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COLUNA DO JAECI

Seleção chega amanhã. Um mundo à parte dos problemas do Brasil

O Brasil é candidato ao título, como em todas as edições. É preciso que saibamos, entretanto, que conosco estão Alemanha, Argentina, França e Espanha. Recuperamos um pouco do nosso futebol com Tite

postado em 27/05/2018 12:00

Lucas Figueiredo/CBF
Londres – Voltar à Terra da Rainha é sempre um prazer. É bem verdade que não fui convidado para o casamento do príncipe Harry com a Meghan, mas assisti a tudo pela tevê. Casamento real é imperdível. Brincadeiras à parte, meu compromisso aqui também é nobre, pois vou estar acompanhando a Seleção Brasileira em seu segundo estágio antes da Copa. Semana passada, ela esteve na Granja Comary, no primeiro momento. Chegará aqui amanhã, onde ficará treinando por duas semanas, concentrada no CT do Tottenham, fará amistoso dia 3, em Liverpool, contra a Croácia, e dia 8 vai a Viena encarar a Áustria. No dia 10, segue de lá direto para Moscou e dali para Sochi, onde fará a terceira e última fase da preparação para a estreia na Copa do Mundo, contra a Suíça, dia 17, em Rostov. Desta vez, como antecipei ontem, não cobrirei apenas a Seleção Brasileira, como fiz nos seis últimos mundiais. Ficarei baseado em Moscou, acompanhando tudo o que vai rolar na Copa. Uma vontade que eu tinha há algum tempo e que se concretiza agora.

O Brasil é candidato ao título, como em todas as edições. É preciso que saibamos, entretanto, que conosco estão Alemanha, Argentina, França e Espanha. Recuperamos um pouco do nosso futebol com Tite no comando do grupo, mas ainda nos vejo distantes de outras equipes. Voltamos a ser respeitados, pois depois dos 7 a 1 da Copa passada nosso orgulho foi na lama. Não concordo com alguns convocados, mas a lista de Tite não poderia fugir muito disso. Vejo o Brasil carente nas laterais e vou explicar o motivo: Marcelo é o melhor lateral-esquerdo do mundo, mas no Real Madrid joga apoiando. Não marca bem. Dos gols que o time merengue leva, 70% são em cima dele. Danilo e Fagner são fracos. Daniel Alves era outro que não marcava. Se não tivermos uma grande cobertura dos volantes, a coisa pode desandar. Não confio em Renato Augusto. Pode ser ótimo de grupo, mas o futebol é fraco. Philippe Coutinho tem jogado bem, e espero que Neymar, nosso único talento, possa estar sem medo e totalmente recuperado da cirurgia no pé. E que ele tenha cuidado, pois os adversários, quando o marcarem, vão querer tocar no pé operado. É preciso que a arbitragem esteja de olho, em cima do lance. O ser humano é maldoso por natureza e joga sujo para conquistar objetivos. Não deveria ser assim, mas é, infelizmente.

Não concordo também com essa questão de os jogadores poderem levar familiares e amigos para Sochi. Não temos essa cultura e não sabemos distinguir a linha limite. Em 1998, na França, tivemos conhecimento de mãe de jogador importante ligando para a concentração às 2 da madrugada para pedir providências para a carne do churrasco. Os caras foram convocados para uma missão: representar o Brasil no Mundial. Não custa ficarem 30 dias concentrados no objetivo. Depois da missão cumprida, terão todo o tempo do mundo para se divertir com mulheres, filhos e amigos nos famosos balneários europeus. O que não falta é grana e glamour. Lamento que nessa comissão técnica não tenha uma pessoa experiente, que tenha ido a uma Copa do Mundo, para conhecer o que ocorre. Edu Gaspar, coordenador, tem as melhores das intenções, mas está errando ao abrir esse precedente, como errou ao perder a sede de São Petersburgo para ficar em Sochi. Erros que podem custar caro ao time brasileiro.

Mas o Brasil chegará à Rússia respeitado pelo futebol dos últimos jogos. Um time que leva poucos gols – pelo menos nos amistosos. Não confio em Thiago Silva e acho Marquinhos baixo, embora tenha boa impulsão. Apesar da idade avançada, gosto de Miranda e acho que Geromel poderia ser o parceiro dele na zaga. Meu goleiro seria Fábio, do Cruzeiro. Sei que Alisson é elogiado por todos, mas tenho um pé atrás com ele. Não vi no Brasil as pessoas empolgadas com a Copa. E não poderia ser diferente. A greve dos caminhoneiros mostrou um Brasil bem próximo da Venezuela, com falta de combustível e alimentos. Um caos. Por isso eu disse que num país tão maltratado, com políticos corruptos e ladrões, os jogadores chegarem em helicópteros é uma provocação, um acinte a um povo oprimido, que ganha míseros R$ 900 de salário mínimo. O futebol já foi nosso orgulho e uma espécie de válvula de escape. Porém, com o nível técnico ruim e com a falta de identificação da Seleção com o povo, tornou-se uma coisa fria, gelada, que nem mesmo a proximidade do Mundial consegue quebrar esse gelo. Uma pena, pois ainda detemos o título de pentacampeões do mundo e vamos em busca do hexa. Não sei se estaremos na final, no Estádio Luzhniki, em 15 de julho, mas a esperança é a última que morre. Somos brasileiros uai!

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