Muita neve e treino fechado

Moscou – Mais um dia de muito frio e neve na linda Moscou. O treino da Seleção foi fechado aos jornalistas, um hábito do técnico Tite de uns tempos pra cá. Como se o Brasil tivesse uma arma secreta que os adversários não conhecem. Deve ser para ensaiar a tal jogada que eles chamam de “bola parada”. Que saudades de Telê Santana e Carlos Alberto Silva. Com eles a gente via tudo e suas equipes jogavam bola de verdade. A modernidade trouxe técnicos com discursos elegantes, bonzinhos, que se acham os “papas”, mas que, na verdade, não sabem muito de bola. O discurso está na ponta da língua, mas suas equipes não mostram nada em campo. Tite mostrou alguma coisa desde que assumiu, mas ainda estamos longe do ideal, mesmo a menos de 90 dias para a Copa do Mundo. Depois do treino fechado, Willian e Philippe Coutinho deram entrevista, onde um elogiou o outro. Nada de relevante, como sempre.

Fui à Praça Vermelha, lugar belíssimo, mais importante ponto turístico de Moscou, gravar meu programa Papo de bola com Jaeci Carvalho, para meu canal de Youtube. Debaixo de flocos de neve, falei tudo sobre a Seleção e os amistosos de amanhã, contra os donos da casa, e terça-feira, contra a Alemanha, em Berlim. Acredito que somente amanhã Tite fará observações importantes, mesmo assim, diante de um adversário de porte médio. A Rússia não é isso tudo, mesmo sendo a dona da casa. Já em Berlim, a banda deve tocar diferente, já que será nosso primeiro jogo contra os alemães depois dos 7 a 1, de 2014. Não adianta a gente não querer lembrar daquele fatídico 8 de julho, pois, quando falamos em Alemanha, o que vem à nossa cabeça não é o título mundial em cima dela, em 2002, e, sim, aquele jogo que manchou a imagem da Seleção Brasileira perante o mundo. Joachim Low tem apenas oito atletas convocados que jogaram aquela partida. A Alemanha se reforçou ainda mais, revelou novos talentos e tem uma equipe fantástica. É a mais forte candidata ao título. Vamos torcer para que nós e eles passemos em primeiro lugar nos grupos em que estamos para não nos cruzarmos nas oitavas de final. Seria ruim demais. Como o futebol de hoje está nivelado por baixo, não asseguro que o Brasil passará em primeiro lugar num grupo com Suíça, Sérvia e Costa Rica. São os novos e péssimos tempos do nosso futebol.

Enquanto caminhava pela Praça Vermelha e pelo Kremlin, debaixo de neve, fui observando o comportamento das pessoas. Os turistas que me viram gravando perguntaram-me se eu era brasileiro e logo um deles perguntou se Neymar estaria inteiro na Copa. É a nossa expectativa. Porém, estamos jogando a responsabilidade toda nas costas dele. Será que ele vai suportar? Em 2014, uma lesão nas costas o tirou do Mundial. Agora, a menos de três meses do início da Copa, recupera-se de cirurgia. Curioso como os russos não sabem quem é Neymar. Os taxistas, que não falam uma palavra em inglês, não o conhecem. Mostrei fotos, mas eles nada sabiam sobre nosso único craque. Já Ronaldo Fenômeno e Pelé todos conhecem. Viram a diferença? Esses dois jogos aqui no Velho Mundo servirão para Tite montar uma Seleção mais compacta, coesa e menos dependente de Neymar. Ele é nosso único e grande craque, mas há quem aposte que Coutinho vá brilhar mais que ele. Se tivermos dois jogadores acima da média, aí sim dá pra começar a sonhar com a taça. O problema é que atuamos praticamente contra adversários da América do Sul. Deveríamos ter enfrentado mais seleções europeias nos amistosos. Porém, não havia data nem adversários disponíveis.

Tropecei numa pequena montanha de neve que se formou na entrada do meu hotel. Essa mania de andar de cabeça baixa, olhando o celular para ver o que está acontecendo no mundo, dá nisso. Tento me lembrar como fazíamos quando essa tecnologia não existia. Sou da época do telex. Viajávamos para o exterior e ficávamos na fila, com outros jornalistas, esperando a hora de mandar nosso material. Meus filhos me perguntaram o que era um telex. Eu, meio sem graça, respondi, brincando, que era como mandar uma mensagem por fumaça. Eles entenderam menos ainda. E aqui vai um conselho aos turistas e torcedores brasileiros que virão aqui para Moscou: usem o aplicativo Uber. É mais seguro, mais barato e eficiente. Tenho andado diariamente e não tive o menor problema, exceto quando meu motorista, ontem, fechou um carro da polícia e fomos parados. Meu coração veio na boca, pois eles não falam nada em inglês. Depois de mostrar sua documentação, nosso motorista foi liberado e eu fiquei mais tranquilo. Aqui, a polícia dá medo. Talvez semelhante a alguns maus policiais do Rio de Janeiro.

E o nosso Pelé seria homenageado no jogo de amanhã, mas cancelou a viagem de última hora, alegando problemas de saúde. É melhor preservar o Rei e deixá-lo curar os problemas físicos que o impedem de andar normalmente. E o frio aqui não faria nada bem ao atleta do século. Bem, por hoje é só. Amanhã, minha amiga Kelen Cristina estará ocupando este espaço, que é dela sempre às sextas-feiras. Na coluna de sábado vou abordar o jogo Rússia x Brasil. Espero poder escrever sobre uma bela atuação do time brasileiro.