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COLUNA DO JAECI

A irresponsabilidade dos dirigentes brasileiros

Os dirigentes, amadores que são, pois não recebem para presidir os clubes, gastam o que têm e o que não têm, fazendo média com a torcida

postado em 17/12/2018 12:00 / atualizado em 17/12/2018 08:43

AFP / CRISTINA QUICLER

Os clubes brasileiros vivem mesmo no país da fantasia e da ilusão. Quando vejo equipes interessadas em repatriar Paulo Henrique Ganso (foto), percebo o quanto os dirigentes são irresponsáveis com o dinheiro alheio. Ganso é um excepcional artista com a bola, espécie “foca de circo”, mas péssimo jogador do ponto de vista de ajudar o time. Foi para o Sevilla, vendido a peso de ouro, e não conseguiu jogar lá. Emprestado ao Amiens, da Segunda Divisão Francesa – que é o lixo do lixo, já que a Primeira Divisão é fraquíssima –, também não consegue ser titular. Aí a gente abre os jornais brasileiros e lá está a disputa de São Paulo, Internacional, Flamengo e outros clubes pelo atleta. Uma brincadeira de mau gosto.

Primeiro que a transferência dele deve custar uma boa fortuna. Segundo, ele não viria com salário inferior a R$ 1 milhão mensais. E o retorno que ele dá é zero. Ganso fez três cirurgias no joelho e não consegue ter uma grande sequência. Lembro-me da Olimpíada de Londres, quando ele ficou no grupo, sem treinar e sem jogar. Perguntem a Mano Menezes, que era o técnico da equipe.

Os dirigentes, amadores que são, pois não recebem para presidir os clubes, gastam o que têm e o que não têm, de forma irresponsável, fazendo média com a torcida. É inadmissível contratar um funcionário que não dá retorno. Duvido que eles contratariam para suas empresas. Os clubes gastam dinheiro que não têm, de forma absurda, e, no fim, o resultado é o jogador encostado, sem produzir pelo que recebe. Não adianta nenhum clube do Brasil e do mundo insistir com Ganso. Ele será isso que temos visto de 2011 pra cá. Surgiu como o grande camisa 10 da Seleção Brasileira, mas não vingou. Habilidade ele tem de sobra, mas o futebol moderno não comporta um atleta como ele.

Será que os dirigentes não enxergam que não há grandes jogadores no mercado e que os poucos que existem estão no exterior e custam os olhos da cara? Só há uma solução para o nosso falido futebol: investir pesado nas divisões de base, formando gerações vencedoras. Sempre foi assim, nas décadas passadas, mas atualmente os dirigentes preferem gastar o que não têm, contratando jogadores de péssimo nível.

Outro dia, conversando com um dirigente de um clube de São Paulo, ele me disse: “Aponte um zagueiro, um volante, um camisa 10 e um atacante para eu contratar”. Até tentei, mas não achei nenhum nome de qualidade. Vejam os senhores e senhoras, a que ponto chegamos. E é assim com lateral-direito, esquerdo e por aí afora. A safra é péssima há algum tempo, e os salários, absurdamente altos.

Um médico, que estuda a vida toda para salvar vidas, assim como um cientista, que descobre tanta coisa em prol da humanidade, e os professores, que nos educam e nos formam, ganham salários de fome. Enquanto um jogador, a maioria analfabeta, ganha fortunas. É muito injusto.

Eles dizem que um “médico, um cientista, um professor não enchem estádio para vê-los atuar”. Uma ignorância, peculiar aos jogadores de futebol. É inadmissível um país quebrado como o Brasil, com 60 mil mortes por armas de fogo por ano, um dos mais corruptos do mundo, pagar fortunas a técnicos e jogadores. Vejam que aqui eles nadam de braçada, mas na Europa não têm espaço. Mal, mal, conseguem enganar na China e no Japão.

Se eu fosse presidente de um clube, formaria um cartel e determinaria o teto salarial de R$ 100 mil mensais para o melhor jogador e o melhor técnico. E já acho muito. Ou os clubes enxergam essa realidade, ou, em breve, os estádios estarão vazios e os jogadores não conseguirão mais atrair ninguém. Só mesmo um bobo, ou quem não viu o futebol de verdade, para gastar seu suado dinheiro para ver um jogo do esporte bretão. O nível técnico do futebol brasileiro é dos piores do mundo e ainda tem gente querendo vender um produto que não existe. Acordem, clubes!

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