Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Cruzeirenses, FDPs!

Artigo primeiro - o povo decreta que o antigo logradouro 'Praça Sete' passa ser denominado 'Praça Seis a Um'

postado em 24/10/2018 08:30 / atualizado em 24/10/2018 09:32

Leandro Couri/EM/D.A Press
Na adolescência, em dia de jogo do Cruzeiro contra times internacionais ou de outros estados, eu me dava uma missão tática: rondar a porta do hotel Othon Palace. Quando o primeiro jogador adversário colocava o nariz para fora do hall de entrada, eu partia em disparada como o ninja Arrascaeta e começava a lançar xingamentos com voz de taquara rachada.

O Othon, nas décadas de 1980/1990, foi o hotel preferido dos clubes que vinham a Belo Horizonte nos enfrentar. Já xinguei Rúben Paz do Racing, o técnico Passarella do River Plate, e até um Flamengo de Zico, Leonardo e Bebeto. Porém, noutras vezes, fiquei plantado horas e ninguém apareceu para me enfrentar. Quando isso acontecia, não dava o braço a torcer. Ia embora, com o peito magrelo estufado, me intitulando vencedor por W.O.. Pegava o ônibus para a Toca da Raposa 3, me achando gigante como um Dedé Monte Everest.

Quarta-feira passada, o Othon não hospedou nenhum adversário do Maior de Minas; eu estava longe sendo hexacampeão no Itaquerão e o que ecoou até o 29º andar do imponente prédio da avenida Afonso Pena não foram xingamentos. Concomitantemente ao triste anúncio do fechamento desse ícone da nossa capital, seus arcos de vidro refletiram mais uma festa popular, a sua última dentre dezenas de outras das quais foi testemunha, também protagonizadas pela torcida do Time do Povo.

Naquela noite, numa das janelas do Othon, uma moça carioca, portelense de alma azul e branca, se encantou com o estalar dos primeiros fogos no longínquo horizonte da periferia da Zona Leste. Achou lindo o clarão aumentando gradativamente, como estrelas cadentes. Pensou ser a comemoração de um “dia de santo”.

Fez-se meia noite. Deitou e tentou dormir no exato momento em que, a milhares de quilômetros dali, o apito de um juiz iniciaria a sua insônia. BH explodia e o Othon não escondeu sua alegria, para surpresa daquela moça.

Ela acordou cansada da festança alheia, ainda sonolenta e com os cabelos desgrenhados a lembrar Clara Nunes, a mais mineira de todas as portelense e que um dia foi aluna de música de Jadir Ambrósio, autor de nosso hino.

A moça foi tentar despertar com um café na “Praça Seis a Um”. Ficou sabendo que não era data de santo. Era dia de hexa! O Cruzeiro, um time azul como a sua Portela, havia conquistado o Brasil.

Quando se deu conta, ela viu a praça se transformar. Lavada por uma tempestade, foi se enchendo de bandeiras, alegorias, bateria de tambores, um trio elétrico repleto de passistas e uma taça a refletir o por do sol. Aquele povo todo pulava como se estivesse a desfilar numa avenida ao som do samba-enredo da sua escola azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira.

Amor, sorria, ô ô ô, um novo dia despertou
E lá vou eu, pela imensidão do mar
Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar

A moça se perdeu naquela massa. Subiu - como a águia de sua escola - as sacadas do Maletta para os brindes. Por fim, foi derramar-se novamente no Othon. Por lá, deixou o testemunho de amor ao agora seu Cruzeiro: “Minas Gerais tem mar e dos azuis, é o maior!”.

Já do outro lado do seu quarto, reinava o silêncio na Prefeitura de Belo Horizonte. As ondas do mar de povo ficaram longe para não se esbodegar no sapatênis da turma inquilina daquele prédio. Em tempos de política acirrada, melhor nem expor a verdade da supremacia do Cruzeirão Cabuloso a gente afeita ao Anelka Fake News...

Já era noite quando ainda pipocavam curtidas dos Kalilminions ao seu tweet: “cruzeirenses, FDPs”. Por essas e outras “brincadeiras”, nós cruzeirenses decidimos por não deixar o prefeito de fora da festa e encerramos a noite do nosso décimo título nacional com um agradecimento.

Obrigado, prefeito, por nos ter eternamente como “FDPs”. Para sempre lembrará que não conseguiu destruir os (F)esteiros (D)a (P)raça (S)eis a Um.

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