Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Honrem a alma de Roberto Batata

Esperamos que, nesta quinta, não estejamos frente a um time que ache normal perder para o Grêmio, empatar no Chile ou que espere o adversário falhar

postado em 18/04/2018 08:00 / atualizado em 17/04/2018 19:41

Arquivo Estado de Minas

Quando vejo o Cruzeiro jogar sem ousadia, criatividade ou indignação por um resultado adverso, sempre me vem à lembrança um bordão da década de 1980: “bota ponta, Telê!”. O personagem de Jô Soares, ironicamente, cobrava a teimosia do então técnico da Seleção Brasileira em escalar o time sem os pontas dribladores e velozes.

Ao ver o pragmatismo do Cruzeiro em alternar jogos memoráveis e outros lastimáveis, sem nos passar o mínimo sentimento de que temos um time obcecado por marcar gols, me dá a vontade de imitar o comediante e gritar: “bota ousadia, Mano!”.

O futebol mudou, todos sabemos. Mas não podemos acreditar que moderno é fazer do “poder de marcação” a principal característica a se buscar num atacante. Atacante dribla, agride, coloca medo, ousa, faz gols ou arma o cenário para que outro venha e empurre a bola para as redes.

Alisson era um desastre para finalizar? Sim, mas era agudo, driblava e desarrumava um esquema defensivo. Fred e Ábila não se movimentam? Verdade, mas são maníacos por marcar um gol. Causam medo na zaga adversária e prendem volantes. Jogar sem pontas, sem centroavante, sem encurralar a presa nos quinze primeiros minutos de jogo, para resolver logo a parada, pode até funcionar num torneio de mata-mata, mas não pode ser regra. “Bota ousadia, Mano!”.

Desculpem as ovelhas doutrinadas pela aldeia, vulgo Lourdes Press, que na ânsia de tentar diminuir o Cruzeiro, repete em mantra: “Perder para o Grêmio, que vem jogando o melhor futebol do Brasil há dois anos, é um resultado normal”. NORMAL para quem, cara pálida? Aceitar uma DERROTA como um resultado normal é assinar o atestado de atleticanização.

Estamos numa situação delicada na Libertadores Raiz, é vero. Mas somos Cruzeiro e jogaremos juntos novamente. Não tenha dúvida disso, Mano! Por outro lado, pedimos que coloque em campo o que nos falta desde 2014: ousadia, criatividade e obsessão por marcar gols.

Se assim for, nesta quinta, quando o juiz apitar o início da partida contra a Universidad de Chile, reconstruiremos a aura do dia 30 de julho de 1976, quando, na mesma Santiago, demos o sangue até conquistar a América pela primeira vez.

Agora é colocar todos (jogadores e comissão técnica) para assistirem ou ouvirem as histórias daquela épica conquista. Entender por que a indignação por um empate ou derrota precisa ser regra quando se serve à instituição da camisa azul com cinco estrelas bordadas no peito.

Chegou a hora de evocarmos a alma criativa de Roberto Batata. Surpreender como um verso perfeito de um Poeta Azul. Enchermo-nos da obsessão de Palhinha e  Jairzinho por marcarem gols, muitos gols, quantos gols forem preciso para derrubar o adversário na lona o quanto antes possível. Se mesmo assim não for suficiente, lançarmo-nos de peito aberto na ousadia de Joãozinho a materializar o inacreditável. 

Esperamos que, nesta quinta, não estejamos frente a um time que ache normal perder para o Grêmio, empatar no Chile ou que espere o adversário falhar para que, aí sim, se der, buscar um gol.

Não foi assim que o Cruzeiro construiu na América do Sul a alcunha de La Bestia Negra. Portanto, Mano, aos seus comandados, fica o pedido: entrem e vençam, nem que seja pela honra da alma de Roberto Batata.

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