Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Não ficou nem cheiro da soberba

Foi preciso sim vaiar a equipe contra o Vasco. Não é porque o final da semana de mar revolto foi feliz que devemos nos esquecer dos erros que motivaram a mudança

postado em 11/04/2018 08:00 / atualizado em 10/04/2018 19:32

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


Não foi o futebol bonito de toque de bola dos jogadores que desbaratou o jogo-treino de domingo. Tampouco a sábia frieza do comandante em acreditar em sua estratégia, mesmo contra tudo e todos. Nem a torcida cabulosa com seu contumaz espetáculo de cânticos, cores e amor incondicional pelo Cruzeiro. Sequer o manto sagrado, por seu peso, foi protagonista. Quem venceu a soberba foi a história.

A história do clube mais popular, vencedor, plural, combatido pelas elites, caluniado pela “aldeia” e que realmente foi o único capaz de extrapolar o (a) contorno de Belo Horizonte com suas próprias forças. Desde Palestra até se forjar Cruzeiro, no Time do Povo, todos esses fatores (futebol-arte, estratégia de jogo, torcida lúcida/apaixonada e camisa) se fundem numa alquimia perfeita.

Quando isso ainda é motivado pelo pecado capital da soberba, vinda do alto ou do baixo-falante, o resultado brota no vento, como um cheiro. O aroma da paz de espírito de quem, por mais insignificante que fosse a batalha, entrou em campo para cumprir seu papel na história: ser campeão de tudo.

Por outro lado, é preciso passar a página, pois, se abril marca o fim do ano para uns, para nós é apenas o começo. O espírito de combate, de estar sempre alerta deve ser regra e não exceção. O pedido do mito eterno Dedé para não desacreditarmos no grupo volta-se como bumerangue para eles mesmo. Grupo/técnico/diretoria ao servirem à instituição Cruzeiro, devem estar completamente conscientes do nível máximo de exigência da nossa torcida.

Foi preciso sim vaiar a equipe contra o Vasco. Não é porque o final da semana de mar revolto foi feliz que devemos nos esquecer dos erros que motivaram a mudança. Não se enganem: a mudança ocorreu pelo senso crítico da nossa arquibancada.

Se a sala de troféus está repleta; se a pintura do ônibus precisa diminuir o tamanho da representação das conquistas para caber todas; se o Cruzeiro nunca manchou o livro da sua história com a humilhação de um descenso, tenham certeza: a “culpa” é única e exclusivamente das pessoas que por 97 anos ocupam as arquibancadas para amá-lo, respeitá-lo e principalmente, cobrar de quem nele está a dedicação para não desviar o rumo do nosso destino.

Nosso amor incondicional exige que se lancem em todos os jogos, jogos-treinos e decisões da maneira como os guerreiros fizeram domingo. Colocando músculos, nervos, neurônios, reputação, humilhações sofridas e alma completamente a serviço das cinco estrelas que lhes emprestamos ao peito.

Os jogadores foram brilhantes ao entender o recado dado ao término do jogo da Libertadores Raiz. Talvez por isso, ao final do treino festivo contra a turma do sapatênis, tenham se exagerado em comemorar.

Enfim, é tão bom perceber que se pode ser grande, não é? Mirem-se na humildade de um Rafael Sóbis, que resumiu a sua alegria a uma declaração que deveria ser transformada em placa na entrada do vestiário: “o Cruzeiro chama taça. O jogador se faz grande quando veste a camisa de um time grande”.

Contra o Grêmio, começamos a caminhada em busca de um feito incalculável. Conquistar o penta do mais importante torneio do país: o Campeonato Brasileiro. Se assim o fizer, o Cruzeiro atingirá uma marca curiosa. Terá mais títulos do Brasileirão do que a soma dos outros dois time de Belo Horizonte, que juntos possuem quatro, mesmo sendo quase todos da Série B. 

Domingo tem mais... Ops! Domingo, não. SÁBADO (contra o Grêmio) tem mais. Tenho certeza que o Gordinho me permitirá essa licença poética do roteiro que ele profetizou e do qual, nós, eles, todos vamos nos lembrar para o resto das nossas vidas.

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