Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Não VALE molecagem. Não VALE hipocrisia

Em homenagem ao cruzeirense apaixonado Pedro Aihara, o porta-voz dos guerreiros do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, e aos mortos pela lama de Mariana e Brumadinho, dedico meu sonho de um dia ver cruzeirenses e atleticanos juntos na luta contra os responsáveis por essas atrocidades

postado em 06/02/2019 08:00 / atualizado em 05/02/2019 21:13

Fábio Júlio/Foto gentilmente cedida ao Estado de Minas e ao Superesportes
 No dia 28 de fevereiro de 2016, o céu chorou granizo no Mineirão para receber um clássico inédito. Dois times marcados pela dor, trauma e indignação. De um lado, um esquadrão verde e branco. Do outro, um escrete de azul e grená. Corações machucados por um crime cometido - três meses antes - contra eles.

No gramado, São Bento e Paracatu fizeram a preliminar de Cruzeiro e América. Times das comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, devastadas pela lama da Samarco/BHP/VALE no dia 5 de novembro de 2015, na minha cidade, Mariana.

O resultado (2 a 1 para o São Bento) pouco importou. A lição daquele clássico foi a de que a paixão pelo futebol deve sim servir de respiro, de alento, para uma gente (a minha gente) que até hoje luta por justiça, mas que jamais deve servir de cúmplice da HIPOCRISIA que alimenta o submundo da ganância.

Nos três anos entre o crime de Mariana e a barbárie de Brumadinho, absolutamente nada de efetivo foi feito para julgar os culpados, endurecer a legislação ambiental ou para exigir fiscalização e investigação sobre outras barragens. Pelo contrário, assim como numa cera ou retranca, tudo foi cozinhado no anti-jogo do entrosadíssimo Clube Lobbystíco Poderosos e Políticos S.A. 

Brumadinho trouxe de volta a indignação às mentes e discussões de um país que já havia se esquecido de Mariana. Até mesmo o mundo do futebol passou a olhar para essa tragédia anunciada em Minas Gerais. Porém, hipocrisia de lado, nesse meio tempo, nenhum clube mineiro, seja ele o gigante Cruzeiro ou os seus dois adversários da capital; nenhum jogador ou dirigente dos três militou, lutou ou colocou seu capital de mobilizar multidões para que algo fosse feito antes da carnificina do dia 25 de janeiro de 2019.

Nenhum dos conselhos deliberativos de Atlético de Lourdes ou Cruzeiro cobrou dos deputados, senadores e governadores, que são torcedores ou conselheiros, uma postura pública em prol de justiça ou no caminho de servir à luta por uma legislação mais dura contra as tragédias do modelo brasileiro de mineração. 

Thiago Neves pediu perdão pela postagem imbecil nas suas redes sociais? Louvável! Porém, como morador do Vetor Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, ele poderia inverter e se colocar como porta-voz da luta contra o descontrole sobre outras barragens, que inclusive, podem romper a qualquer momento bem perto de sua própria casa.

Por outro lado, o zagueiro do “6 a 1” Réver, que correu para arrotar contra a infelicidade do colega de trabalho, procurou saber se algum sócio das empresas que patrocinam o seu clube e consequentemente, pagam seu salário, estão envolvidos com mineradoras que se beneficiaram de manobras escusas na Assembleia Legislativa?

Errou o 10 cruzeirense por seu ato de insensibilidade e inconsequência, dignas de um juvenil. Mas o que dizer dos hipócritas da comunicação do outro clube que usaram as redes sociais para rebater a imbecilidade numa ação de marketing próprio?

O Cruzeiro deveria sim punir de alguma forma seu jogador. Dar um exemplo para os pequenos cruzeirenses, cidadãos que muitas vezes se formam espelhando em seus ídolos. Da mesma forma, mães e pais atleticanos deveriam exigir punição para quem incita a homofobia disfarçada de “brincadeira” ou a diretorias que exibem camisa de um acusado de estupro como troféu.

Em homenagem ao cruzeirense apaixonado Pedro Aihara, o porta-voz dos guerreiros do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, e aos mortos pela lama de Mariana e Brumadinho, dedico meu sonho de um dia ver cidadãos comuns, cruzeirenses e atleticanos, juntos e misturados, lutando para impedir que a hipocrisia sirva de máscara, sustentando o jogo maléfico entre a política e o poderio econômico, causador dessas atrocidades. 

O futebol sem indignação por “brincadeiras” idiotas não VALE! VALE muito menos se continuar sendo o idiota útil e hipócrita para quem vive e se sustenta da ganância.

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Fábio Júlio/Foto gentilmente cedida ao Estado de Minas e ao Superesportes


Fábio Júlio/Foto gentilmente cedida ao Estado de Minas e ao Superesportes

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