Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Soy Cruzeiro por ti, Deportivo Lara

Os jogadores do Cruzeiro deveriam comandar 40 mil aplausos para os guerreiros venezuelanos até que o apito do juiz nos separe

postado em 13/03/2019 08:00 / atualizado em 13/03/2019 09:33

<i>(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro )</i>

Seria só mais um passo para manter a escrita de ser o único brasileiro incaível na fase de grupos da Copa Libertadores. Ou mesmo apenas uma partida para pedir goleada maiúscula. Mas para quem é apaixonado por futebol ou faz loucuras para acompanhar o seu clube amado por onde ele for, é impossível passar ileso à dramática saga do Desportivo Lara para estar em campo na noite desta quinta-feira.

A Venezuela sempre foi o patinho feio do futebol sul-americano. Ela e a Bolívia são os únicos países que nunca tiveram um clube disputando as fases finais de uma edição da Libertadores. No máximo, beliscaram uma oitavas de final do certame. 

Na época da Libertadores Raiz, quando só campeões e vices de cada país a disputavam, no sorteio para chaveamento dos grupos, toda torcida esperava a sorte de enfrentar algum venezuelano ou boliviano. No caso de sair um adversário da Venezuela, o alívio era ainda maior, pois nem a temida altitude das cidades bolivianas viria pela frente.

O Cruzeiro, por exemplo, desde a sua primeira participação na Libertadores, em 1967, enfrentou times venezuelanos por quatorze vezes. Venceu doze e empatou duas. Uma barbada de 52 anos.

Mas na noite de amanhã, na Toca da Raposa 3, mais uma vez repleta de torcedores azuis, no pré-jogo, será desumano desmerecer a agremiação do Deportivo Lara, seus jogadores, dirigentes, torcedores e por que não, todos os seus conterrâneos venezuelanos.

Mesmo sabendo o quanto o episódio está envolto numa crise humanitária e ao mesmo tempo, num sórdido jogo político de chantagem das grandes economias mundiais, prefiro ficar longe da discussão para além da esfera esportiva. Não caberá questionar os que sempre lutaram contra a ditadura militar no Brasil e que agora apoiam o regime imposto pelo presidente venezuelano. Tampouco deixar o estômago embrulhar só de pensar nos que elegeram o atual presidente do Brasil, tão afeito à tortura e à milícia, agora se colocando como baluartes do fim da ditadura no país vizinho. Quando vejo esses falarem, me lembro daquela velha tia metida a entender de tudo, no auge da finalíssima de um campeonato, entrar na frente da televisão e perguntar: “O que é impedimento?”. 

Por isso, nesta quinta-feira, entrego-me somente à magia do futebol! A epopeia dos venezuelanos para estarem em campo contra o maior clube brasileiro da história da Libertadores, o nosso Cruzeiro “La Bestia Negra”, pede honrarias à altura da nossa história de academia, de futebol arte, da troca de passes e gentilezas.

Na noite de amanhã, ávido por mais um momento histórico da instituição Cruzeiro, sonharei com uma entrada em campo triunfal. Nossos jogadores surgindo no túnel, de mãos dadas com os atletas venezuelanos, os conduzindo até o centro do gramado. E lá, os colocando em local de destaque e puxando uma salva de 40 mil palmas azuis pela vitória deles terem chegado ali a tempo de simplesmente jogar futebol.

Depois disso, limpando as lágrimas de emoção e orgulho de ser Cruzeiro, quando começar a girar os 90 minutos de batalha no Gigante da Pampulha, voltarei a ser mais um louco nas arquibancadas. Gritando por três pontos. Pedindo “mais  um” a cada gol. Sonhando em ir para casa com a delícia de uma goleada. Seguindo firme no propósito de empurrar o manto sagrado até o tri da Copa Libertadores. 

Sendo assim, Deportivo Lara, serei por você até que o apito do juiz nos separe, pois quando a pelota rolar, yo soy Cruzeiro y nada puede detenerme!

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