O futebol para o brasileiro é o melhor motivo para iniciar uma conversa. A outra pessoa não precisa ser da mesma cidade nem torcer para o mesmo clube que você. Basta citar o resultado de um jogo da última rodada para que a prosa seja longa e sedutora.
O assunto varia de acordo com os últimos resultados. Um gol de placa é sempre mais sedutor do que uma bela defesa. Uma goleada chama muito a atenção. Um lance polêmico abre algumas linhas de discussão. Se por um lado o uso da imagem nos dará resultados mais honestos, por outro diminuirá o tempo da resenha por lances duvidosos.
Alguns jornalistas gastam muito tempo fazendo análises táticas das partidas.
Talvez para mostrar que eles sabem mais do que os seres normais, que somente torcem para que o seu artilheiro marque um gol no adversário. Nunca gostei deste tipo de abordagem, pois torna o futebol muito burocrático e matemático. Gosto de estatística, mas para justificar uma visão emocional da partida, nunca o contrário. Comecei a escrever esta coluna em 2011, mais precisamente no mês de junho. Na minha segunda coluna, citei o último jogo do campeonato de 2003 e o tanto que o meu filho gostava do Mota, pois iríamos jogar contra o Bahia, na Arena do Jacaré. Em todo este período, foram em torno de 300 colunas.
Tive a oportunidade de escrever, junto com o meu parceiro Bruno Mateus, o livro do campeonato de 2013. Um prazer incrível pesquisar sobre o clube, suas histórias e nossos ídolos. Escrevi o livro achando que tão cedo não ganharíamos outro campeonato como aquele, mas, para nossa surpresa, isso aconteceu mais rápido do que o esperado.
Uma das coisas que mais me orgulharam durante todo esse tempo foi ver meu nome na capa do maior jornal de Minas, principalmente relatando as nossas conquistas. Era como se tivesse marcado o gol do título. Toda vez que isso acontecia, me lembrava do meu avô, Henrique Furtado Portugal, médico sanitarista, que ajudei durante muito tempo a distribuir, pelo correio, sua coluna para jornais pelo interior. Era a continuidade de um legado familiar que guardo com carinho.
Sempre gostei de escrever sobre o Cruzeiro, mesmo não sabendo muito de futebol. Sou um apaixonado torcedor que gosta de colocar em palavras a emoção que sinto pelo manto azul estrelado. Escrevi sobre momentos alegres, títulos, dúvidas e crises. Sempre preservando o mais importante, a paixão pelo clube. Os dirigentes passam, os jogadores entram e saem, mas o torcedor fica.
Citei todos esses fatos porque cheguei à conclusão de que meu ciclo neste espaço chegou ao fim. Assim como às vezes precisamos trocar de técnico, está na hora de um outro torcedor ocupar o meu lugar.
Gostaria de agradecer aos leitores pelo carinho e, especialmente, ao Carlos Marcelo, que teve a coragem de colocar um músico para escrever semanalmente sobre sua paixão pelo clube do coração.
Um grande abraço a todos.