
Cabe aos acusadores o ônus da prova. É assim que diz o Direito. E cabe aos acusados, depois que as provas são mostradas, defender-se perante a polícia e a Justiça. Eu acredito que fora do cargo os dirigentes do Cruzeiro teriam mais tranquilidade para se defender. Que ponham alguém interinamente nos cargos e que mostrem a transparência ao torcedor. Não adianta fazer entrevista coletiva justificando o que não se pode justificar, pois, segundo o delegado responsável pelo caso, a investigação acontece há meses e as provas são robustas. Também não é ameaçando empresa A ou B, ou profissional C ou D, que se resolverá a questão. A tranquilidade deve ser o ponto de partida para qualquer defesa. Será difícil para atual diretoria, por exemplo, entrar no Mineirão para assistir a um jogo do Cruzeiro sem que receba vaias dos torcedores ou que sejam até interpelados por eles. Até por questões de integridade física, é melhor que eles se mantenham afastados.
Por enquanto, há acusações gravíssimas e o indiciamento dos acusados pode acontecer a partir do momento em que o delegado que conduz as investigações assim entender. Não se pode condenar ninguém sem que o processo assim o diga. Eles podem até estar condenados pela opinião pública, pois, no Brasil, se condena apenas pela notícia, mas todos têm o direito a ampla defesa. Se provarem que estão isentos e que as acusações não procedem, que voltem aos cargos e toquem o clube. Porém, se as provas forem contundentes, não há outro caminho a não ser a renúncia coletiva da diretoria e a indicação de um novo pleito, que deve ser marcado pelo presidente do Conselho Deliberativo do clube, Zezé Perrella.
O grande problema seria arranjar alguém que queira assumir uma dívida de R$ 500 milhões. Dívida essa, impagável! Que presidente teria condições de arcar com uma dívida dessas, com o clube totalmente sem dinheiro em caixa? A situação é muito grave e, segundo Ubirajara Glória, ex-membro do Conselho Fiscal, que renunciou, “é uma falência do clube”. O Cruzeiro gastou mais do que tinha e a conta chegou. Não é fácil fazer futebol no Brasil. Flamengo, Palmeiras, Cruzeiro e Grêmio, que têm os melhores grupos, gastaram muito dinheiro pagando salários de Europa numa economia quebrada como a brasileira. O Palmeiras tem uma empresa por trás, que banca a maior parte das negociações. O Flamengo não tem tanto assim. Recebe R$ 15 milhões anuais pelo patrocínio máster do BS2 e as cotas de TV, além da arrecadação dos jogos, pois o Maracanã está sempre lotado nos jogos da equipe carioca. Porém, com uma folha acima dos R$ 20 milhões, em algum momento vai sofrer para pagar essa conta também irresponsável. Diego, Éverton Ribeiro e Gabigol foram repatriados a peso de ouro, um grande absurdo que os clubes cometem. Uma irresponsabilidade! O futebol brasileiro é como Alice: vive no mundo da fantasia e, em algum momento, escândalos vão explodir – como explodiu agora no Cruzeiro. Já disse e repito que a única solução é transformar os clubes em empresas, com CEOs contratados para dar resultados dentro e fora de campo. A receita tem que ser maior que a despesa, se não a conta não fecha. Lembram-se do Fluminense, bicampeão brasileiro em 2010 e 2012? Pois é, era bancado por Celso Barros, dono da Unimed. Bastou ele deixar o clube e hoje a realidade é outra. O Fluminense briga na parte debaixo da tabela, sem a menor chance de levantar taças. Temos exemplos mais longevos. O Palmeiras, em 1992/93, também bicampeão brasileiro, era bancado pela Parmalat. A empresa italiana quebrou e afundou o Verdão junto. O Palmeiras foi rebaixado duas vezes no Brasileirão. A torcida do Cruzeiro espera que seu clube não seja punido com a possibilidade de rebaixamento, mas que tenha ciência que com uma dívida de R$ 500 milhões, meio bilhão de reais, em algum momento vai faltar dinheiro até para pagar salários dos jogadores. Não tenham a menor dúvida disso.