por Carille, negada por uns, confirmada pelo próprio. Mas isso foi até o fechamento desta edição, sendo bastante provável que novas patacoadas tenham se dado nas últimas horas, tamanha a frequência com que acontecem – todo dia um novo Sette a um.

Assim como Gilvanzão da Massa, Sette Câmara dará a volta por cima. Teremos o grande prazer de fazer-lhe o bigode. Há de chegar a hora em que Léo Gomide não terá ressalvas e, assim como Noblat, perguntará ao presidente: “Como você conheceu Marcela?”. O problema é que, para aprumar sua barca, Gilvanzão tinha Alexandre Mattos no timinho (para não dizer timão). Sette Câmara, coitado, tem Gallo, aquele que não faz jus ao nome, o filho do Geppetto. Deus nos livre logo do Gallo, que tem causado mal-estar até nos almoços de família. A prosseguir, teremos de trocar nosso azeite por um Andorinha Extra Virgem.

Gallo não sabe o que quer, não seduz, não sentou na frente do Cuca pra falar olho no olho. Como bem lembrou PC Vasconcelos, procurar Cuca e depois Carille é como consultar um chef de cozinha especializado em massas e, não sendo possível contratá-lo, buscar um sushiman. “Não é o técnico quem determina o estilo do Atlético”, disse PVC. “É o Atlético quem deve jogar de acordo com sua história e escolher o técnico que se enquadre neste perfil.”

Tivemos a chance de inaugurar esse pensamento, implantado por Cruijff no Barcelona, quando Cuca saiu e vivíamos nossa mais recente época de ouro. Cuca jogava de acordo com a nossa história – a história de Reinaldo, Éder, Dario, o Trio Maldito. Então, veio Paulo Autuori, nada a ver com nada. Depois, por acaso absoluto, o escolhido foi Levir, que voltou às nossas origens e ao Galo Doido de Cuca. Foi mandado embora e sucedido pelo especialista em massas, depois pelo sushiman, depois fazedor de churrasco.

Que Thiago Larghi possa acertar o time para o clássico de domingo. Que a gente passe pelo bom time do Botafogo-PB na quarta-feira. Que o Thiago se torne o nosso Carille e que Sette Câmara termine seu mandato como um grande presidente. Mesmo que tudo isso aconteça, terá sido, sempre, obra do acaso. Até quando isso vai funcionar?

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