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COLUNA DO JAECI

Jogadores em helicópteros, longe do povo

Não custava nada os caras desembarcarem no Galeão, passar pelo saguão do aeroporto, dar autógrafos, tirar fotos e entrar no ônibus que os levaria para Teresópolis

postado em 23/05/2018 12:00 / atualizado em 23/05/2018 09:08

LUCAS FIGUEIREDO / CBF

Até 1986, havia um movimento de nacionalismo no Brasil, principalmente em período de Copa do Mundo. Pintávamos as ruas, as caras, o “sete” para ver o Brasil jogar. Torcíamos por uma Seleção que se identificava com o povo, que vivia perto da gente, que dava autógrafos, tirava fotos, caminhava pelas ruas, junto do povo. Os tempos mudaram no país e no futebol. Vivemos uma violência sem fim. Sessenta mil mortes por arma de fogo ou branca todos os anos. Governos e governantes corruptos. Vereadores, deputados e senadores roubam o dinheiro da merenda escolar, da educação, da saúde, da ambulância. Ninguém fala mais na Máfia dos “anões do orçamento”. Tem gente vivendo daquele roubo, em Miami, até hoje. E a Seleção Brasileira, tão respeitada e representada por Pelé, Zico, Reinaldo, Cerezo, Ronaldo, Romário e tantos outros gênios da bola, maltratada por técnicos enganadores, que têm discurso afiado na ponta da língua. Os jogadores não têm a menor identidade com o povo brasileiro. Tomaram 7 a 1 no ombro e foram curtir férias nos paraísos mundo afora: Ibiza, Mônaco, Saint-Tropez... Vergonha na cara? Nem pensar. Quatro anos se passaram e a Seleção já está na Granja Comary, pronta para outro Mundial.

Os jogadores chegam em helicópteros, na minha visão, uma afronta ao povo brasileiro, que vive na miséria, ganhando salário-mínimo de fome. Não que eles não tenham esse direito. Nada disso. São milionários, têm dinheiro para sustentar sua 10ª geração. Porém, o momento do Brasil não é esse. O momento é de humildade. De se confraternizar com o povo, de estar perto dele e sentir suas necessidades. Não custava nada os caras desembarcarem no Galeão, passar pelo saguão do aeroporto, dar autógrafos, tirar fotos e entrar no ônibus que os levaria para Teresópolis. Porém, preferiram o helicóptero. A ostentação no país do faz de conta vale mais. Sei que não é culpa dos jogadores. Edu Gaspar, hoje todo poderoso, foi quem providenciou a ida deles pelos ares, para ganhar, segundo ele, preciosos minutos na preparação. Edu pensou certo, mas não é o momento de isso acontecer. Os jogadores precisam se aproximar do povo, receber e dar carinho. O momento do país é delicado e requer o mínimo de atenção.

Vejam que este ano a coisa está fria. Os torcedores não têm o prazer de decorar e pintar as ruas. De expor a bandeira brasileira nas janelas. Todo mundo está reprimido, desgostoso com tudo o que está acontecendo em nosso país. E, é claro, aqueles 7 a 1 ainda doem, e muito. Se os seis jogadores que estão no time de Tite e que estiveram naquele fracasso em 2014 já esqueceram, bom para eles. O povo não esqueceu. Foi humilhante, ultrajante, terrível! A Copa do Mundo sempre renovou nossas esperanças de um país melhor, de uma vida melhor, e a nossa Seleção, maior patrimônio esportivo do povo brasileiro, era tratada com carinho ímpar. Era nosso orgulho. Não é mais.

Espero que realmente essas viagens em helicópteros, esse excesso de gente na comissão técnica (46 membros), essa clausura dos jogadores, nos traga a Copa do Mundo, pois, se isso não acontecer, esses caras correm o risco de nem poder desembarcar em qualquer aeroporto brasileiro, pois a vaia será ecoada mundo afora.  Entendo também a boa vontade de Edu, mas ele, que foi jogador, está pensando como tal e não como gestor. Aliás, Edu nunca esteve num Mundial, nem como jogador, nem como gestor. Será sua primeira Copa e os erros vão acontecer. Repito: vejo em suas decisões sempre a boa vontade de querer o melhor para o grupo, mas ele está errado e só vai perceber isso se houver um fracasso. Aí todos vão se lembrar que os jogadores chegaram em helicópteros, que não estiveram perto do povo, que não deveriam levar suas famílias para o Mundial. Tomara que não aconteça, pois queremos o hexa para nos dar um pouco de alento, num país tão maltratado como o nosso.

E não adianta abrir o último treino aos torcedores, e os jogadores tirarem fotos, darem autógrafos e abraçar os que estiverem em Teresópolis. Que saudade de Zico, Falcão, Cerezo, Romário, Ronaldo, Cafu. A gente combinava uma entrevista exclusiva e os caras iam aos nossos quartos, conversar com a gente. Sabiam a importância que isso tinha para eles e para os torcedores. Hoje, o que vemos é o técnico Tite privilegiando determinada emissora de TV, dando entrevistas exclusivas, quando seu assessor de imprensa disse que depois de março ele não falaria mais com ninguém de forma reservada. Mentira. Que eles saibam que a mesma emissora que teve o privlégio da exclusiva, vai meter o cacete se o título não vier. É assim que funciona. Gosto muito de Tite. Acho-o um cara sério, sincero, honesto e que olha nos olhos. Porém, ele tem que entender que dirige o maior patrimônio esportivo do povo brasileiro e esse não tem que ter privilégios ou deferências. Tem que ser igual com todos e para todos.

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