Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Macalé não, Osvaldo!

Cruzeiro está pronto para jogar como uma orquestra, onde além de um elenco com excelentes músicos, temos três maestros

postado em 27/03/2019 09:14 / atualizado em 02/04/2019 17:24

<i>(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro )</i>

A peleja de logo mais na Toca da Raposa 3 é pela caminhada rumo ao tão sonhado Tri da Libertadores. Extremamente decisiva para a Academia Celeste abrir vantagem e rumar para ser o primeiro lugar geral da primeira fase. Mas...

Thiago Neves está fora, recondicionando a parte física. Quem vestirá a 10 que um dia pertenceu a Dirceu Lopes e Alex? Mancuelo! Fred e Raniel machucados, darão lugar ao esforçado Sassá. Nenhum matador restará no banco de reservas.

Edílson e Egídio suspensos, fora, na rua. Iremos de avenidas: Ezequiel e Marcelo Hermes. Lucas Silva já deixou a concentração e, por ordem do Real Madrid, foi-se pelo além mar. Bruno Silva assumirá a titularidade absoluta na cabeça de área.

Na noite de ontem, chegou um comunicado da Conmebol determinando mais um jogo de suspensão para Dedé. Manoel já conversa com Mano Menezes.

Para piorar, o cupido mercenário flechou o uruguaio sem caráter e lhe entregou à sua “cara metade”, o Clube (Globo) Regatas (Container) Flamengo (CBF). O mais rápido que temos para substituí-lo pelas beiradas será o vovô garoto Rafael Sóbis. Pulei da cama como se estivesse à beira da morte. O coração parou e nem tive forças para dar um grito de horror. Só quando a patroa me sacudiu, percebi se tratar de um pesadelo.

– “Estamos em qual ano?”, perguntei.

– “2019”, ela respondeu.

Não era mais 2018. Deixei os 120 quilos caírem aliviados de volta ao colchão. Peguei o smartphone e fui rever o concerto musical de sábado passado, no 5 a 0 contra o Patrocinense.

Muito mais do que assistir um atípico Cruzeiro rolo compressor sob o Manobol, o resultado de mais um jogo-treino pela Country Cup serviu para mostrar o quanto o elenco está diversificado. Bem diferente do time forte, taticamente impecável, mas de elenco fraquíssimo do ano passado. Motivo pelo qual fomos campeões sim, mas do torneio que nos demandou menos esforços e partidas.

O menino cruzeirense Dodô e o colombiano Orejuela estão fungando no cangote dos medalhões das laterais. Dando fim, inclusive, à sofrência da improvisação na vida de Lucas “Perro” Romero, que finalmente, está na volância, fazendo a meiuca ser mais disputada do que habeas corpus para político corrupto.

No ataque, Dom Fredom está de volta, balançado a rede e o coração da gente. Ele é artilheiro mesmo. Quanto à velocidade nas pontas, quando vê Marquinhos Gabriel bailando por todos os espaços, David finalmente (aleluia, meu Senhor do Bonfim!) desencantando nos dribles, assistências e gols, e a experiência de um Rafinha para os momentos de segurar um resultado, ainda existe alguma viúva do Judas?

A estrela brilhante desta constelação de reforços para encorpar o elenco de 2019 está onde mais se preza a história do Cruzeiro/Palestra: na maestria, no cérebro, na habilidade do futebol bem jogado, na potência de um clube multicampeão, ou seja, na camisa 10.

Se jogar sem Thiago Neves ou Robinho era um drama em 2018, motivo pelo qual, inclusive, não avançamos em campeonatos mais longos como a Libertadores e o Brasileirão, agora temos equilíbrio. Rodriguinho vem transformando o meio de campo do Cruzeiro numa orquestra! Onde além de um elenco de excelentes músicos, temos três maestros.

Em 1991, o Cruzeiro tinha um time espetacular, um dos maiores técnicos de sua história, mas um elenco limitadíssimo. Assim como em 2018, foi campeão. Levantou sua primeira Supercopa Libertadores. Mas ficou a três pontos de manchar a sua história com uma Série B.

Quem viveu aquela época como eu, no interior, ouvindo o meu Cruzeiro pela voz do maior narrador do mundo, o monstro sagrado Alberto “Vibrante” Rodrigues, se lembra do Seu Ênio Andrade carrancudo quando o time não ia bem. Ele olhava desolado para o banco de reservas e sempre chamava a única opção, um meio-campo recém-promovido da categoria de base.

Quando o garoto correria para receber as orientações do treinador, de pronto o barulho do rádio traduzia a imagem do Vibrante quase de joelhos, implorando clemência e soltando um apelo ao comentarista Osvaldo Faria: “Osvaldo... Macalé não, Osvaldo...”. Ufa, passou.

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