Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Sorte no jogo, azar no amor. Dane-se o amor

Thiago Larghi é a cara do técnico da Alemanha, Joachim Low, aquele dos 7 a 1 eterno. Sem querer empolgar demais, para Larghi chegar a Low só falta comer meleca

postado em 24/02/2018 12:00 / atualizado em 24/02/2018 17:35

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Circula no WhatsApp trecho de um arranca-toco entre Avaí e Boa Esporte pela série B de 2014, o raro leitor talvez tenha visto. Seria uma prova de que os deuses do futebol, quando desejam fabricar um resultado, estão pouco se danando para a verossimilhança – apertam mesmo o botão do dane-se. Depois do fato consumado, uns dirão que foi Deus (do que se depreende que o adversário não quitou o carnê do dízimo, ou alguma coisa assim). Outros creditarão tudo na conta do planejamento, das metas, dos objetivos, das regras de compliance (esses são os chefes, e em geral é melhor concordar com eles). Mas a gente sabe que aquilo não foi mais do que uma sorte danada – um acaso total.

O Boa acabara de cobrar um escanteio, e tinha agora o rebote de frente pro gol. Faltava um minuto pra acabar o jogo e o Avaí vencia por 1 a 0. Mas o atacante do Boa, podendo cabecear a bola, passou com os chifres a um palmo dela, numa furada sinistra. A bola sobrou então pra um outro fulano, que meteu a bica. A bica explodiu na fuça do zagueiro e a bola foi parar no meio do campo, armando um improvável contra-ataque para o Avaí. Como a piada do locutor português: “Lá vai, lá vai, lá vai. Lá vem, lá vem, lá vem”.

Então o lateral Roberto, escapando peladeiramente pelo lado, cruzou pra área no estilo Emerson Conceição. O catador de borboletas voou na bola assim como a galinha que se achasse um poderoso falcão diante do almoço que passava à sua frente. Furou, é lógico, e a bola sobrou pro atacante do Avaí. Ele chutou, o zagueiro tirou em cima da linha, a bola voltou na cara do suposto goleiro e entrou no cantinho. Um patético autogol, jamais visto – uma maravilhosa obra do acaso que nem os Monty Pyton seriam capazes de produzir.

O achado de Thiago Larghi tem a largura (sem mais trocadalhos, prometo) desse gol do Avaí. Mesmo assim é capaz de ter gente a se vangloriar de algum planejamento. “Foi Deus”, dirão os céticos. Bem, Léo Gomide não pode ser acusado de feio, mas tampouco pode ser chamado de Deus. Se o Atlético deslanchar e tiver uma temporada de conquistas, ele será elevado à condição de um Bob Woodward, o jornalista do Washington Post que derrubou Nixon no escândalo de Watergate (vejam The Post, está nos cinemas!). No caso, terá feito muito mais: derrubou Oswaldo e salvou a pátria.

Nos dois jogos em que pôde de fato preparar a equipe, Larghi transformou o Atlético da água pro vinho. Vinho não, sejamos mais contundentes e psicodélicos: daquela água do volume morto, viramos uma cachaça batizada, aquela que rolava em São Tomé das Letras e cujo nome não me lembro por razões de amnésia.

Em dois jogos, Larghi voltou ao Galo Doido, a despeito de não possuir um 10 (dane-se!). E com a vantagem de ter arrumado a defesa, acertando a posição de Elias e encurtando espaços. Thiago Larghi é a cara do técnico da Alemanha, Joachim Low, aquele dos 7 a 1 eterno. Sem querer empolgar demais, para Larghi chegar a Low só falta comer meleca. Larghi é melhor que o Lemmy do Motorhëad. O Lemmy tinha sido rodie, mas do Jimi Hendrix. Afinava as guitarras dele antes que Hendrix subisse ao palco. Larghi era rodie do Oswaldo, coitado. É como ser rodie da Xuxa, que só tocava com playback.

Sem querer empolgar demais, mas já empolgando porque aqui é Galo e essa patologia não tem cura: em uma semana arrumamos um Joachin Low melhorado, que não come meleca. E em seu Galo Doido, Tomessi é banco. Sorte no jogo, azar no amor. Dane-se o amor.

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