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COLUNA DO JAECI

Frio, neve e futebol no país da Copa

Que o clima daqui faça Tite repensar algumas decisões que terá que tomar. Ainda há tempo de tirar do grupo jogadores fracassados em 2014

postado em 19/03/2018 12:00

AFP

Moscou –
Aqui estou, depois de 12 anos. Estive aqui em 1º de março de 2006, sob uma temperatura de 20 graus abaixo de zero, naquele Rússia 0 x 1 Brasil, gol de Ronaldo – tínhamos a dupla de ataque formada pelo Fenômeno e Adriano. Kaká também jogava, assim como Roberto Carlos, Lúcio, Emerson, Edmílson, Gilberto Silva e tantas outras feras. Lembro-me que antes da decolagem, de volta ao Brasil, estávamos sentados lado a lado eu, Roberto Carlos e Ronaldo. A pista coberta, tratores tirando montanhas de neve e os trabalhadores mandando jatos de água quente na turbina do avião. Ronaldo estava morrendo de medo. Decolamos debaixo de uma nevasca e demoramos muito para sair da camada espessa de neve. Quando vimos o céu, deu um grande alívio. O goleiro naquele jogo era Rogério Ceni. Wendell, o treinador de goleiros, pôs um termômetro no gramado e a temperatura passou dos 20 graus negativos. Agora não está diferente. Desembarquei aqui com 11 graus abaixo de zero, frio pra “encardir”, como dizemos em Minas Gerais. O jogo de sexta-feira será nosso penúltimo teste antes de Tite entregar a lista dos 23 jogadores que estarão aqui na Rússia, no Mundial. Dia 27, terça-feira da semana que vem, em Berlim, jogaremos contra a Alemanha, em nosso primeiro jogo contra os bávaros depois daquela humilhante derrota de 7 a 1 na Copa do Mundo do Brasil em 8 de julho de 2014, no Mineirão.

Acho um pouco temerário jogarmos debaixo de neve. Embora o palco do espetáculo seja o belíssimo Luzhniki, estádio da abertura e da final da Copa. O técnico Tite convocou dois jogadores que jamais chamou: Anderson Talisca e Willian José. Mais parece uma dupla caipira. Como Tite está com o moral elevado, não houve contestação. O problema é que ele não poderá abrir mão de pôr em campo o que há de melhor, sob o risco de o time perder e deixar o torcedor apreensivo. Como vai testar esses novatos, então? Acho que ele vai analisá-los nos treinos e na concentração. Como se comportam com o grupo. Com 17 jogadores definidos por ele mesmo e garantidos no Mundial, restariam seis vagas para que uns 15 jogadores briguem por elas. Ele chamou o goleiro Neto. Alguém acredita que Neto vá jogar contra Rússia ou Alemanha? Temos Alisson, titular absoluto, Ederson, reserva imediato, e Cássio, campeão do mundo com Tite, no Corinthians, que deverá ser o terceiro goleiro. Também não acho que vá barrar Gabriel Jesus para por Willian José. Talvez o centroavante do Real Sociedad jogue uns minutinhos. Mas Firmino é o reserva imediato de Jesus. Acho que Tite tem o direito de escolher e testar quem ele quiser, mas o momento é inoportuno. Depois desses dois jogos, o Brasil terá apenas dois amistosos, em Liverpool e Viena, antes de estrear no Mundial. E em amistosos, antes da Copa, ninguém põe o pé pra valer. Portanto, se ele tem alguma dúvida, vai tirá-la vendo o comportamento dos jogadores nos treinos e no convívio, pois, em campo, nesses jogos aqui, eu duvido.

Moscou continua bela como sempre. Apesar do frio e da neve, vale a pena caminhar pelas ruas da cidade, principalmente pelo Kremlin. Não sou nenhum espião, mas lembro-me muito bem do período da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial até 1991, data da extinção da União Soviética. Nossa visita aqui é por causa do futebol, mas reviver aquilo que aprendemos nos livros é sempre interessante. Li alguns sobre a Guerra Fria. Confesso que nas décadas de 1970 e 1980 eu temia uma terceira guerra mundial, deflagrada por União Soviética e Estados Unidos. Felizmente, o diálogo prevaleceu. E com o fim do comunismo e a queda do Muro de Berlim, em 1989, tudo ficou mais calmo. Enquanto o Leste Europeu se conscientizou de que o comunismo não levaria a lugar nenhum, no Brasil tem gente querendo caminhar na direção contrária. Já disse que o Brasil é verde e amarelo, jamais vermelho. A cidade está bonita. A menos de três meses da Copa, está bem arrumada e preparada para receber as delegações, turistas e jornalistas. A Rússia abrirá suas portas para o mundo e, tenho a certeza, com muita hospitalidade.

Que o clima daqui faça Tite repensar algumas decisões que terá que tomar. Ainda há tempo de tirar do grupo jogadores fracassados em 2014. Sei que isso não vai acontecer, mas que seria bom para o nosso time, isso seria. Paulinho, que encantou o Barcelona em seus primeiros jogos, já amarga o banco e não tem mais a aceitação que veio depois da rejeição. Ele voltou a ser rejeitado pelos torcedores do Barça e pelo técnico Valverde. Sinal de que não podemos nos iludir com jogadores que arrebentam contra seleções sul-americanas, mas que na hora do vamos ver se omitem. Temos dois testes para que Tite reflita e decida sua lista final. Eu tiraria dela o zagueiro Thiago Silva, pouco confiável e que já entregou a Seleção em algumas situações. Para seu lugar, daria chance a Geromel, que aqui está, e traria Jemerson para o Mundial. Marquinhos e Miranda são os titulares. Cada brasileiro é um técnico em potencial. Cada um tem sua seleção. Porém, se fizermos uma pesquisa, 85% dos convocados por Tite, serão os nomes dos “técnicos” Brasil afora. Amanhã eu volto, falando um pouco mais de Seleção e do país da Copa.

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