Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Seu Laerte para presidente!

'Sette Câmara assumiu sem conspirar contra ninguém (...). Ainda assim, podemos dizer que já temos o nosso Michel Temer. Herdeiro de um abacaxi, escolheu por limitar o teto de gastos'

postado em 21/04/2018 12:00

Tulio Santos/EM/D.A Press
“Estou muito triste! Quem não estaria com essa virada? Faltou tudo! Principalmente, competência!”, desabafou um exclamativo Sette Câmara (foto), no Twitter, depois da derrota para o Vasco na estreia do Brasileirão. É mais ou menos como se você, leitor, ficasse insatisfeito com o resultado alcançado por seu péssimo trabalho, e então gritasse ao mundo, revoltado: “Faltou tudo! Principalmente, competência!” O passo seguinte, imagino, seria demitir-se por justa causa.

O presidente já havia se revelado triste minutos antes, quando, ainda no Twitter, deu a entender a uma jovem torcedora que, para consolá-lo, era melhor usar mensagens privadas no Whatsapp. Em público, acredite se quiser, passou o número do celular pra ela (que, diga-se, havia apenas postado uma foto sua com um grupo de amigos em São Januário). Ao contrário da moça, Sette Câmara encontrava-se bem longe do Rio de Janeiro, onde o Galo acabava de entregar três pontos ganhos ao péssimo Vasco da Gama. Estava em Trancoso. Ah, vá, ninguém está triste em Trancoso.

Sette Câmara assumiu a presidência sem conspirar contra ninguém, não tava fugindo da polícia nem consta que seja integrante de uma quadrilha. Ainda assim, podemos dizer que já temos o nosso Michel Temer. Herdeiro de um abacaxi, escolheu por limitar o teto de gastos, desprezando a política de enfrentamento da crise implantada há alguns anos e que nos levaria a conquistas nacionais e internacionais (não direi que o Kalil é o Lula, pra não polemizar). No desespero por fazer caixa, entrega o nosso patrimônio, vide as negociações de Marcos Rocha e, agora, Marco Túlio. Gallo é diretor de futebol, assim como Marun é ministro. O resultado é esse que estamos vendo.

A essa altura do campeonato (e estamos só na primeira rodada), a popularidade do presidente já se circunscreve aos seus familiares. Se ainda não se escuta o ronco das ruas, pelos menos o ronco de Confins se fez presente no levante popular da Galoucura, quando do desembarque do time vindo da dura peleja contra o Ferroviário, representante cearense na Série D do Brasileirão. Estou quase propondo um golpe pra estancar a sangria: “A solução é botar o Éder e o Reinaldo, num grande acordo nacional, com o Kalil e com tudo”.

O problema é que, assim como o grande antropólogo e historiador da nossa cultura, Sette também é um Câmara cascudo. Está, segundo o próprio, colecionando material para levar seus críticos mais exagerados aos tribunais. Escolheu a cor do uniforme de treino (verde, segundo a Topper; cinza, para os atleticanos; azul, segundo os cruzeirenses) porque enxergou nela uma semelhança com a farda de seus tempos de militar. Vai vendo.

Se quisermos derrotá-lo, teremos de partir para a guerrilha. Uma franquia das Farc na Serra do Curral. De lá partiremos para a conquista de Lourdes ao som de Bella Ciao e da nossa Marselhesa, o hino do Galo. Seu Laerte assume a cadeira da presidência. Primeiramente, fora Gallo. Segundamente, voltamos para o Mineirão com ingresso a R$ 10, menor de 12 não paga, miserável pode pular o muro, tropeiro só se for o original, sinalizadores, bombas, bandeiras, papel higiênico na entrada do time e xixi no copo quando acabar a cerveja.

Como em La Casa de Papel, imprimiremos o dinheiro que trará de volta Tardelli, Bernard e grande elenco. Donizete, o General que a gente respeita, será resgatado do buraco em que se meteu. O maquinista desse bonde será o Cuca. Entre ele e o seu Laerte, o filho do Kalil. Ergueremos no braço o novo estádio, em esquema de mutirão jamais visto. Todo poder ao povo preto e branco!

Enquanto a queda da Bastilha não vem, o comando revolucionário recomenda armar-se com pé de coelho, reza brava, macumba, vodu, pacto com o demônio. Eu já tô nessa, e o sorteio da Chapecoense como adversário nas oitavas da Copa do Brasil é prova do êxito dessa estratégia. Sem querer tucanar as coisas, miremos o número 45 – os 45 pontos que livra do rebaixamento. Neste domingo pegamos o Vitória em casa. Hasta la victoria siempre!