Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Lutar, lutar, lutar. Com toda nossa raça pra vencer

Ocupar e resistir. Serve para o Brasil e para a decisão de amanhã. Diante das cabeças de papelão, inertes e omissas, vamos ficar e cantar. Nada a temer, senão o correr da luta. Seremos campeões

postado em 07/04/2018 12:00

Alexandre Guzanshe/EM D.A Press
Esta foi uma semana especialmente produtiva para um país que se dedica, com incomum afinco, a cavar o fundo de seu poço. Há um conto de Murilo Rubião, O edifício, em que se ergue infinitamente um prédio. Nosso caso é o extremo oposto: a cada dia inaugura-se mais um andar no subsolo. O edifício caminha para o céu; nóis, para o inferno.

No cardápio da semana tem disparates para todo gosto. Tem comandante do Exército ameaçando golpe militar? Tem sim. Então me traga um desse. Vai querer algum acompanhamento? Sim, aqueles dois servidores da Justiça jejuando até que se prenda antecipadamente um condenado com direito a recursos. Os irmãos em Cristo? Sim, isso mesmo! Vai querer acrescentar o general que confrontou o jornalista postando uma foto sobre um cavalo, vestido de armadura do Bope e com uma espada na cintura? Por favor.

O Brasil é aquele quadro de Munch, O grito, e nós nos encontramos aprisionados dentro dele. Há algumas rotas de fuga. Uma delas sugere comportar-se como parte significativa da torcida do Cruzeiro, conhecida desde o domingo passado por “La Torcida de Papel”. Aja como um display de papelão: nada do que está acontecendo diz respeito a você, não te afeta, não lhe ferem os brios. O papelão é imóvel, assiste a tudo não com a altivez dos que não se dobram, mas com a firmeza passiva daquele que apenas ocupa um lugar no espaço. Seu destino final é a lata de lixo.

Há uma segunda rota de fuga, e involuntariamente já me inscrevo entre os que passarão por essa porta da esperança. Trata-se do consumo abusivo do ópio do povo, essa cachaça e esse rivotril genérico chamado Clube Atlético Mineiro. “Só o Galo salva”, já diziam os oráculos da Igreja Universal do Reino do Galo. “Mais uma dose? É claro que eu tô afim! A noite nunca tem fim! Por que a gente é assim?” Certeza que o Cazuza era atleticano.

Ajoelhado no milho (foram os cruzeirenses?) do confessionário da IURG, eu vos digo: domingo passado esperava apenas a derrota, o Atlético se misturando ao 7 a 1 de cada dia em Bananaland. Mas, contrariando a máxima que diz que de onde não se espera nada é que não vem nada mesmo, metemos o costumeiro ferro para esses momentos em que quando tá valendo, tá valendo. Aquele era ópio do bom, muito superior ao prensado do Paraguai e ao camarão de Cabrobó. Em 15 minutos me encontrava confortavelmente entorpecido, comfortably numb, vendo a vida pelo prisma preto e branco do meu Pink Floyd particular.

Se o Galo for campeão amanhã, o Brasil estará no eixos. Ou não, o que importa? O general golpista desaparecerá em seu labirinto montado num cavalo marrom. Irmãos em Cristo refestelar-se-ão no rodízio da churrascaria, incorrendo no pecado da gula, de resto o menor deles. Se o Galo for campeão, o cara não será preso tampouco ficará solto, muito antes o contrário. Homicídios diminuirão, divórcios estarão adiados, um carnaval se estabelecerá em Lourdes e na praça Sete, nossas mesquitas a céu aberto. O Galo campeão é sempre o merecimento do povo.

Há no entanto uma terceira via para escapar vivo do quadro de Munch. Ela também remete ao Atlético, à sua história de utopia e luta, à sua mania de estar sempre do lado certo da história. Nela também me inscrevo: “Lutar, lutar, lutar. Com toda a nossa raça pra vencer”. Ocupar e resistir. Serve para o Brasil e para a decisão de amanhã. Diante das cabeças de papelão, inertes e omissas, vamos ficar e cantar. Nada a temer, senão o correr da luta. Seremos campeões.

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