Gustavo Nolasco
None

DA ARQUIBANCADA

VAR para PQP!

Se fosse o Dedé no escanteio, ele se deixaria empurrar na pequena área? Ele perderia a cabeçada? Misericórdia de Deus, O DEDÉ IRIA FICAR PEDINDO VAR?!

postado em 20/06/2018 08:00 / atualizado em 19/06/2018 23:23

Jorge Gontijo/Estado de Minas - 03/05/1987


Sou do tempo em que injustiça na Seleção Brasileira foi a sofrida por Niginho Fantoni nas mãos de Mussolini e Getúlio em 1938; por Dirceu Lopes nas garras de Zagallo em 1970; por Carlos Alberto Silva na canalhice de Ricardo Teixeira em 1989 e por Balu e Careca nas alucinações de Lazaroni em 1990.

Desculpem os modernos, mas terminar um jogo do Brasil numa Copa do Mundo e o assunto ser o juiz ter pedido ou não o tal do VAR no gol da Suíça está no mesmo nível de um glutão, ao degustar a melhor feijoada do planeta, eleger a laranja como a parte mais saborosa.

Pior do que ver o ex-futebol mágico do Brasil se transformando num enlatado europeu barato de contra-ataques, só mesmo perceber o quanto o esporte mais popular e democrático do mundo está se contaminando pela geração X-Y-Z. Onde imediatismo, virtualidade das experiências humanas e enredos escritos por algoritmos estão assassinando a conta-gotas a magia do improvável, do drible, da molecagem na entrada da área, da geral a R$ 5,00, do banzé de tapas e pontapés provocado pela rodinha de “olé” após o sexto gol.

A nova geração de torcedores é um “a(VA)ta(R)”. Se pudesse, ficava no camarote de costas para o campo, escutando Spotify e, de vez em quando, jogando no Google “Brasil+Suiça Copa 2018” para assistir um youtuber com cabelo cor de tangerina narrando o placar. Afinal de contas, vai que eles correm o risco de olhar para o campo e sair um inacreditável gol de bicicleta sem tempo de fotografar e postar no Instagram...

Voltemos ao que deveria ser a vida real de um boleiro: se fosse o Dedé no escanteio, ele se deixaria empurrar na pequena área? Ele perderia a cabeçada? Misericórdia de Deus, O DEDÉ IRIA FICAR PEDINDO VAR?!?! Obviamente, não sou a favor de erros de arbitragem, mas sendo um cruzeirense multicampeão, não me presto ao papel ridículo de fazer disso um trauma ou “destaque da rodada”. Mas querem mesmo falar de injustiças em Copa do Mundo?

Depois de Telê Santana, Carlos Alberto Silva poderia ter sido o segundo maior técnico da história da Seleção Brasileira se não fosse a tal da “injustiça”. Pergunte a Romário, Bebeto, Dunga, Taffarel, Raí, Neto, Jorginho e tantos outros craques, quem os lançou no escrete nacional com a magnífica “Seleção de Prata” de 1988. Pergunte a Careca (maior parceiro da carreira de Maradona) e a Ronaldo Fenômeno qual treinador lhes deu a primeira chance no futebol profissional? 

Carlos Alberto Silva era brilhante. Um mestre da humildade sempre a incentivar jovens joias do futebol. Em 1989, tudo caminhava para ser ele o comandante na Copa do ano seguinte, mas eis que surge Ricardo Teixeira na CBF, apoiado por pulhas como Eurico Miranda. A máfia carioca não permitiria a terceira Copa seguida conduzida por um mineiro. Inventaram Sebastião Lazaroni e seu líbero, mais uma covardia europeia importada pelo futebol brasileiro. Ídolos celestes como Balu e Careca não tiveram a mínima chance. Injustiçados, assistiram a Bismarck’s da vida indo para a Copa de 1990. 

Arquivo Estado de Minas - 02/08/1988

O absurdo cometido por Zagallo contra Dirceu Lopes em 1970 é unanimidade como a injustiça mais canalha da história do esporte bretão. O segundo maior camisa 10 do futebol brasileiro foi vítima da conhecida covardia daquele treinador que aceitou o papel de traidor frente ao que a ditadura militar fez a João Saldanha.

Lá no fundo do baú de injustiças na Seleção Brasileira está mais um gênio. Em 1938, Niginho Fantoni, o primeiro ídolo e craque da história do Cruzeiro/Palestra, estrearia na semifinal da Copa do Mundo substituindo Leônidas da Silva. Mas, por ter se negado a lutar pela Itália na Guerra da Abissínia, foi impedido de ser escalado no escrete do Brasil, num nebuloso conchavo entre Mussolini e Getúlio Vargas.

Melhor parar por aqui porque, enquanto eu escrevia essa crônica sobre injustiças, o youtuber de cabelo cor de tangerina mergulhava numa piscina de Nutella, sob o delírio virtual em likes e hashtags, para bater a marca de 100 milhões de acessos em seu canal.

Dúvida? Pede o VAR.

Siga-me no Twitter @gustavonolascoB

Jorge Gontijo/Estado de Minas - 1987 -

Tags: VAR para PQP! da arquibancada gustavo nolasco selefut copa2018 futinternacional futnacional interiormg cruzeiroec coluna