Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Entreguistas! Passaram tudo nos cobres

"Bremer, Róger Guedes, Cazares, Marcos Rocha. Se alguma casa de massagem fizer oferta pelo Belmiro, leva na hora, certeza"

postado em 21/07/2018 12:00 / atualizado em 21/07/2018 18:51

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Finda a Copa do Mundo, esta série B da Eurocopa, a participação da Seleção Brasileira e sobretudo de Neymar foi um tanto caída. Se bem que, na condição de líder do Movimento Corrente Pra Trás, que visa aglutinar e potencializar energias negativas no intuito de destruir a CBF inimiga do Atlético, concedo a Neymar o título de presidente de honra desta valorosa agremiação de secadores.

Finda a Copa, pois, é como se saíssemos da Stolichnaya russa e, depois de fechar com a francesa Veuve Clicquot, fôssemos devolvidos diretamente à cracolândia. Sim, e a abstinência era tamanha que minha mãe precisou me amarrar ao pé da cama enquanto me debatia, endemoniado: “ATLÉTICO, EU PRECISO DE ATLÉTICO, SÓ UMA DOSE PELO AMOR DE DEUS”.

Pediu, agora toma. E na quarta-feira, como um Sid Vicious diante da bebida e da cocaína, lá estava eu, pobre criatura egressa da Smart TV de 48 polegadas, agora realocado em meu devido lugar: em frente ao computador de tubo do escritório, usufruindo da senha do amigo pra economizar no Premiere.

À minha frente, a imagem opaca da realidade, narrador e comentarista que parecem ter se deslocado de busão até o estádio, e agora transmitem a sofrível peleja com seus próprios celulares enquanto jantam uma mortadela na cabine improvisada.

O Atlético é igual ao Brasil: enquanto rolou a Copa, ambos aproveitaram da distração geral da nação e passaram tudo nos cobres. Entreguistas Bremer, Róger Guedes, Cazares, Marcos Rocha. Se alguma casa de massagem fizer oferta pelo Belmiro, leva na hora, certeza.

Vendemos os melhores, que já eram médios, e ficamos com os médios, que na verdade eram pouco mais que ruins. Então trouxemos os mais ou menos, mais pra menos que pra mais, e no caso de algum se provar melhor, sabemos que será no máximo o mínimo, ou seja, médio.

Enfim veio a quarta-feira, nóis ali na nossa cracolândia, e foi aquilo que teria previsto o poeta se não jogasse pra torcida: “Distraídos, perderemos”. Agora me sinto um popular que tivesse se imiscuído no pelotão de frente da São Silvestre e, passado o primeiro quarteirão, a cachaça cobrando a conta, sente a massa cavalgar perigosamente em seus calcanhares, prestes a pisoteá-lo como um pombo esmagado no asfalto. No caso, um galo. 

Olhamos as quatro linhas e não tem nem o Leo Silva, que com sua presença altaneira era alguém a nos dizer “calma, tá tudo bem”, ainda que tudo estivesse bem mal. Vemos no banco o bom Thiago Larghi, coitado, mas poucos subiriam no seu teco-teco se ele fosse o piloto. Na torre de comando, encontramos Sette Câmara com um abacaxi na mão e Alexandre Gallo tentando descascá-lo com uma chave de fenda.

A temporada do Atlético parece aquele famoso poema de Brecht, cujo final é trágico. Primeiro perdemos o Mineiro. Mas eu não me importei com isso, era só o Mineiro. Em seguida desistimos da Sul-Americana. Mas eu não me importei com isso, era só a Sul-Americana. Depois abrimos mão da Copa do Brasil. Mas eu não me importei com isso, bom que sobrou só o Brasileiro. Agora estamos lutando pra não cair, mas já é tarde. Como eu não me importei com nada, nada se importa comigo. 

Amanhã tem Palmeiras e Atlético em São Paulo. Segura na mão de Deus e vai.

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