Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Vai, presidente, ajuda a gente a te ajudar

A torcida do Atlético está para o presidente do clube assim como o Congresso Nacional está para o presidente da República. Não se governa sem o apoio da Massa

postado em 19/05/2018 12:00 / atualizado em 19/05/2018 11:23

Túlio Santos/EM/ DA Press
O Galo quebrou em 2017, quando o presidente Daniel Nepomuceno quis repetir Alexandre Kalil, conquistando um título de grande importância e, objetivo final, lançando-se candidato. No mínimo a deputado federal; em melhor hipótese, a depender da taça, poderia brigar até por uma vaga ao Senado. Embora “futebol e política não se misturam”, dizem os ‘jênios’, é bastante provável que acabasse por ser eleito.

Para isso, parece ter apostado na mesma nefasta estratégia dos políticos que privilegiam obras faraônicas ao mesmo tempo em que desprezam, por exemplo, o saneamento básico, já que canos ficam enterrados e “o que ninguém vê não dá voto”. Assim, o presidente preferiu rechear o elenco de atacantes caros e famosos. A certa altura, tínhamos Robinho, Fred, Pratto, Valdívia, Maicosuel (esqueci alguém?) – mas os volantes mandamos embora. A zaga, bem... beque não dá voto. É inescapável: sem esgoto, alguma hora vai dar merda.

E deu. A não classificação à Libertadores diminuiu a receita em 2018. As dívidas cresceram. Em razão da ginástica financeira para a construção do novo estádio, deixou de ser possível empurrar com a barriga certas obrigações impostas pelos credores. Com o fiasco do time em 2017, não surgiu um Bernard ou um Jemerson pra salvar a pátria. E aqui estamos, comendo o pão que a gestão anterior amassou.

No final do ano passado, o presidente saiu à francesa e não havia quem se dispusesse a assumir o abacaxi que, internamente, já se sabia impossível de descascar. Do núcleo duro que acompanhara Kalil e Nepomuceno nos anos de vacas gordas, não houve alemão que botasse a cara. Cagaram e ficaram na moita. Outsider naquela turma, apenas o vice decorativo no Conselho do clube, Sérgio Sette Câmara, foi convencido a apresentar-se para o sacrifício. Pode-se acusá-lo de tudo, menos de ter fugido da raia.

Só não se pode dizer que Sette Câmara é o menos culpado de tudo, porque o presidente sabota a si mesmo. Primeiro, ao escolher Alexandre Gallo. Depois, ao insistir em sua permanência. Em entrevistas desastrosas, mostrou-se autoritário e arrogante, quando o momento exigia humildade e transparência. Em vez de ameaçar pessoas com processos na Justiça, ainda que justos, em vez de passar vergonha diminuindo o campeonato do qual acaba de ser eliminado, muito melhor é expor a real situação de dificuldade e qual é a estratégia. A torcida do Atlético está para o presidente do clube assim como o Congresso Nacional está para o presidente da República. Não se governa sem o apoio da Massa.

À Massa cabe toda a pressão do mundo para preservar a “entidade venerada por milhões”, cujos donos são esses milhões (obrigado, Leide Botelho) e não uma meia dúzia. Nenhum equívoco, no entanto, por mais grave, deveria ser respondido com violência. Outro dia vi um torcedor lamentar-se por ter sido intimado a comparecer a uma delegacia porque, em post sobre a situação do time, sugeriu “atirar no joelho” e “matar depois”. Devia era comparecer diretamente à penitenciária para tirar uns meses de cadeia.

No lugar da violência, o torcedor precisa começar a se preocupar com a representatividade dele na política do clube. Se o torcedor é sócio, por que ele não tem direito a voto? Não conheço os autores do movimento que pleiteia tal direito, mas a causa é justa. O Atlético precisa de uma oposição decente, porque não há estrutura de poder que se mantenha vencedora sem uma oposição decente.

Hoje tem Atlético e Cruzeiro. Proteste, se for o caso, mas preserve o grito e o coração pra empurrar o nosso Galo, porque é a gente que carrega esse time há 110 anos, e não os seus dirigentes. Não há crise que sobreviva a uma vitória, hoje, no mítico gramado do Horto, onde o Cruzeiro caiu, tá morto. Quando rolar a bola, ganharemos de novo a chance de voltar a sonhar. O título de todos os títulos – por que não? Aos trancos e barrancos, num grande acordo nacional, com o Sette Câmara e com tudo. Vai, presidente, ajuda a gente a te ajudar.

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