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COLUNA DO JAECI

Parem de forçar a barra por Neymar

Sua educação esportiva (de Neymar) é péssima. Debocha dos adversários, joga os árbitros contra a torcida, cai o tempo todo e fica olhando para o juiz. Messi e Cristiano Ronaldo não fazem isso

postado em 25/02/2018 12:00 / atualizado em 25/02/2018 12:00

AFP / CHRISTOPHE SIMON
Um dos maiores jogadores da história da França, Thierry Henry declarou esta semana que se Neymar quiser ser melhor que Messi terá de mudar de esporte. Muitos brasileiros, que tentam transformar Neymar no melhor jogador do mundo antes do tempo, ficaram indignados. Eu não fiquei. Entendo muito bem a mensagem de Henry, pois realmente não há como Neymar superar o argentino. Messi é de outro planeta, por tudo o que fez e faz em campo. Quatro vezes campeão da Champions League, cinco vezes o melhor do mundo, mais de 500 gols na carreira, dribles e gols geniais, um gentleman em campo, que não debocha dos adversários, não os humilha, exceto com dribles desconcertantes, e que jamais forçou uma situação para ser o melhor do planeta. Perdeu cinco vezes para Cristiano Ronaldo, outro extraterrestre, e mostrou-se digno o tempo todo. Aliás, na minha visão, como escrevi na Bomba de ontem, vejo o francês Griezmann e o belga De Bruyne em patamar superior a Neymar no momento. A carência de craques brasileiros nos faz ver pelo em ovo. Neymar pode até atingir seu objetivo, mas terá que mudar seu comportamento dentro de campo, jogar muita bola e ganhar uma, pelo menos uma Champions, sozinho como fazem Cristiano Ronaldo e Messi. Quando a gente diz sozinho é força de expressão. A gente diz porque os caras sempre foram e são decisivos, carregam o time nas costas.

É sabido que o Campeonato Francês é um Campeonato Mineiro melhorado. O Espanhol também não fica atrás. Então, como avaliar os jogadores? Pelo que eles fazem na Champions League. Até aqui, Neymar não desequilibrou, não encantou, não fez nada de anormal. Quando estava ao lado de Messi, no Barça, ainda aparecia um pouco mais. Porém, no PSG, não brilhou em nenhuma partida contra adversários mais fortes. Quero muito ver Neymar recuperar a hegemonia para o Brasil de melhor do mundo, mas ele terá que fazer por onde. Até aqui, não me convenceu. É sim o nosso único craque, mas longe, muito longe de Messi e Ronaldo. Além disso, sua educação esportiva é péssima. Debocha dos adversários, joga os árbitros contra a torcida, cai o tempo todo e fica olhando para o juiz. Messi e Cristiano Ronaldo não fazem isso. Jogam bola, balançam as redes e dão a resposta assim. São tão caçados quanto Neymar, mas respondem com jogadas e gols geniais.

O Brasil melhorou da água para o vinho com Tite, mas ainda está abaixo de muitas seleções da Europa, como Alemanha, França, Espanha, Portugal e Bélgica. Claro que a camisa canarinho pesa, mas se não tiver futebol, não leva. Lembram-se quando os brasileiros contaram o hexa como certo após a conquista da Copa das Confederações, em 2013? Pois é, eu disse que aquilo era ilusão e que os europeus não dão a menor importância para a competição. Não deu outra: na Copa do Mundo não jogamos nenhuma partida boa e levamos aqueles 7 a 1 dos alemães, que tiraram o pé no segundo tempo. A maior humilhação da gloriosa história da Seleção. E olha que boa parte dos fracassados estará na Copa da Rússia. De repente, transformaram Daniel Alves, Marcelo, Thiago Silva, Paulinho, Fernandinho e Willian em monstros do futebol. Calma, gente! São os mesmos que nos entregaram em 2014. Será que quatro anos depois eles melhoraram tanto assim? Reconheço em Marcelo um grande lateral, no Real Madrid. Porém, lá ele joga mais à frente e marca mal. Na Seleção, é o inverso: tem que marcar primeiro para depois atacar. Por isso, não rende o mesmo. Daniel Alves está na descendente. Nunca gostei do seu futebol. Fernandinho e Paulinho são normais e entregaram meia dúzia dos sete gols da Alemanha, e Thiago Silva é aquele que já nos entregou até em Copa América. Willian também não jogou nada em 2014. São essas as contestações que faço ao trabalho de Tite. Para que tentar recuperar jogadores fracassados na Seleção?

Com a visão de analista que sou, deixando sempre a paixão de lado, não vejo o Brasil com esse cacife todo para ganhar a Copa. Tivemos dificuldades ao enfrentar a Inglaterra em Wembley, em novembro, sendo que o time inglês estava com 11 reservas. Imaginem o que não vamos encontrar em Moscou, dia 23, e em Berlim, dia 27, nos dois últimos amistosos antes de Tite mandar a lista dos 23 jogadores que irão ao Mundial. E esse negócio de ele mandar recado pela imprensa, dizendo que jogador A ou B já está convocado, não me agrada. Jogador tem que ser confirmado em campo, por suas atuações na Seleção e no clube. Claro que 85% do grupo ele já tem na cabeça, mas tem que motivar os que sonham com a Copa do Mundo e esperam uma chance. Torço muito para que o Brasil fique mais forte, em condições de ganhar a Copa. Porém, sou pés no chão. Há 50 anos no esporte bretão, 34 como jornalista, já vi muita coisa, inclusive o que jamais imaginei ver: o Brasil levar de 7 a 1 numa semifinal de Copa do Mundo, dentro da nossa casa. Um pesadelo que vai me perseguir até o dia em que eu partir dessa vida terrena.