Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Cruzeiro 2019: procuram-se sombras

Edílson, Egídio, Henrique, Thiago Neves e outros titulares consagrados e fundamentais necessitam urgentemente de uma sombra fungando no cangote

postado em 28/11/2018 08:00 / atualizado em 27/11/2018 21:06

Juarez Rodrigues/EM/D. A Press
 Qual jogador reserva do Cruzeiro foi inesquecível? Implorado para resolver um insistente 0 a 0. Pronto para fazer o titular absoluto começar a correr dobrado só de olhar para o banco e vê-lo aquecendo sob os aplausos da arquibancada. Sem eles, talvez muitos dos títulos não teriam vindo ou mesmo alguns campeonatos não teriam sido perdidos ou abandonados por falta de fôlego ou vontade dos medalhões.

Desde 1986, quando, ainda criança, adentrei a Toca da Raposa 3 pela primeira vez, guardo a mania de olhar para o banco de reservas do Cruzeiro antes do início do jogo. Perceber a presença de bons jogadores ali me dá alívio. Assim, aprendia a me familiarizar com Ernani, Wanderley e o habilidoso menino Jerry, prontos para entrarem nas suspensões do ídolo Careca ou nos apagões do tanque-gol Hamilton e dos velozes Róbson e Édson.

De 1988 a 1990, o magro Ramon, goleador dos minutos finais. Se titular fosse, nunca fazia gol. Mas se começasse no banco e lá pelos derradeiros instantes da partida fosse chamado pelo treinador, a torcida já comemorava a plaquinha de substituição como um tento anotado. Ele não falhava!

Vieram outros tantos reservas fundamentais a partir da década de 1990. Ronaldo Fenômeno, aos 16 anos, começou “banco” de Cleisson, que, por sua vez, havia sido sombra para os “Gaúchos” na máquina da Supercopa de 1992. Plantel que ainda teve o folclórico Tôto, artilheiro da temporada, mesmo nunca sendo titular nos grandes jogos.

No time limitado da Libertadores de 1997, os garotos Donizete Amorim, Da Silva e Alex Mineiro entravam em todas as partidas. Fábio Júnior (2000), Maicon, Luisão, Zinho, Martinez, Motta e Márcio Nobre (2003); Leo, Tinga, Ricardo Goulart, Júlio Baptista (2013) e Dagoberto e William (2014). Todos eles, em algum momento das temporadas, foram sombras nos elencos campeões.

Até mesmo ídolos de nossa história. O saudoso Zé Carlos chegou para ser reserva de um meio de campo de Piazza, Dirceu Lopes e Cia. Em 1976, a dor da perda de Roberto Batata, só não se fez ainda mais traumática porque existiam sombras como Eduardo Rabo de Vaca e Ronaldo Drumond, que foi fundamental nos três gols da batalha de Santiago contra o River Plate.

Verdade é que um time consistente, com 11 titulares motivados e compromissados em nunca diminuir o ritmo, independentemente da competição e do adversário, depende muito de outros 11 bons reservas.

O Palmeiras, campeão brasileiro deste ano e semifinalista da Copas do Brasil e Copa Libertadores está aí para confirmar. Foi um plantel repleto de sombras. Possuía quatro “camisas 10” com condições de serem titulares; os dois melhores laterais esquerdos da temporada anterior e um ataque onde o pior dos finalizadores anotou mais gols que o artilheiro do Cruzeiro no Brasileirão.

“Fomos hexa, qualé!”. Sim, fomos! Mas sejamos realistas. Das três disputas, o caminho mais curto era exatamente o da Copa do Brasil. Menor não é sinônimo de mais fácil. Moleza por moleza, o Brasileiro era o mais “mamão com açúcar” pelo nível medonho de quase todas as equipes deste ano. Porém, fato é que não tínhamos um plantel com sombras suficientes para vencer tudo, como foi projetado no início do ano.

Abandonamos o Brasileiro ainda no primeiro turno e caímos nas quartas de final da Libertadores por falta de peças tanto para suprir ausências quanto para fazer sombra aos medalhões, que muitas vezes, deitaram em berço esplêndido.

Edílson, Egídio, Henrique, Thiago Neves e outros titulares consagrados e fundamentais necessitam urgentemente de uma sombra fungando no cangote, pronta para assumir a titularidade à primeira sequência de cruzamentos errados, ao primeiro trotezinho quando o adversário é apenas um “três pontos” num longo Brasileirão.

Para 2019 não precisamos de um craque para buscar no aeroporto. Ao escrete do Hexa se deve somar o Time da Sombra. Onde, dependendo do ângulo do sol, ele passa a ser maior do que quem lhe projeta. Dando o alívio necessário para o Cruzeiro se manter equilibrado ao longo da temporada para realmente conseguir ser “campeão de tudo”.

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