Poupar ou não poupar? Eis a questão. Abandonar um campeonato onde somos tetracampeões por nossa tradição copeira ou sacrificar o elenco em prol do nosso dom de nascer para ser multicampeão? Daqui até o embate contra o Flamengo, pela Copa Libertadores Raiz, essa será a discussão no seio na nação azul. Mas para um clube onde não existe milagres e sim história, nunca é tarde para relembrá-la.
Desde 1921, nossa trajetória combina ciclos de operários a cimentar o caminho que, aos poucos, foram nos transformando em gigantes. A década de 1980, desprezada por alguns, é exatamente o início de preparativo para a glória. Por isso, um grupo de torcedores criou o evento “De operários a gigantes” para celebrá-la, hoje (às 19 horas, na Rua dos Pampas, 262, em Belo Horizonte), quando irão homenagear ídolos deste período de transição, entre eles, o genial Careca.
Aqui rendemos nossa homenagem a esses soldados que cimentaram o caminho para as glórias dos anos de 1990.
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1993 foi o ano da confirmação da profecia. O Cruzeiro era mesmo o Rei de Copas, eternamente temido.
A sequência da primeira Copa do Brasil, combinada com o “bi” da Supercopa 91/92, há 26 anos, já era prova do que todos sabem hoje: o Cruzeiro é o único clube grande de Minas Gerais e um dos poucos gigantes da América do Sul.
A trinca de copas foi um presente aos valetes da segunda metade da sofrível década de 1980. Um reconhecimento à geração que se sacrificou para plantar a semente que germinaria e daria frutos pelos pés de outros jogadores.
O Cruzeiro de 1986 a 1990 representou o mesmo que a Geração de Prata do vôlei para os campeões de Barcelona; o Ricardo Prado da natação para Gustavo Borges; a seleção de Telê para Romário e Ronaldo.
A trinca de copas 91/92/93 foi um “muito obrigado” aos soldados de 86/90. Ao 2 de espadas, eterno ídolo Balu; ao 6 de paus, Genílson; ao curinga William Douglas; ao 5 de Ademir e à sequência de ouros: Róbson7, Heriberto8, Hamilton9, craque Careca10 e Édson11.
Alguns deles ainda sentiram o gostinho de algum instante da tríplice conquista, como Ademir, Douglas e Édson, mas a renovação feita no elenco das Supercopas deixou alguns céticos questionando a capacidade do novo baralho a ser organizado pelo crupiê Pinheiro em 1993. Éder e Edenilson não eram nomes campeões, como Renato Gaúcho e Betinho, mas tinham a obrigação de manter a sina que se construía.
No decorrer da Copa do Brasil de 93, o Cruzeiro foi deixando de ser aposta de azarão para ganhar a confiança dos espectadores daquele imenso cassino. Derrubou excelentes adversários de cartas como São Paulo e Vasco. Chegou à final contra o Grêmio que tinha nas mãos a mais badalada carta do jogo: o moleque Dener. Os gaúchos eram favoritos e tinham o melhor jogador do Brasil.
Nesse triste mundo da atual geração que assiste ao Campeonato Francês e decora nome de jogador russo, dificilmente haverá um torcedor raiz capaz de lembrar do quanto Dener era um craque tão habilidoso e de uma simpatia infinitamente superior a dos atuais tiradores de selfie, como Neymar.
Equilibramos a primeira rodada da final do carteado ao empatarmos em 0 a 0 com o Grêmio, no Olímpico. Veio o jogo final e na derradeira distribuição de cartas, um susto: não tínhamos o nosso 4 de ouros, Luizinho e a CBF nos tiraram o maestro da carta 8, Boiadeiro, levado para a Seleção Brasileira em meio à decisão nacional.
Pararíamos Dener?
O nosso valete de longos cabelos, Roberto Gaúcho, se encarregou de dar as cartas: 1 a 0. Um Pingo indesejado molhou, como água fria, a mesa e o Grêmio empatou. Mas tínhamos um curinga inesperado. Enquanto todos apostavam ser Éder a cartada final, a jogada de mestre veio do 9 de espadas, Cleison.
Vencemos! Já em 1993, o Cruzeiro era definitivamente o Rei de Copas, quando ainda nem sonhava em ser pentacampeão do Brasil.
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