Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

O Galo é a Marina Silva do Brasileirão. Melhor se fosse o Daciolo

Mesmo Guardiola estaria em apuros diante da zona que foi o planejamento da temporada e da qualidade dos que decidem

postado em 29/09/2018 12:00



“Ó vida, ó céus, ó azar, isso não vai dar certo...” Como Hardy, a hiena pessimista de Hanna-Barbera, o atleticano atravessa 2018. Carrega a bola de ferro no pé, sua velha conhecida, e marca os dias na parede. Até o Corinthians tira o Flamengo, essa baba espessa. Até o desmantelado Corinthians, sem técnico nem jogador, devendo as cuecas e um estádio, é capaz de disputar títulos. Até o falido arquirrival, que Ciro Gomes promete tirar do SPC.

E nós? Nós treinamos. Treinamos uma semana inteira, um mês, um semestre. Treinamos, treinamos, treinamos. Se fôssemos uma companhia de circo, já estaríamos nos agarrando ao trapézio apenas com o dedinho do pé. Não apenas engoliríamos como também defecaríamos bolas de fogo. Nossos chimpanzés teriam desenvolvido a fala. Infelizmente a única coisa que nos aproxima disso é a certeza de que no comando estão os ilusionistas, e na plateia, os palhaços.

Em sexto lugar no campeonato, sem gana nem competência para almejar nada, inerte no espaço-tempo, o Galo é a Marina Silva do Brasileirão. Aquele que poderia ter sido mas não foi. Aquele que começa protagonista, perde para si mesmo, e acaba coadjuvante. Não sobe nem desce, tristemente estacionado na área VIP da classificação à pré-Libertadores. E olha que já está de enorme tamanho. Pelo menos não somos o Amoedo ou o Meirelles, que torraram milhões de reais e encontram-se parados no subsolo.

Melhor seria se tivéssemos ocupado o posto de Cabo Daciolo. Se é pra não ganhar, que pelo menos fizéssemos o nosso show. Botava o Lisca de técnico, talvez o Maradona, dava a 9 pro Leo Silva de uma vez, trazia uma barca furada de renegados e maus elementos, ao estilo Jô e Ronaldinho, investia num esquema de doping capaz de acordar o Cazares. E mandava o Fábio Santos jejuar no alto do monte até que nascesse cabelo.

A ideia foi outra, entretanto. Preferiu-se a receita neoliberal: corte de gastos essenciais, enxugamento da folha, reforma trabalhista. Traduzindo para a nossa realidade: abandono de campeonatos, venda de jogadores, efetivação de estagiário. Ao invés de contratar Alexandre Gallo, aquele que não faz jus ao nome, melhor teria sido se Sette Câmara ordenasse: “Chama o Meirelles!”. Nessa toada, proximamente privatizaremos a sede e faremos IPO na bolsa de valores. E acabaremos comprados pela Ambev. É um caminho.

Enquanto essa locomotiva em nossa direção não se apresenta como luz no fim do túnel, seguimos o angustiante calvário – ao que parece, sacrifício necessário para se construir o novo estádio, embora ninguém tenha falado disso quando da apresentação e aprovação do projeto no Conselho do clube. Dormimos com a expectativa, acordamos com a realidade. Quando políticos omitem parte sensível de seus planos de governo com a intenção de aprová-los nas urnas, dá-se ao resultado o nome de estelionato eleitoral.

“Ele não!”, diz o torcedor, exigindo a saída de Thiago Larghi, o primeiro a ser comido dependendo do resultado de amanhã diante do Sport. Pesa contra ele as suspeitas de que escala mal, substitui mal e treina mal. Ainda assim, este é um “#EleNão” no qual não consigo me engajar, porque mesmo Guardiola estaria em apuros diante da zona que foi o planejamento da temporada e da qualidade dos que decidem. Para o outro #EleNão, tamo junto e misturado. Que as mulheres nos salvem das trevas.

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