Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Um poço de chorume

'O problema é que eu só choro por causa do Atlético. No começo, por ocasião das derrotas injustas. Depois, nas vitórias épicas'

postado em 24/03/2018 12:00

Bruno Cantini / Atlético
O América reclama que foi roubado pelo Atlético nos dois últimos clássicos. A verdade é que tomou quatro gols, fez dois em posição irregular e um que, visto pela TV, é impossível dizer se legítimo ou não.

O Atlético não rouba ninguém – o Atlético é roubado. Mesmo no passado longínquo em que Cidinho Bola Nossa era juiz, jamais houve registro de que tenha favorecido o Galo. Não fazia mais do que ser sincero quando o adversário chutava a bola para a lateral. Econômico nos gestos, poupava também o apito. Apenas dizia: “É nossa”. E era mesmo.

Chorar é direito inalienável, não paga imposto, não faz distinção de gênero, não tem orientação sexual. Nada é mais democrático do que chorar, e nem a Carmem Lúcia poderá sentar sobre as nossas lágrimas! “Chola mais”, dizem meus detratores toda vez que prendem um petista, como se eu tivesse parido todos eles. O problema é que eu só choro por causa do Atlético. No começo, por ocasião das derrotas injustas. Depois, nas vitórias épicas. A partir daí foi num crescendo: anúncio de contratação, desfile de uniforme, entrevista coletiva, publicação de balanço financeiro. Às vezes, choro enquanto empilho estes parágrafos – tijolo com tijolo num desenho mágico, os olhos embotados de cimento e lágrimas. Ah, meus amigos, o Atlético não é um time de futebol – é uma máquina de fazer homem chorar...

Tanto é verdade que atinge agora até o homem americano. O mais surpreendente, porém, não é o torcedor do Coelho chorar – mas o fato de ele ainda existir, não se deixando desaparecer como fez o último rinoceronte branco esta semana. O torcedor do Coelho está mais pra arara-azul e mico-leão-dourado, bravos e resistentes. Se eu tivesse assento em sua Kombi, teria votado no Trump: “Make America great again!”. No desespero a gente se agarra a qualquer tábua que passe boiando.

As redes sociais são um poço de chorume, e eu mesmo já escorreguei nele. Quinta-feira passada foi a vez do conselheiro do América Anderson Racilan. No Instagram, ele publicou um escudo do Atlético com as iniciais CAM substituídas por FMF, a Federação Mineira de Futebol. Diante de tal ofensa, o jeito é chamar o Barroso: “Me deixe de fora deste seu sentimento. Você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso, e pitadas de psicopatia. Vossa excelência é só bílis”. Com 61 curtidas, 100% da torcida do América conferiu um joinha ao post de Racilan.

Dito isso, vamos à vaca fria: a bem da verdade, não estamos em condição de rir de ninguém, sob pena de que riam da gente por último e melhor. Tirando alguns minutos suficientes para preparar um macarrão, senão um Miojo, o Galo 2018 se mostra fraco, nem mais e nem menos do que seu elenco pode oferecer. Nenhuma culpa, portanto, de Thiago Larghi (foto), embora não tenha entendido por que deixou Otero no banco contra o América. Se foi por causa da “aplicação de produtos estéticos” no nariz sem o conhecimento do Departamento Médico, o que o tirou da partida contra a URT, que se ampute esse nariz, mas bote o cara pra jogar. Ademais, esses “produtos estéticos” são com certeza inofensivos, visto que o bolivariano segue o mesmo anão de jardim, não tendo mudado nada.

A poucos dias da estreia no Brasileirão e na Sul-Americana, já tendo passado o diabo pra superar o Figueirense na Copa do Brasil, até otimista patológico sabe que 2018 será osso.

Segundo o jornalista Héverton Guimarães, Marcos Rocha foi para o Palmeiras com passe fixado em apenas 2 milhões de euros. Em troca, Róger Guedes e Erik vieram para o Atlético sem passes fixados. Parece eu vendendo carro. É de chorar.

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