Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Do abraço de Careca ao Pirata

A metralhadora de Oséas, as flechadas de Moreno, as corridas ensandecidas de Joãozinho, Revetria, Geovanni e Sorín (...) São milhares de gestos marcantes

postado em 25/07/2018 10:00 / atualizado em 25/07/2018 14:38

RAMON LISBOA / EM DA PRESS

“Balu rouba a bola na defesa. Avança. Dispara pelo canto do gramado. Toca para Robson. Dribla o primeiro. O segundo. Acha Hamilton. Careca. Chapelou na pequena área, me Deus! Chutou... TÁ NO FILÓ! GOL DE CARECA!!! Um golaço para o CRUZEIRO!!!!”.

Quando criança magrela do interior de Minas, eu corria pelo campinho de terra do fundo de casa a imitar o Carecones, um dos meus ídolos. Ficava me imaginando como ele, assinando seus gols correndo desengonçado em direção à geral do Mineirão: os braços negros abertos em formato de oração, como quem pedia aos geraldinos celestes um imenso abraço coletivo.

Torcer por esse clube multicampeão vai além das infinitas páginas heroicas e imortais. O cruzeirense guarda com ele também o carinho por alguns jogadores, não só por sua habilidade ou entrega em campo, mas também por imortalizarem assinaturas especiais após gols memoráveis. Gestos que serviram para manter vibrante a imaginação de moleques ávidos por se espelhar em ídolos celestes.

Dos terríveis anos vividos na Arena do Jacaré, além do presente dado pelo Kalil “6 a 1”, ficará para sempre na memória as disparadas de Montillo em seu cavalinho imaginário.

Do saudoso Alex Alves, ficou o choro ainda no gramado por estar se despedindo do Cruzeiro rumo à Alemanha, mas também a comemoração dos gols com gingadas de capoeira ao vento, enquanto nós pulávamos de alegria nas arquibancadas.

Até assinaturas vindas do banco de reservas nos inspiram. Quantos memes fizemos a partir do épico desabafo voador de Adílson Batista na placa de publicidade após a sofrida virada sobre o Santo André?

A metralhadora de Oséas, as flechadas de Moreno, as corridas ensandecidas de Joãozinho, Revetria, Geovanni e Sorín. Da cabeça do Roger Raposão às sassarradas. São milhares de gestos marcantes, ao ponto da batida de asas, lançada por Paulinho Mclaren e repetida por Kléber e Cia, contra a soberba da torcida do sapatênis ficar até quase sem importância frente ao nosso universo de símbolos imortalizados.

Para ser cruzeirense é preciso ter a memória de um supercomputador, pois haja espaço para guardar tantas lembranças. São milhares de arquivos repletos de títulos. Dezenas de HDs para registrar dados de craques e ídolos que envergaram o manto sagrado. É ter calos nos pés e o calçado furado de tantas voltas olímpicas. Uma agenda sem fim para guardar tantos fatos felizes.

Domingo passado, ao virarmos sobre um dos milhares Atléticos, visitei esses meus arquivos da memória. Daí surgiram essas assinaturas imortalizadas, a corrida de Careca pedindo um abraço. Vibrávamos no Bar do Loro, reduto cruzeirense em Manaus, ao gol anotado por Barcos. Seu gesto de tapa-olho foi a senha para entender por que sempre quis vê-lo marcando um gol com o manto sagrado das cinco estrelas.

O Pirata não nos deu só a vitória. Ele iniciou o caminho para entrar na nossa história de artistas, que ao terminar a obra sublime do futebol, o gol, assinam suas pinturas como algo que povoará a imaginação das novas gerações de meninos cruzeirenses. Ávidos por ter um ídolo para ser imitado.

Twitter: @gustavonolascoB

Tags: cruzeiroec