O estádio de futebol está a um passo de se tornar tribunal ou show de calouros. Não será mais Donos da Casa X Visitantes. A plateia aplaudirá algo sem graça, quase um Domingão do Faustão. No meio dela, ditadores de regras serão macacos de auditório a dizer “pode”, “não pode”, “é proibido”. Nada de apito do árbitro a disparar nossos corações, mas sim claquete e contrarregra: “silêncio. Cruzeiro X Tupi. Take 1. Gravando!”.Seremos uma manada acéfala, amedrontada, tocada a ferro, fogo e censura não pelos cânticos, bandeirões, faixas e tambores, mas sim por coronéis e marqueteiros.
Foi assim sábado. Uma faixa da torcida Comando Rasta com os dizeres “Marielle presente” foi CENSURADA por ordem de um coronel. Justificativa: “aqui não é local para manifestações políticas”. Oiiii!!! Como assim??? Quem deu a ele e à administradora do nosso Mineirão a autoridade de Deus para determinarem onde é ou não é local para manifestação política, de alegria ou de indignação?
Impressionante como essas arenas gourmet caminham para o autoritarismo de um lado e a chatice de outro. Às vezes, a sensação é de que colocarão alto-falante gritando palavras de ordens ou slogans publicitários no lugar da voz do povo azul e estrelado.
Não é de hoje que os censores tentam enquadrar a espontaneidade da nossa torcida. Já impediram faixas contra a Federação Lourdense de Futebol, contra veículos da imprensa/aldeia e contra fatos internos do nosso próprio clube com os quais não concordamos. Virar uma bandeira de cabeça para baixo não é um ato político, coronel?
Há muito proíbem até o espetáculo de cores produzido pelas faixas no anel superior das arquibancadas cruzeirenses. Agora é só vidro, espaço reservado ao marketing.
Como era gostoso levar nossas próprias faixas e cartazes, confeccionados no quintal antes de pegar o ônibus para o Mineirão. De uma delas, lembro bem: “Sorin, ídolo eterno. Somos todos corazón”. Era colocada todo jogo de 2008 a 2009 até que ele se recuperasse de uma contusão. Na sua reestreia, contra o Ituiutaba, Sorin, ao entrar no gramado, correu em direção aos autores daquela faixa e os agradeceu emocionado por todas as vezes que a colocaram.
Quem não lembra do torcedor que levava a bandeira de Minas Gerais em todos os jogos do Cruzeiro na década de 1990? “Liberdade ainda que tardia” não é uma frase política, coronel?
Agora tudo é controlado. Só permitem duas bandeiras por torcida e toda faixa ou cartaz (das organizadas ou não) passa pelo controle da censura, um remake do AI-5. O que o Cruzeiro tem a dizer sobre esse “cala a boca” à diversidade de uma multidão livre? Até agora, não disse nada...
Somos uma torcida de origem popular, operária, imigrante, que precisou lutar tanto contra as elites e suas agremiações para ser respeitada. Historicamente, fomos acostumados a questionar e a cobrar. Por isso somos os maiores, temos tantos títulos e enchemos o Mineirão com alegria, cores e criatividade. Nós somos a festa, lembram?
Quando tentam impedir isso seja pela opressão ou pela padronização publicitária da festa popular, o sinal amarelo precisa ser ligado urgentemente. Não pode haver silêncio imposto que nos cale. Não podemos nos deixar domar. A torcida do Cruzeiro não é maior à toa. Temos de questionar sempre a Minas Arena, a passividade do próprio Cruzeiro e qualquer ato de CENSURA às nossas opiniões individuais, alegres ou indignadas.
Se não fizermos isso, o próximo passo dos coronéis e marqueteiros pode chegar ao ponto de nos proibir de sermos Cruzeiro. Obrigar que calcemos sapatênis; negar nossas faixas de bi-tri-tetra-pentacampeões e nos torturarem até a submissão derrotista do “EU (confesso que) ACREDITO”.
“Corta!”. FIM.