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COLUNA DO JAECI

Tempos sombrios no futebol brasileiro

Tem que acabar com essa maracutaia de presidentes de clubes e diretores de futebol fazerem negociações e contratações dividindo comissão com empresários. Isso é uma promiscuidade

postado em 29/11/2018 12:00

Michel Filho / Agencia O Globo

A TV Globo está demitindo a torto e a direito. Com a possibilidade de perder 90% da cota de publicidade do governo federal e com a possível abertura da “caixa preta do BNDES”, sugerida pelo novo presidente da República, Jair Bolsonaro, a coisa vai feder para a “platinada de Vênus”, como diria um ex-deputado federal. Por isso mesmo, a emissora está renovando com alguns medalhões, pagando 1/3 do que pagava, mandando embora gente de qualidade e contratando garotos, fraquíssimos, ganhando uma miséria. Basta vermos os programas esportivos dos canais a cabo para percebermos o péssimo nível dos apresentadores e repórteres. Por isso mesmo, há tempos não assisto mais nada. O futebol é um mundo de ilusão, onde técnicos ganham R$ 800 mil, R$ 1 milhão, por mês e os jogadores, no mesmo nível. Enquanto os clubes vivem quebrados, implorando adiantamento de cotas de TV para pagar esses salários milionários. E a maioria dos times têm futebol de qualidade duvidosa. Os patrocínios de estatais ainda salvam alguma coisa, mas a mamata vai acabar.

O Tribunal de Contas da União (TCU) quer barrar o patrocínio da Caixa Econômica Federal aos clubes de futebol. Atualmente, Atlético-PR, Botafogo, Coritiba, Flamengo, Londrina, Paraná, Santos, Fortaleza, Ceará, Sport, Vitória, Bahia, Atlético, Cruzeiro, Avaí, Sampaio Corrêa, Paysandu, Goiás, América, CRB, Atlético-GO e Vila Nova são patrocinados pela estatal. Acho ótimo, pois um banco estatal deveria investir na saúde, educação, segurança, não em clubes de futebol. Com um ativo de R$ 2 trilhões, a Caixa teve um faturamento de R$ 113 bilhões em 2017, e um lucro de R$ 12 bilhões. Só mesmo no Brasil, que pratica juros extorsivos, um banco ganha tanto dinheiro. Os privados têm lucro até maior. Os clubes de futebol têm que se transformar em empresas, ter donos, para que aprendam a se gerir e trabalhem com orçamento próprio, sabendo onde o calo aperta. Não dá mais para, no século 21, termos clubes com o pires na mão, implorando adiantamento de cotas de TV.

Não vejo outra alternativa a não ser os clubes virarem empresas, terem donos, que vão contratar CEOs para geri-los. É assim que acontece na Europa e já passou da hora de copiarmos. Na década de 1990, as empresas chegaram ao Brasil para fazer tal composição, mas esbarraram em dirigentes desonestos, que pegaram a grana do clube e misturaram com a que não tinham, ficando ricos. Lembram-se de Edmundo Santos Silva (foto), ex-presidente do Flamengo? Foi preso por desviar milhões da suíça ISL e, no ato de sua prisão, disse: “Não sou um bandido comum para ser algemado e entrar num camburão”. Ele tinha razão. Quem rouba mais de R$ 100 milhões não é mesmo um bandido comum. As empresas fugiram do país ao perceber que a maioria dos dirigentes de clubes não era gente séria. Agora, com a mudança de governo no Brasil, com gente comprometida com a honestidade e sinceridade, é possível que as multinacionais voltem a investir por aqui e queiram comprar os clubes de futebol.

Tem que acabar com essa maracutaia de presidentes de clubes e diretores de futebol fazerem negociações e contratações dividindo comissão com empresários. Isso é uma promiscuidade. Claro que há presidentes sérios, que não entram nisso, mas há uma turma aí que é da pesada. Alguns chegam a dizer que não é ilegal, pois o dinheiro da venda do jogador entra diretamente no clube. Eles faturam em cima da comissão do empresário. Porém, se não é ilegal, é, no mínimo, imoral. Isso só acontece porque os clubes não são empresas. Se fossem, o presidente seria um CEO, remunerado, que não praticaria tal ato. Acho que os torcedores de bem, não aqueles que vivem mendigando ingressos com suas facções, deveriam fazer manifestações exigindo que o clube tenha dono, vire empresa, seja superavitário. Não dá mais para o balanço mostrar números negativos, deixando os clubes quase quebrados. Ou o futebol brasileiro se moderniza nesse quesito ou vai continuar agonizando por anos e anos, com o poder concentrado em duas ou três equipes e as outras apenas figurando nas competições.